Jornal Estado de Minas

TIROTEIO VERBAL

Após declarações, Janot vira alvo de críticas

'Pelo menos a Polícia Federal já devia ter retirado o porte de arma dele (Janot) para a gente ficar mais tranquilo' - Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados - Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Brasília – A “confissão” do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de que pensou em matar a tiros o ex-ministro Gilmar Mendes dentro do Supremo Tribunal Federal (STF) provocou duras críticas de desafetos dele, além do próprio integrante da Suprema Corte, e de parlamentares. O ex-presidente Michel Temer, em nota, criticou Janot: "O ex-procurador Janot, além de mentiroso contumaz e desmemoriado, revela-se um insano homicida-suicida. As ocasiões em que esteve comigo foram para detratar e desmoralizar os possíveis integrantes de lista tríplice para procurador-geral da República e para sugerir que nomeasse alguém fora da lista. Não merece consideração", escreveu Temer.

Deputados e senadores também reagiram à declaração de Janot. O assunto também ocupou, na manhã de ontem, a lista dos tópicos mais comentados no Twitter. Nas redes, parlamentares falam de Janot e Gilmar Mendes, desde uma manifestação de solidariedade até anotações de que a fala do ex-procurador teria sido 'irresponsável'. "Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo.
Ia matar ele e depois me suicidar", afirmou o ex-PGR.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) manifestou solidariedade a Janot e afirmou que Gilmar Mendes 'sempre teve pouco escrúpulo'. Já o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) considerou as declarações do ex-PGR "irresponsáveis" e indicou que  poderiam influenciar outras pessoas. A deputada Erika Kokay (PT-DF) anotou: "É o império da barbárie". O senador Eduardo Braga (MDB-AM) pediu paz: "Quando o ódio dá lugar aos argumentos diante das divergências, chega a hora de repensar se o extremo é mesmo o melhor caminho a ser seguido. Por mais paz e por mais exemplos de engrandecimentos do ser humano."

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também criticou a postura de Janot. "Hoje, descobrimos que o procurador-geral queria matar ministro do Supremo. Quem vai querer investir num país desse?", questionou Maia em evento no Rio.
Ao arrancar risadas da plateia, o parlamentar complementou: "Pelo menos a Polícia Federal já devia ter retirado o porte de arma dele para a gente ficar mais tranquilo." Após a palestra, a imprensa pediu para Maia analisar mais a fundo as declarações de Janot. "Sei lá", divagou o deputado. "Não se pode nem mais brincar..." Outro alvo de críticas de Maia foi o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "O ministro do Meio Ambiente nega os dados técnicos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), esse é o Brasil que nós temos", disse, também no contexto de crítica à insegurança que o país gera aos investidores.

MAIS ATAQUES O ex-secretário-geral do Ministério Público da União na gestão de Rodrigo Janot, o procurador regional da República Blal Dalloul, disse que as declarações do ex-procurador-geral da República representam "uma das páginas tristes para a história do Ministério Público". A declaração do ex-chefe chocou não apenas Blal Dalloul, como também outros ex-auxiliares ouvidos pela reportagem, que engrossaram críticas, mas preferiram manter-se no anonimato. "Estou realmente chocado com essa revelação. Não imaginava que tal situação tivesse acontecido e minha formação não admitiria conhecimento sem veemente discordância", disse Dalloul, que ficou em terceiro lugar na lista tríplice da categoria para a escolha do novo procurador-geral – ignorada pelo presidente Jair Bolsonaro, que indicou Augusto Aras. "Sua revelação nada traz de positivo.
É preciso perdoar e amar muito mais. Inclusive por e pela instituição tão maior do que qualquer das suas pessoas", completou Blal.


Outros auxiliares de Janot na época em que chefiou a PGR manifestaram "perplexidade" pela revelação feita. A reação entre as pessoas que compuseram a equipe do ex-procurador-geral e até de quem permaneceu como amigo após a gestão é péssima. O fato está sendo tratado como “indigno” e “inaceitável”. Um desses integrantes disse à reportagem que já havia escutado um comentário de Janot de que tinha apenas pensado em matar Gilmar Mendes, mas entendeu que era uma bravata – e nunca que se chegou perto à consumação. Para esse membro do MPF, o fato de a declaração ter vindo no contexto de venda de livro é ainda pior, mais vergonhoso. Até o motivo, crítica à filha, foi citado como ridículo.

Um outro ex-auxiliar de Janot, que pediu para não ser identificado, disse estar preocupado com os reflexos das declarações do ex-procurador-geral da República sobre a "institucionalidade" do MP. Para esse ex-auxiliar de Janot, o ex-PGR agiu "de forma incompatível com o estágio civilizacional" e o "desequilíbrio demonstrado tem sido repudiado em todos os ambientes internos". A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffman, também criticou: “Cada vez mais os fatos revelam o quanto as instituições estão reféns do jogo de poder, das disputas corporativas, interesses pessoais. Lula tem sido a grande vítima desse sistema”.

Defesa e ataque ao ex-PGR


Brasília – O senador Renan Calheiros (MDB-AL) comparou a atitude do ex-procurador-geral Rodrigo Janot a uma cena de filme.
“A confissão homicida de Rodrigo Janot confirma o desprezo pelo contraditório, pela lei e democracia. Jagunço de lógica fundamentalista na perseguição e eliminação dos adversários, nem que seja à bala. Havia um psicopata na PGR. A reencarnação de Simão Bacamarte, protagonista de O alienista, obra de Machado de Assis. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) definiu a atitude de Janot como desesperada. “Bravatas de Janot são apenas estratégia de promoção do livro ou o grito dos desesperados vendo o barco da máfia da Lava-Jato afundar?”, disse.

O senador Alessandro Vieira (CDD-RS) viu a declaração como uma distração para outros assuntos. “Vendo todo o mimimi sobre o Rodrigo Janot, que divulgou ter sonhado com um tiro na cara do Gilmar Mendes. Cortina de fumaça enquanto denúncias envolvendo ministros nunca são esclarecidas e o Supremo Tribunal Federal ameaça o combate à corrupção com jurisprudência criativa. #CPIdaLavaToga”, afirmou ele pelas redes sociais.
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