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Saiba quem está na fila para se candidatar à Presidência da República

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(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press %u2013 7/12/17)

Possíveis candidatos à Presidência da República em 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador Luciano Huck precisam fortalecer seus nomes em meio às classes mais baixas. Enquanto Doria se afasta publicamente do estilo de vida luxuoso, Huck tende a reviver as ações midiáticas de seu programa de tevê – onde muda a vida das pessoas ao reformar casas e oferecer empregos. Os dois sinalizam informalmente a intenção de participar da corrida eleitoral. E precisam “popularizar” suas figuras pelos próximos anos, dizem assessores próximos ao cacique tucano e ao pretenso político.



A ideia do peessedebista é se tornar mais popular no Nordeste, que rechaça o estilo de vida da elite paulistana. Huck, cuja vantagem é ser conhecido nacionalmente, precisa consolidar o discurso social. O movimento desses possíveis candidatos causa preocupação entre os petistas e aliados do presidente Jair Bolsonaro, que estuda a possibilidade de concorrer ao próximo pleito ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ainda tratado como herói nacional após o primeiro ano de governo ao lado de Bolsonaro.

Bolsonaro ainda não se colocou como candidato à reeleição, mas em várias oportunidades sinalizou para a possibilidade de disputar e vencer as eleições presidenciais de 2022. Com sua popularidade afetada pelas diversas crises provocadas muitas vezes por aliados dele, Bolsonaro aposta na criação de um novo partido, o Aliança pelo Brasil, para articular sua candidatura, que ele espera seja lastreada pelos resultados do seu governo. Em vídeo nas redes sociais no sábado, Bolsonaro disse não ver liderança sólida formada por parte dos adversários para a corrida presidencial. O Aliança pelo Brasil conta, até o momento, com 110 mil assinaturas, mas precisa bater a meta de 492.015 rubricas. Apesar disso, Bolsonaro se mostrou otimista. “Se eu estiver bem em 2022, dá para a gente fazer uma bancada com uns 100 deputados”.

“Ao ostentar uma parede cheia de quadros valiosos na sala de casa, João (Doria) se coloca como candidato dos industriais e milionários. Deu certo em São Paulo, mas não é suficiente para o Brasil”, afirma um dos apoiadores do tucano em Brasília. O empresário que prefere não se identificar diz ser necessário “mudar a imagem de homem abastado” se o governador paulistano quiser realmente se mudar para o Palácio da Alvorada. “Precisa ser do povo”, aponta o apoiador de Doria. Em São Paulo, explica, existe uma atmosfera de privilégios que condiz com candidatos como Doria e Geraldo Alckmin. “Lá tem esse público. Para chegar a Brasília você precisa conquistar muito mais gente”.



Entre os tucanos, é consenso que Doria precisa se tornar mais popular – com o cuidado de não se tornar “povão”. “Candidatos que saem para o abraço existem aos montes. Não é a ideia do partido. Mas é fato que o governador precisa de mais aderência nas camadas sociais afastadas da elite”, pondera um assessor do PSDB na Câmara dos Deputados. Ao observar a trajetória de João Doria, ele explica que “o momento é mais complicado para os ricos porque acabou o financiamento privado, vantagem dos políticos mais abastados”. Outro fator capaz de complicar a situação do possível candidato é a falta de coligações em 2022 – situação que ocorre pela primeira vez nas eleições municipais deste ano.

Para Huck, o caminho é ainda mais complicado por ele nunca ter exercido cargo público, diz o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais. O especialista acrescenta que as pretensões do apresentador podem ir por água abaixo, pois, “como Huck não pode aparecer como político devido a questões contratuais, ele vai ter pouco tempo para se construir como candidato a presidente da República”. “Se vier a se candidatar, ele terá de se postar como um verdadeiro concorrente à Presidência, e não apenas como um aventureiro. Ele é um empresário muito bom e um apresentador de TV famoso, mas na hora em que a campanha eleitoral começar a pegar, ele vai precisar mostrar que é um candidato pra valer”, alerta Ribeiro.

