O ex-prefeito Otávio Cianci (PTB), de 65 anos, se orgulha de ter sido o administrador que mais colocou placas de inauguração em Mesópolis, cidade de 1,9 mil habitantes, na região norte do Estado de São Paulo, que ele administrou em duas gestões (2005 a 2012). De outro recorde ele não se envaidece: é um dos ex-prefeitos paulistas que mais se tornaram réus em ações civis públicas, a maioria por improbidade administrativa.
São ao menos 27 processos movidos apenas na Justiça de Jales, sede da comarca. O ex-prefeito se diz injustiçado. "De tanto pagar advogado e devolver dinheiro sem dever, tive de vender tudo o que tinha e peguei trauma de política", disse.
Otávio Cianci apoia o pleito de prefeitos e governadores por mudanças na Lei de Improbidade Administrativa. Segundo ele, a lei é "impiedosa" quando ataca o patrimônio dos administradores denunciados por suposta má gestão. "Mesmo não sendo culpado, a gente acaba pagando muito mais do que deveria. Vejo pelo meu caso.
Segundo ele, os políticos novos que se candidatam a cargos executivos não imaginam a "dor de cabeça" que os espera. "São leis que engessam o administrador. Ele não consegue fazer nada e o eleitor cobra. O candidato novo não sabe o rigor da lei. Eu não volto a me candidatar nem que seja a última pessoa de Mesópolis."
Em 17 ações, Tavinho, como é conhecido, foi acusado de improbidade administrativa. Três processos são da esfera criminal, em que ele é acusado de crimes contra as finanças públicas e a lei das licitações.
Em outro processo, o ex-prefeito e outros réus foram acusados de contratar uma farmácia de manipulação que fornecia medicamentos superfaturados. "Eles já forneciam antes de eu assumir e só continuaram fornecendo. Ao meu ver estava tudo ok. Na denúncia, colocaram que um remédio estava 1.000% acima do preço normal.
Padaria
Tavinho também se defende no caso em que a padaria de um sobrinho ganhou licitação para fornecer pão à prefeitura. "A vida toda a prefeitura só comprava dele. Eu entrei e a comissão de licitação disse que eu não poderia impedir ele de participar. Houve denúncia e, como meu sobrinho tem trauma de fórum, foi proposto um acordo e ele aceitou. Devolveu R$ 70 mil, mais do que recebeu fornecendo pão o ano inteiro."
O ex-prefeito vai se lembrando de outros casos, como o da empresa do genro contratada para serviços de limpeza da prainha da cidade, que fica à beira do Rio Grande. Um inquérito apontou que a licitação fora fraudada, inclusive com uso de documentos falsos. Depois que o genro conseguiu passar em concurso da prefeitura, também sob suspeita de fraude, um ex-empregado dele foi contratado para a limpeza da prainha. "Quando houve a licitação, meu genro era apenas namorado da minha filha.
Tavinho foi absolvido em quatro processos, mas o Ministério Público recorreu. Em outros dois, fez acordos e paga parcelas mensais de R$ 500 e R$ 200, respectivamente.
Os processos criminais por fraudes em licitações, falsidade ideológica e associação criminosa já renderam ao ex-prefeito condenações em primeira instância que somam 22 anos e 8 meses de prisão. Tavinho entrou com recursos, mas uma das condenações, por contratar sem licitação o fornecimento de peças automotivas para a prefeitura, foi mantida no Tribunal de Justiça.
O ex-prefeito também teve bloqueados cerca de R$ 100 mil em contas bancárias para ressarcimento do erário, mas alega que o dinheiro era resultado da venda de bens para pagar advogados. "Cada denúncia que o juiz aceitava, eu tinha que pagar R$ 6 mil para a defesa. Vendi um sítio com gado, casa, caminhão, carro, tudo declarado na Justiça Eleitoral. Hoje, moro de favor com um filho. Minha advogada me defende de graça.