O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse ontem que lamenta muito pela declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), líder do partido na Câmara, que sugeriu a possibilidade de reedição de um “novo Ato Institucional 5 (AI-5)” caso a esquerda “radicalize”, em entrevista publicada ontem no canal do YouTube da jornalista Leda Nagle. Apesar do lamento, ele frisou que não cabe a ele cobrar explicações do filho, dando a entender que não conversará o assunto com o parlamentar. No início da noite, após as reações contrárias e a ameaça de perda do mandato, Eduardo Bolsonaro recuou e pediu desculpas em entrevista a uma rede de TV.
As declarações de Bolsonaro foram ditas na saída do Palácio da Alvorada. Foi o primeiro contato com a imprensa e apoiadores após o retorno, na manhã de ontem, de uma viagem de 12 dias pela Ásia. Ao ser abordado sobre o tema, Bolsonaro respondeu, inicialmente, que o governo não concorda e não há em estudo nenhuma recriação de um AI-5. “O AI-5 existiu no passado, em outra Constituição. Não existe mais, esquece. Cobre dele (Eduardo), não apoio. Quem quer que seja que fale de AI-5 está sonhando. Não quero nem ver notícia nesse sentido”, declarou.
Questionado se ele cobraria explicações de Eduardo, sugeriu que a imprensa o faça. “Olha, cobre você dele”, comentou, em resposta a um repórter. “Ele é independente. Tem 35 anos, se não me engano, ele é dono do seu (próprio nariz)... 35, não. Tem uns 20 anos. Mas, tudo bem. Lamento se ele falou isso, que não tô sabendo, lamento, lamento muito”, destacou. Na entrevista concedida ao canal da jornalista, Eduardo disse que será preciso dar uma resposta à esquerda caso ela resolva radicalizar.
“Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual à do final dos anos 60 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando executavam e sequestravam grandes autoridades, cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”, disse o filho do presidente Jair Bolsonaro.
Ontem, horas após a repreensão do país, Eduardo Bolsonaro postou novo vídeo no Twitter, no qual afirma que os protestos chilenos são “vandalismo, depredação e terrorismo” e que isso não vai se repetir no Brasil. Após a repercussão negativa de suas declarações, Eduardo voltou atrás e pediu desculpas sobre o AI-5, apontado por ele como solução para conter o avanço da esquerda no país. Em entrevista ao programa Brasil urgente, na Band, o parlamentar disse que não existe a possibilidade da volta do instrumento que cassou direitos durante a ditadura militar.
''Fico bem confortável, bem tranquilo, agradecendo a oportunidade para deixar isto claro: não existe retorno do AI-5''
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal
“Fico bem confortável, bem tranquilo, agradecendo a oportunidade para deixar isto claro: não existe retorno do AI-5”, disse o deputado, alegando que houve uma “interpretação deturpada” de sua fala. Na entrevista ao Brasil urgente, o deputado disse que foi “infeliz” ao falar sobre o AI-5, mas que os protestos chilenos impediam o direito básico de ir e vir. “Talvez eu tenha sido infeliz ao falar do AI-5, porque não existe qualquer possibilidade de retorno do AI-5, mas nesse cenário o governo tem que tomar as rédeas da situação”, afirmou.
Também em entrevista ao Brasil urgente, o presidente Bolsonaro disse ter falado com o filho, líder do PSL na Câmara, tirar a “palavra AI-5” do vocabulário dele. Bolsonaro afirmou que não se deve discutir “picuinhas”. “Vamos tocar este barco, que o Brasil tem tudo para dar certo”, disse em entrevista ao programa da TV Bandeirantes. Bolsonaro declarou que não se deve ficar nos “assuntos menores”. Bolsonaro afirmou, no entanto, que a fala do filho foi “distorcida” e reiterou que o AI-5 não é uma opção.
“Não queremos falar em autoritarismo da nossa parte. Ele foi o deputado mais votado da história do Brasil. Eu falei: ‘Se for o caso, se desculpa’. Ele falou que sem problema nenhum. Mas a gente fica chateado que qualquer palavra nossa, em um contexto qualquer, vira um tsunami. A gente lamenta. Eu falo sobre isso aí com meus filhos, me policio muito no tocante a isso. (...) A gente lamenta essa notícia, em parte distorcida, mas meu filho está pronto para se desculpar, tendo em vista ter sido mal interpretado.”