O presidente da República, Jair Bolsonaro, recebeu aplausos, mas também foi vaiado durante a missa em homenagem à padroeira do Brasil, na tarde deste sábado, 12, no Santuário de Aparecida, interior de São Paulo. As manifestações do público que lotava o tempo católico aconteceram quando o presidente adentrou o recinto e em três vezes em que seu nome foi citado durante a celebração.
Mais acostumado a ser ovacionado, o presidente fechou o rosto e pareceu surpreso com a acolhida, mas foi aplaudido após subir ao altar para fazer a Primeira Leitura - uma parte da liturgia.
Bolsonaro esteve em Aparecida em um momento em que o clero faz críticas à política de seu governo em relação ao meio ambiente e defendem o Sínodo da Amazônia, um encontro mundial convocado pelo Papa Francisco, que chegou a ser questionado pelo presidente.
Na missa principal do dia, celebrada de manhã, o arcebispo de Aparecida, Orlando Brandes, havia criticado o "dragão do tradicionalismo" e dito que "a direita é violenta e injusta". À tarde, Bolsonaro se reuniu com o arcebispo antes de seguir para a missa, no corpo principal do santuário.
Quando o presidente entrou, o público mais próximo aplaudiu, mas logo foram ouvidas as primeiras vaias. A situação se repetiu - com aplausos e um número menor de vaias - quando o padre animador anunciou o nome do presidente.
Já na homilia, quando dom Orlando agradeceu a presença de Jair Bolsonaro, o volume de vaias foi maior. Ao fim da missa, o auxiliar da celebração pediu "uma salva de palmas ao nosso presidente". O público atendeu, mas também se ouviram algumas vaias.
O presidente, que esteve na missa sem os familiares, acompanhado apenas de assessores e parlamentares da região, mostrou pouca intimidade com os ritos da celebração.
Durante o Pai Nosso, quando todos estendem as mãos abertas, ele permaneceu com os braços abaixados. No momento da eucaristia, inicialmente ele não se apresentou para a comunhão. Foi preciso que um assessor interviesse para que o arcebispo, que já seguia de volta para o altar, retornasse para oferecer-lhe a hóstia consagrada.
Bolsonaro saiu-se bem na leitura do trecho do livro de Ester do Evangelho cristão, do chamado antigo testamento, "uma órfã, adotada, pobre e exilada na Babilônia que veio a se tornar rainha", como explicaria depois dom Orlando.
Em sua homilia, o arcebispo foi menos contundente do que na celebração matinal. "Há dragões que atacam de tudo o que é lado. Atacam a Igreja, as religiões. Esses dragões são as ideologias, que quer dizer interesses pessoais, tanto da direita como da esquerda. Isso não faz bem, o que faz bem é procurar a verdade que nos faz viver como irmãos e irmãs entre nós."
Bolsonaro, que tem forte ligação com religiões evangélicas - que não reconhecem o culto a Nossa Senhora -, foi convidado e aceitou a participar da consagração da Virgem de Aparecida.
Ele ainda ouviu do arcebispo que Ester pediu ao rei a vida para seu povo. "É isso que queremos pedir, a vida do nosso povo. Que não falte emprego, pão, dignidade e a paz entre nós." Também foi citado que Nossa Senhora Aparecida é preta e acrescentado: "Fora com o racismo, fora com toda desigualdade social."
Dom Orlando também fez uma analogia com o fato de a imagem de Aparecida, achada suja de lama e quebrada, ter sido restaurada. "Muitas coisas no Brasil estão quebradas, mas, como a imagem, podem ser restauradas.
Ao final, se dirigiu a Bolsonaro: "Senhor presidente, sinta-se abraçado pela nossa Mãe querida, e o Brasil também o abraça. Somos todos irmãos."
O presidente deixou o santuário sem falar com a imprensa.