Jornal Estado de Minas

Exposição do Dia da Consciência Negra sofre ataques de deputados do PSL


Às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira, dois deputados do PSL e um do PL protagonizaram ações polêmicas na Câmara dos Deputados. Uma exposição no Hall da Taquigrafia da Câmara, em alusão ao Dia da Consciência Negra, gerou protesto do deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP). Ele rasgou uma das placas expostas e provocou reação indignada de outros parlamentares. A placa destruída pelo deputado tem ilustração do cartunista Carlos Latuff e mostra um homem negro morto depois de ser baleado por um policial branco. Além disso, também havia dados relacionados a assassinatos de pessoas negras. Ela faz parte da exposição “Trajetórias Negras", que homenageia personalidades negras brasileiras e aborda problemas sociais, como o racismo.

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Logo depois do ataque do deputado, os parlamentares Áurea Carolina (Psol-MG), Benedita da Silva (PT-RJ), David Miranda (Psol-RJ) e Talíria Perrone (Psol-RJ) apresentaram representação contra ele no Conselho de Ética da Câmara e na Procuradoria-Geral da República. Nas redes sociais, Coronel Tadeu se defendeu: “Policiais não são assassinos. Policiais são guardiões da sociedade, sinto orgulho de ter 600 mil profissionais trabalhando pela segurança de 240 milhões (sic) de brasileiros”. O Brasil, na verdade, tem 210 milhões de habitantes.

MARIELLE

Já o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco, morta em um atentado no Rio de Janeiro em 14 de março do ano passado, ocupou a tribuna da Câmara logo após o ato de vandalismo do deputado Coronel Tadeu. Ele classificou de “falácia” a existência de “genocídio contra a população negra” e alegou que, se mais negros são mortos ou presos pela polícia, é porque negros cometem mais crimes. “Por sua vez, os negros são as principais vítimas da ação letal das polícias. Só que também, como a maior parte da população carcerária é formada por negros no Brasil, é porque mais negros cometem crimes. E vão dizer mais uma vez: ‘Eu não tive oportunidade da sociedade’. Não quis estudar, preferiu furtar”, disse o deputado. “Esse tipo de evento foi patrocinado pela esquerda e nessa Casa isso não pode acontecer”, reclamou Daniel Silveira.

Ele disse ainda que execuções de negros podem ocorrer, mas que não são corriqueiras. “Claro que pode acontecer uma execução. Nós não temos como filtrar tudo, mas um policial militar, eu garanto, ele não entra na favela atirando a esmo para poder matar o negro, não. Se fosse um branco, caucasiano mesmo, segurando um fuzil e confrontando a polícia também morreria. Não dá para atirar flores em quem te atira bala ou chumbo”, disse o deputado. “Essa mentira sobre o genocídio da população negra promovido pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro não existe”, enfatizou. Daniel Silveira, que exibiu pedaços da placa que destruiu em seu gabinete na Câmara, disse que quer cumprimentar o deputado Coronel Tadeu pela ação de destruir a placa da exposição. “Quero até saber quem é esse deputado que eu quero apertar a mão dele”, disse.

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CAPITÃO REVOLTADO

Quem também não gostou das homenagens do Dia da Consciência Negra foi o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Capitão Augusto (PL-SP), que pediu a retirada de uma imagem de um policial de costas, segurando uma arma enquanto se afasta de corpo de um homem negro, aparentemente morto. "Conforme se verifica, há absurda atribuição da responsabilidade pelo genocídio da população negra aos policiais militares", reclama.

O parlamentar defende que "todos os dias", os policiais militares "colocam suas vidas e a de suas famílias em risco para garantir o bem-estar dos cidadãos". Por isso, "devem ser reconhecidos, privilegiados e valorizados". Capitão Augusto diz que que a Câmara não pode compactuar com o que chamou de "inoportuna e desnecessária manifestação de desonra e generalização de ilegalidade" na atuação dos policiais. Insatisfeito com a imagem, o deputado enviou um ofício ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem espera "especial atenção".

Todo mês, servidores da Câmara seguem um cronograma preestabelecido para divulgar determinados assuntos em uma galeria entre o plenário e o anexo 2. O espaço é passagem obrigatória para os 513 deputados, pois está no meio do caminho entre a sede da casa legislativa e a maioria dos gabinetes dos parlamentares. Normalmente, temas como preconceito, incentivos à preservação da natureza e demais atividades recebem atenção em estruturas didáticas e, muitas vezes, tecnológicas e interativas. Desta vez, houve grande mobilização para que fossem trazidos números sobre o genocídio dos negros no Brasil. A base usada para a arte disposta em alguns pôsteres foi tirada do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea), que mediu a desigualdade racial no Brasil e trouxe levantamento sobre a violência letal e as políticas públicas.

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Parte do texto diz que "negros e negras estão mais propensos a sofrer com a deficiência estatal no oferecimento de serviços públicos básicos. As condições socioeconômicas de vulnerabilidade e o racismo institucional ajudam a explicar essa mortalidade". A frase conclui o pensamento expressado na publicação, que termina com um convite para a Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro.

REAÇÃO
O presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu à atitude do Coronel Tadeu. Ele considerou o episódio "muito grave". Rodrigo Maia lembrou o discurso que apresentou em Nova York, quando abordou questões como a democracia, o preconceito e a tolerância. Conforme declarou, no contexto de um país livre e democrático, o simples fato de discordar de alguém não justifica a agressão verbal, física, ou "retirar de forma violenta uma peça de uma exposição que foi autorizada pela presidência da Câmara", em suas palavras.

O deputado alertou para o fato ocorrido primeiro em relação à exposição sobre a Consciência Negra, mas que, depois, pode acontecer com quem riu, considerando estar em defesa do Coronel Tadeu. O parlamentar pediu a compreensão de todos, já que este não é um dia que marca positivamente a Casa, em sua opinião. "Muito pelo contrário. Esse é um dia em que deveríamos defender a inclusão e a igualdade de oportunidades. E não agredindo um cartaz que pode, inclusive, ser injusto com parte da polícia, mas devemos ouvir com diálogo, nunca com agressão", pontuou, pedindo que atitudes como essa não se repitam.

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