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Estado de Minas POLÍTICA

Aras diz que atitudes de Janot são inaceitáveis, mas não maculam MPF

Rodrigo Janot revelou ter ido armado ao STF com a intenção de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes


postado em 28/09/2019 12:59 / atualizado em 28/09/2019 13:57

Augusto Aras, procurador-geral da República, diz que ações de ex-PGR não devem prejudicar MP (foto: Roberto Jayme/TSE/arquivo)
Augusto Aras, procurador-geral da República, diz que ações de ex-PGR não devem prejudicar MP (foto: Roberto Jayme/TSE/arquivo)

O novo procurador-geral da República, Augusto Aras, classificou em nota como 'inaceitáveis' as atitudes do ex-PGR Rodrigo Janot, que revelou ao Estadão ter ido armado ao Supremo Tribunal Federal (STF) com a intenção de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes. Apesar disso, o recém-indicado ao posto máximo do Ministério Público Federal afirmou que o fato não tem o condão de macular a instituição.

"O Ministério Público Federal é uma instituição que está acima dos eventuais desvios praticados por qualquer um de seus ex-integrantes", diz Aras no comunicado. O novo PGR afirma ainda confiar nos colegas, 'homens e mulheres dotados de qualificação técnica e denodo no exercício de sua atividade funcional'.

Segundo Aras, o MPF continuará cumprindo 'com rigor' sua missão. "Os erros de um único ex-procurador não têm o condão de macular o MP e seus membros", afirma a nota.

As declarações do novo ocupante da cadeira que já foi de Janot se somam às críticas feitas até mesmo por ex-auxiliares do antigo PGR. Ex-secretário-geral do MPF na gestão de Janot, o procurador-regional da República Blal Dalloul disse ao Estadão/Broadcast Político que as declarações do ex-PGR representam "uma das páginas tristes para a história do Ministério Público, e sua revelação nada traz de positivo".

Janot disse ao Estado que, no momento mais tenso de sua passagem pelo cargo, ingressou armado no Supremo Tribunal Federal (STF) com a intenção de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes. "Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar", afirmou.

"Estou realmente chocado com essa revelação. Não imaginava que tal situação tivesse acontecido, e minha formação não admitiria conhecimento sem veemente discordância", disse Dalloul, que ficou em terceiro lugar na lista tríplice da categoria para a escolha do novo procurador-geral - ignorada pelo presidente Jair Bolsonaro, que indicou Aras.

"O evento é mais um das páginas tristes para a história do Ministério Público e sua revelação nada traz de positivo. É preciso perdoar e amar muito mais. Inclusive por e pela instituição tão maior do que qualquer das suas pessoas", acrescentou.

A declaração do ex-chefe chocou não apenas Dalloul, como também outros ex-auxiliares ouvidos pela reportagem, que engrossaram críticas, mas preferiram manter-se no anonimato. Eles manifestaram "perplexidade" com a revelação feita.

A reação entre as pessoas que compuseram a equipe do ex-procurador-geral e até de quem permaneceu como amigo após a gestão é péssima. O fato está sendo tratado como indigno e inaceitável.

Um desses integrantes disse ao Estado que já havia escutado um comentário de Janot de que tinha apenas pensado em matar Gilmar Mendes, mas entendeu que era uma bravata, e nunca que se chegou perto à consumação.

Para esse membro do MPF, o fato de a declaração ter vindo no contexto de venda de livro é ainda pior, mais vergonhoso. Até o motivo, crítica à filha, foi citado como "ridículo".

Um outro ex-auxiliar de Janot, que pediu para não ser identificado nesta reportagem, disse estar preocupado com os reflexos das declarações do ex-procurador-geral da República sobre a 'institucionalidade' do MP.

Para esse ex-auxiliar de Janot, o ex-PGR agiu 'de forma incompatível com o estágio civilizacional' e o 'desequilíbrio demonstrado tem sido repudiado em todos os ambientes internos'.


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