A saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão reacendeu o clima de polarização observado durante as eleições presidenciais de 2018. O petista saiu da cadeia já fazendo críticas ao governo. O presidente Jair Bolsonaro adotou o silêncio, mas não demorou para que filhos dele ampliassem o tensionamento com opositores. As redes sociais, por sinal, entraram em ebulição e voltaram a refletir as disputas entre os polos. Na visão de parlamentares e de especialistas, a tendência nos próximos dias será a acentuação do embate e o consequente impacto nas eleições municipais de 2020.
No início da noite desta sexta-feira (8/11), o nome Lula e a hashtag #Dia9NasRuas eram os temas mais comentados no Twitter, com provocações e discussões entre simpatizantes de ambos os lados. O líder do PSol na Câmara, Ivan Valente (SP), questionou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sobre a “situação do Lula”, marcando-o num vídeo em que satiriza a participação do parlamentar em um programa de televisão — na ocasião, o filho do presidente associou Lula à palavra livre.
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Doria: saída temporária de Lula da cadeia não anula os crimes que cometeu'Vem pra Rua' e partido Novo convocam manifestações pela prisão em 2ª instância Bolsonaro diz ser responsável apenas pelo que ocorre no ExecutivoLula diz que está livre ''pra ajudar a libertar o Brasil dessa loucura''Bolsonaro recomenda não dar ''munição'' ao ''canalha''Lula diz que vai viajar o país para 'propor alternativas' às políticas de BolsonaroEduardo respondeu a provocação e acusou Valente e a oposição de “ignorar o risco de botar em liberdade 160 mil presos”. “Pedem prisão para assassinos de Marielle (Franco, vereadora assassinada), mas querem soltar bandidos de seus partidos. Piada”, disparou. O vereador fluminense Carlos Bolsonaro (PSC) também comentou a soltura de Lula. “Não tenho dúvidas de que esse jogo virará! O Brasil não aceita mais o show dos bandidos do PT, PCdoB, Piçóu (sic), etc!”, declarou, no Twitter.
Para o cientista político Geraldo Tadeu — coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) —, a polarização vai se ampliar. “Lula, agora, volta a ocupar um dos polos diretamente, de onde poderá alterar os termos desse tensionamento”, frisou.
Potencial
Embora ainda responda por outros processos na Justiça, a soltura de Lula dá ao PT a chance de resgatar a narrativa eleitoral do “Lula Livre” e incorporar o capital político em candidaturas em 2020. Por esse motivo, e considerando a possibilidade de Bolsonaro sair do PSL e as incertezas eleitorais que essa decisão pode acarretar, Tadeu entende que o PT pode, em um primeiro momento, ser mais favorecido entre os polos. “Lula volta a assumir um lugar de um partido orgânico, que vai atrair a militância. Bolsonaro lidera um movimento inorgânico, sem história política e disciplina partidária, do qual não se tem previsibilidade de aliados, que usam sua imagem e, depois, não demonstram o mesmo compromisso, a exemplo de (Wilson) Witzel (governador do Rio) e (João) Doria (governador de São Paulo)”, argumentou.
Embora ainda responda por outros processos na Justiça, a soltura de Lula dá ao PT a chance de resgatar a narrativa eleitoral do “Lula Livre” e incorporar o capital político em candidaturas em 2020. Por esse motivo, e considerando a possibilidade de Bolsonaro sair do PSL e as incertezas eleitorais que essa decisão pode acarretar, Tadeu entende que o PT pode, em um primeiro momento, ser mais favorecido entre os polos. “Lula volta a assumir um lugar de um partido orgânico, que vai atrair a militância. Bolsonaro lidera um movimento inorgânico, sem história política e disciplina partidária, do qual não se tem previsibilidade de aliados, que usam sua imagem e, depois, não demonstram o mesmo compromisso, a exemplo de (Wilson) Witzel (governador do Rio) e (João) Doria (governador de São Paulo)”, argumentou.
Mantido o clima de polarização observado nas últimas eleições, não é possível descartar dificuldades do centro em romper os polos, admitiu o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB). “Vai acentuar (a polarização).
O primeiro-vice-líder do PDT na Câmara, Afonso Motta (RS), discordou de que a liberdade de Lula amplie a polarização, mas defendeu o “bom senso” do debate, a fim de evitar maiores tensões. “Nossa grande bandeira é a democracia, o Estado democrático de direito e a educação. Não vamos contribuir com o tensionamento do país”, ressaltou. “Quanto mais se faz isso, mais difícil vai ficar para o debate. Não podemos antecipar uma eleição com três anos.”
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