Em retaliação ao que chamou de “traição”, o prefeito de Divinópolis, na Região Centro-Oeste de Minas, Galileu Machado (MDB), exonerou os ocupantes dos principais cargos de confiança do seu vice, Rinaldo Valério (PV). Em uma semana, três nomes de peso foram cortados da folha de pagamento: o do secretário de Esportes, Ewerton Dutra de Mendonça; o do chefe de gabinete, Olinto Guimarães; e o da assessora de gabinete, Martha Helena Tavares.
O estopim para as demissões foram as acusações do líder do Executivo na Câmara Municipal, vereador Eduardo Print Jr. (SD), ao revelar que Rinaldo Valério o procurou na noite anterior à votação da cassação de mandato do prefeito. Classificando como “maior crime da história política” já vivenciada por ele, Print Jr. disse que foi organizado um “motim”, uma “falcatrua”, em uma “articulação maquiavélica”, para tirar Galileu do cargo. Sanções foram prometidas pelo prefeito logo após ser absolvido das denúncias pelo Legislativo. Apesar da declaração, oficialmente o município trata as exonerações como “medidas administrativas” e nega ter relação com o ocorrido.
“A nomeação de cargos em comissão é uma ação discricionária do chefe do Executivo, de acordo com critérios técnicos e de compromisso com a administração Municipal. Diante dessa prerrogativa, o prefeito trata as exonerações de agentes públicos pertencentes ao governo como um processo de caráter meramente administrativo, tendo sempre como propósito oferecer um serviço público dentro de um elevado padrão de qualidade”, afirmou a prefeitura, em nota.
As exonerações são vistas pelo vice como retaliação. Negando ter articulado um movimento pelo impeachment de Galileu, o político enfatizou que se “alguém foi traído, foi ele”. A relação desgastada entre prefeito e vice vem desde as eleições do ano passado. O emedebista teria assumido o compromisso de apoiar a candidatura de Rinaldo Valério a deputado estadual, porém declarou apoio ao vereador do mesmo partido Adair Otaviano.
No mesmo ano, ao anunciar o pacote de contenção de gastos, o prefeito exonerou oito comissionados da Secretaria de Esportes (Selt). “Quantas pessoas da minha confiança ele mandou embora, sem me avisar. (…) Na Selt, eu tinha nove cargos, ele exonerou oito, ficou apenas o secretário, que foi exonerado na semana passada”, desabafa o vice. Mesmo com o clima tenso e com apenas um servidor no gabinete, Valério descartou a possibilidade de renúncia. “De jeito nenhum, não tenho motivo para renunciar. Fui eleito vice-prefeito, trabalhei em uma campanha”, justifica.
“Armação”
Rinaldo Valério também rebateu as acusações do líder do Executivo. "Ele tem interesse em ser o vice do Galileu e armou contra mim para me tirar do processo”, acusa. Sobre a visita a Print Jr. na noite anterior à votação do impeachment, o vice afirmou ter ido lá para dizer que não autorizou ninguém a negociar em nome dele. “Ele é o líder do Governo. Ele tem pessoas amigas dele com cargo de confiança na prefeitura. Eu não seria ingênuo para pedir para ele votar no impeachment”, argumenta.
Lamentando as declarações do vice, Print Jr. registrou boletim de ocorrência por calúnia e difamação. “Ele diz que eu articulei, ele terá que provar”, afirma. O vereador colocou à disposição a quebra do sigilo telefônico e as imagens das câmeras de segurança que mostram Rinaldo Valério na casa dele. A reunião foi marcada pelo assessor do vereador Sargento Elton (Patriota), autor do pedido de impeachment, Felipe Fernandes. “A armação foi feita por esse cidadão, que me ligou duas vezes. Quer ser aprendiz da maldade, tem que arcar com as consequências”, contra-ataca.
Sargento Elton pediu provas que possam confirmar a ilegalidade cometida pelo assessor que ocupa a função de articulador parlamentar. “Se ele tiver cometido alguma ilegalidade, eu o exonero”, promete o vereador do Patriota. Fernandes se limitou a dizer que “não houve nenhum ilícito” e que não vê razões para se manifestar sobre o assunto.
O caso também deverá ter repercussão no Ministério Público. O vereador vai protocolar representação contra o vice-prefeito por ele, supostamente, não aparecer há seis meses na prefeitura para trabalhar. A acusação foi negada por Valério. O político disse que trabalha normalmente e que é um “vice que anda a pé”. “Da rua faço as articulações necessárias para dar andamento às demandas da população”, explica. (Amanda Quintiliano, especial para o EM)