O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, acionou a Procuradora-Geral da República (PGR), na manhã desta quarta-feira, sobre o possível envolvimento do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na morte da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). O chefe da pasta pediu à PGR para que instaure um inquérito conjunto entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) para investigar a situação, mostrada pela TV Globo na noite dessa terça-feira.
Segundo Moro, há um determinado equívoco na investigação ou até uma tentativa de envolvimento do presidente da República no caso. O ministro ainda diz que já foi constatada obstrução de Justiça anterior na apuração do crime, cometido em 14 de março de 2018. Dessa forma, haveria justificativas para abertura de uma investigação federal.
"A inconsistência sugere possível equívoco na investigação conduzida no Rio de Janeiro ou eventual tentativa de envolvimento indevido do nome do Presidente da República no crime em questão, o que pode configurar crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa", diz trecho do documento. Isso determinaria a competência da Justiça Federal, levando ao MPF e à PF.
O Jornal Nacional mostrou, nessa terça-feira, que registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o presidente Jair Bolsonaro, apontam que o ex-policial militar Élcio de Queiroz, um dos suspeitos de envolvimento na morte de Marielle, entrou no local no dia do assassinato, dizendo que iria para a casa do então deputado.
No mesmo condomínio, mora o principal suspeito de matar Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, o também ex-policial militar Ronnie Lessa. De acordo com a reportagem, no dia do crime, o porteiro escreveu às 17h10 o nome do suposto visitante, Élcio, os dados do automóvel que ele dirigia - um Logan, placa AGH-8202 - e a residência para a qual ele iria, a de número 58. Élcio é apontado pela polícia como o motorista do carro usado no crime. A casa 58 do condomínio consta como sendo a de Bolsonaro no registro geral de imóveis. O presidente também é proprietário da casa 36, onde mora um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
Segundo a reportagem, o porteiro contou à polícia que depois que Élcio se identificou, interfonou para casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar e que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do "seu Jair".
Segundo o teor das declarações do porteiro à polícia apuradas pela reportagem, ele acompanhou a movimentação do carro de Élcio após a entrada e notou que o visitante se dirigiu à casa 66 - e não à 58 - do condomínio, onde morava Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e polícia como autor dos disparos contra Marielle.
Segundo o JN, a polícia tenta recuperar arquivos de áudio da guarita do condomínio, cujo interfone é monitorado, para saber com quem, de fato, o porteiro conversou naquele dia e quem estava na casa 58.
Com a citação pelo porteiro do nome do presidente, representantes do Ministério Público do Rio foram a Brasília em 17 de outubro para fazer consulta ao presidente do STF, Dias Toffoli. Eles questionaram se podem continuar com investigações, uma vez que o nome de Bolsonaro foi mencionado. Toffoli ainda não respondeu. Bolsonaro se defendeu das acusações e atacou a TV Globo.
"Ou o porteiro mentiu ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho, ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu. Vocês não têm como me pegar e ficam inventando patifaria. Eu seguro a onda, tenho uma tremenda responsabilidade", disse, após a exibição do material.