Ao passar por Belo Horizonte ontem, de onde foi para Barbacena e Manhuaçu, o pedetista chamou de crime a privatização da Cemig pretendida pelo governador Romeu Zema (Novo). Em entrevista ao Estado de Minas, Ciro se referiu ao PT, com o qual já esteve unido, como “um bando de ladrão e mentiroso”.
Disse acreditar que não terá Bolsonaro como concorrente em 2022 e também apostou em uma ruptura entre o presidente e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. “Acho que vão acertar a faca nas costas um do outro a bem do país”. Veja os principais trechos da entrevista e confira a íntegra no site em.com.br
''A Cemig não é só uma mera distribuidora de energia, como a Coelce (companhia do Ceará). É um crime de transcedental gravidade se desfazer da Cemig, de um patrimônio desses''
''O PSL tem R$ 780 milhões de dinheiro público daqui até a eleição. Como não tem ideologia nem nada, caráter zero, estão brigando pelo dinheiro. Vai ser guerra de foice no escuro''
Paulo Guedes já dá mostras de que não vai cumprir algumas metas, como a de zerar o déficit no primeiro ano de governo. O que o senhor acha que ele vai conseguir?
O Paulo Guedes é um aluno medíocre de Chicago que nunca teve um papel mais relevante no debate brasileiro, não é má pessoa, mas não conhece o Brasil. Ele está intoxicado e parou de estudar nos anos 1980 para ganhar dinheiro. Hoje a ideologia e o marco de economia política que ele pratica está vencido inclusive em Chicago, ninguém mais defende essa estupidez que ele está a ferro e fogo empurrando ao Brasil. Nossa proposta é cobrar um tributo sobre lucros e dividendos empresariais em linhas com as melhores práticas internacionais que todo mundo cobra. Só o Brasil não cobra esse imposto. Dá R$ 70 bilhões. Não precisa zerar o déficit no primeiro ano, tem aí R$ 70 bilhões para começar a trabalhar. O Guedes acha que Brasil tem que fazer agenda do bom moço internacional, que é aquela vencida de privatização, desregulação, redução do estado, que nós então seremos reconhecidos pela comunidade internacional e salvos do nosso desastre socioeconômico pelo investimento estrangeiro. Sabe quando isso aconteceu na história da humanidade? Nunca, não existe esse caminho.
O governo Bolsonaro tem a pior avaliação de primeiro mandato entre os presidentes. O povo se arrependeu?
Nosso povo votou machucado, exasperado por uma crise econômica sem precedente, encimada por uma notícia em horário nobre de televisão de corrupção generalizada. Nesses ambientes apaixonados, odientos, o Bolsonaro foi capaz de interpretar de forma tosca, simplória, grotesca mas muito eficaz, ajudado inclusive pela despolitização e o sentimento generoso do nosso povo quando ele levou a facada, isso o subtraiu dos debates com uma razão respeitável. Mas eu era visto pelo povo brasileiro como um pessoa séria, respeitada, mas que tinha muita ligação com o PT. E a onda ali era uma vingança contra a traição econômica especialmente, porque o Lula puxou 40 milhões de pessoas para cima mas a mesma gente e uma pessoa que o Lula impôs sem o mínimo conhecimento do povo trouxe todo mundo para baixo de novo. É o mesmo fenômeno que destruiu o PSDB como vetor nacional. Nunca mais, do Fernando Henrique para cá o PSDB ganhou uma eleição nacional. Foi o debate econômico com a desvalorização do real com a corrupção generalizada. É o mesmo filme porque são faces da mesma moeda. O povo brasileiro encheu o saco disso e o Bolsonaro estava na área.
E o senhor, se arrependeu de ter ficado de fora do segundo turno na eleição passada?
Cumpri a orientação do meu partido que foi um apoio crítico. Mas sabendo o que sei e vendo o que eu vi, se vou de novo fazer comício com o PT passa a ser cumplicidade. Aliança, solidariedade tudo bem, até porque em uma eleição que você não é majoritário tem que ter a humildade de ficar perto do seu vizinho, ainda que você não seja igual, e negando seu antagônico. Não estou arrependido de não ter votado no Aécio e ter votado na Dilma, votaria do mesmo jeito, mas já com o dedo no nariz. Já votei com o dedo no nariz e não estou dizendo isso hoje, denunciei publicamente na época a maluquice do Lula impor a Dilma sem experiência e o Michel Temer corrupto de 30 anos na linha de sucessão. Engoli, mas daqui para frente é cumplicidade e sou sério.
