O coordenador da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirmou, nesta quinta-feira (26), que a maioria formada no STF sobre a tese de que delatados têm de apresentar as alegações finais, num processo, após os delatores não está prevista em nenhuma legislação e que, se a Corte optar por esse entendimento, tem de valer para casos futuros e não passados.
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Essa decisão ainda não acabou, pode sofrer uma modulação na próxima semana. O que está em discussão é se corréus, quando eles são delatores e delatados, podem apresentar as alegações finais de modo conjunto, no mesmo prazo, ou se os delatados devem ter a oportunidade de oferecer sua defesa depois dos delatores, como uma expressão do princípio da ampla defesa. Como os delatores, de algum modo, estão implicando os delatados, os delatados teriam a oportunidade de se manifestar por último.
Na sua avaliação, esse julgamento é um mau indício?
Acho que esse caso fala mais do nosso sistema do que da Lava-Jato em si. Porque nosso sistema de Justiça é cheio de brechas, ele gera inseguranças jurídicas muito grandes. Isso afeta não só a Lava-Jato e as investigações criminais, mas o mercado também, quando existe um problema negocial, contratual entre partes. Gera uma insegurança e é um sinal de fraqueza das instituições brasileiras.
Hoje (nesta quinta-feira — 26/9), no STF, o ministro Gilmar Mendes estava chamando o senhor de corrupto, usando as mensagens divulgadas pelo Intercept, que são inválidas. Existe uma onda para acabar com o combate à corrupção?
Não só são mensagens inválidas, mas o teor analisado não indica qualquer ilicitude. Quando surgiram as mesmas conversas iniciais, quando o corregedor do MP analisou, ele disse: ‘Ainda que eu vá ao mérito, não tem nada de errado’. Mais de 200 juízes fizeram abaixo-assinado dizendo: ‘Não, não teve nada de errado nisso’. Então, o que a gente vê nessas divulgações de mensagens é, em primeiro lugar, uma deturpação das mensagens, uma interpretação com a pior luz possível e um enquadramento dentro de uma interpretação da lei que foi a mais favorável possível para os réus. Veja, por exemplo, o que aconteceu quando disseram que a Lava-Jato tinha transposto limites legais para obter informações fiscais. Isso não aconteceu. O que aconteceu foi uma atuação correta dentro do limite da lei. Existem três modos de se obter informações fiscais. O primeiro, é a quebra de sigilo bancário e fiscal; o segundo, é uma requisição, isso é reconhecido; e o terceiro, é quando eu passo informações para a Receita, de modo legal e legítimo, sem quebrar o sigilo fiscal, e a Receita faz uma análise.
Num primeiro momento, os senhores negaram a legitimidade das conversas...
A gente foi hackeado, tem conteúdo verídico, mas quando isso aconteceu, quando esses crimes (de hackeamento) aconteceram, a gente foi orientado a apagar as mensagens para preservar o sigilo das investigações e proteger as pessoas envolvidas nisso, então já não tem mais parâmetro de comparação. E aí eu me pergunto: você lembra de mensagens que trocou há três anos? Não conseguimos lembrar frases específicas, mensagens específicas. A gente lembra de assuntos que conversou e do que aconteceu. E quando eles vêm e formulam acusações falsas sobre o conteúdo, a gente sabe o que não aconteceu. Agora, se você disser aquela frase, e eles estão descontextualizando, deturpando, é algo que eu não consigo evidenciar, porque não tenho a original como parâmetro de comparação.
Qual é a sua expectativa em relação ao novo procurador-geral Augusto Aras?
Embora eu tenha, como procurador natural do caso, independência funcional, e um procurador-geral não possa dizer o que eu vou fazer ou não em um caso concreto, toda equipe que eu tenho ao meu redor é a equipe que foi autorizada pelo procurador-geral. Só na Lava-Jato em Curitiba, somos mais de 60 pessoas. Se tirar, e ficar eu com um conjunto de três ou quatro assessores, isso vai pelo ralo. Então, a primeira coisa que o procurador-geral pode impactar é a estrutura de trabalho. A segunda coisa é: todos os nossos casos vão parar no Supremo.
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