O senhor disse que Bolsonaro não termina o mandato. Tem uma previsão?
Tinha uma perspectiva que não demorava muito, porque estava acompanhando a investigação do MP do RJ com relação aos filhos dele. Ali não tem erro. O Bolsonaro fazia isso como deputado, todo mundo sabia que ele tinha cinco seis funcionários fantasmas que assinavam recibo, ele pegava dinheiro e botava no bolso. Ele ensinou os bolsonarozinhos zero um, dois e três a fazer a mesma coisa. A vida do Bolsonaro é isso, carguinho, mamatinha. É inacreditável que faça o discurso oposto e a população brasileira engula. Está tudo visto e quando começaram a investigar viram algo muito mais complexo que é uma conexão íntima com as milícias do RJ. Esse Queiroz tem 10 homicídios nas costas, esse Ânderson 100 homicídios. E a mãe e o irmão estavam no gabinete do Flávio Bolsonaro. Vem aí um documentário do José Padilha que vai ser lançado em julho do ano que vem. Pode ser a ocasião, porque vai estar tudo mostrado.
Acredita em uma saída voluntária ou provocada?
Acho que ele renuncia. Na vida democrática moderna do país só três presidentes terminaram o mandato: Juscelino, Fernando Henrique e Lula. Ele é um cara avesso ao antagonismo, não consegue conviver com a crítica. Enquanto tem compensação, sai no carro e chamam de mito, ainda tem compensação. No ano que vem não vai poder por a cara na rua que é vaia em todo canto. Qual a compensação no fim? Ele tem personalidade para resistir a isso? Duvido. Esses filhos malucos criando caso e o Trump perdendo a eleição. A humilhação que submeteu o país a partir de uma humilhação pessoal dele. Ele deu uma entrevista que pouca gente deu valor dizendo que acorda de madrugada chorando. Diz que guarda um revólver perto porque desconfia de todo mundo, tomara que não seja suicido porque aí é trágico.
Como o senhor avalia a atitude do Lula de rejeitar ir para o semiaberto?
Ele sentiu que o judiciário brasileiro está emparedado. Dá entrevista toda hora, está em uma suíte bastante confortável, recebe namorada, alguns amigos toda hora, e sentiu que o tubarão sangrou no mar, que o aparelho de Justiça do Brasil está sangrando pelas imprudências do Sérgio Moro, pela fissura com o STF, então ele está jogando. E desmoralizando a justiça. Estou falando como professor de direito, não é opção sua ou minha ficar dentro ou fora da cadeia. Só está dentro ou fora quem a lei mandar.
Também foi inédito o MP pedir para ele sair?
Porque essa turma de Curitiba só faz política e caíram no ambiente do Lula. No campo da política, o Lula é o campeão, essa meninada Deltan Dallagnol, esses babacas, o Sérgio Moro é um idiota na frente do gênio político do Lula. Ele agora está jogando com o Supremo, está emparedando o supremo. E o trágico é que na esteira disso lá se vai Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha e Palocci para a liberdade, tudo vai ser anulado. No direito, o juiz não pode aconselhar a parte, se ele aconselha a parte, e o MP é parte, é considerado suspeito. Se ele é considerado suspeito todos os atos que presidiu são nulos. Não é que o Lula vire inocente como vão dizer, é nulo o ato começa tudo de novo.
Para o senhor o Sérgio Moro deve ser declarado suspeito?
Dentro do melhor direito, sim. Só que não é por notícia de jornal. Os advogados do Lula mandam a notícia, a Justiça recebe, abre para parecer do MP, este se tiver dúvida vai pôr suspeita, o Judiciário tem que determinar perícia, a PF faz e afirma se são verdadeiras ou não. Como a gente sabe que são verdadeiras, uma vez a perícia afirmando que são depois desse rito ele é suspeito e sendo suspeito tudo será nulo. E aí está o grande bem que o Sérgio Moro fez à Justiça brasileira, passar um atestado de impunidade. Aí apostando na ignorância, o Sérgio Moro vai se demitir dizendo eu prendi e eles soltaram para ficar no guetozinho dele, nos seus 18% ou 20% que ainda restarão de fanáticos do lava-jatismo.