(foto: Paulo Belote/TV Globo/Divulgação %u2013 30/3/17)
Municípios 

As eleições nos municípios podem afetar diretamente a corrida pelo Planalto, dizem especialistas. Na prática, é provável a ideologia de que quem dominar as câmaras municipais e prefeituras acabe estendida ao governo federal. “Estados e municípios são cabos eleitorais de presidentes, governadores e congressistas. A expectativa é que os aliados do presidente Bolsonaro tenham força, mas também há o lado contrário”, analisa o professor de Ciência Política Felippo Madeira, da Universidade Estadual de Goiás (UEG).



Para Felippo, a esquerda e o centro tendem a lutar pelo espaço perdido para a direita na eleição de Jair Bolsonaro. “Militantes vão fazer mais barulho nas ruas e na internet para tentar amenizar o resultado do último pleito”, aposta. Essa possibilidade, acredita, pode fazer com que as lives do presidente e do primeiro escalão se multipliquem. “É normal buscar canais de comunicação mais abertos. Isso provavelmente vai acontecer”, completa.

Sairá fortalecido dessa disputa, prevê Ribeiro, o grupo que conseguir levar o seu discurso de forma mais direta à base eleitoral e vencer, sobretudo, em cidades médias e grandes. “Essas eleições não são apenas para vereador e prefeito. Serão a fundição para que cada partido crie a base do que vai ser a campanha de 2022. Eles vão provar a capilaridade dos seus discursos e, em caso de vitória nas urnas, conquistar mais tempo de TV e cotas de fundo partidário”, explica.

Oposição 

Apesar de o debate sobre as eleições presidenciais de 2022 já estar movimentando o cenário político, formalmente, algumas legendas preferem se abster de uma análise mais aprofundada. O PT, por exemplo, fala em priorizar as eleições municipais deste ano e, só depois, construir uma agenda para concorrer ao Palácio do Planalto. “A nossa proposta é ter candidatos na maior parte dos municípios possíveis, principalmente nas capitais. Queremos apresentar nomes e o nosso programa para o desenvolvimento do país”, diz a presidente nacional da sigla, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).



A parlamentar garante que o PT vai priorizar candidaturas próprias às prefeituras, mas não descarta a possibilidade de o partido se aproximar de legendas como PSB, PDT, Psol e PC do B. Com o movimento, a sigla poderia fortalecer a união entre os partidos de esquerda e centro-esquerda e, consequentemente, a oposição ao presidente Jair Bolsonaro e aos demais candidatos que aderem a um viés de direita ou centro-direita, como Doria e Huck.

“As eleições municipais de 2020 terão um caráter nacional muito forte e serão o principal termômetro para o pleito majoritário, pois o foco da campanha em 2022 será a vida do povo. É impossível desenvolver políticas municipais no âmbito que as pessoas mais reivindicam, como saúde e educação, sem financiamento federal. E, hoje, temos uma situação difícil para o povo brasileiro, que sofre com uma política que não dá respostas”, comenta Hoffmann. “Isto é o que vai estar em discussão daqui a dois anos: o quanto essas candidaturas terão a oferecer. A meu ver, todas estão voltadas para uma estratégia mais liberal e falam pouco do social”, acrescenta.

Além disso, com o ex-presidente Lula fora da prisão, a ideia do PT é usar a força da sua liderança política para “conquistar território” e, a partir de uma eventual suspeição de Moro no caso do triplex do Guarujá (SP), lançar o seu nome para concorrer em 2022. “Nosso empenho será resgatar os seus direitos políticos. Com isso acontecendo, Lula será o nosso candidato. Mas isso vai depender dele”, frisa a deputada. “Temos outros nomes, claro, como o de Fernando Haddad, que é uma referência importante para a política nacional. De qualquer forma, queremos passar o processo municipal para depois discutir 2022”, completa.


Especulação e busca por mais espaço

Durante a semana, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), se encontrou com o apresentador Luciano Huck, no Rio de Janeiro. A reunião não foi bem-vista por parte do PT, e o vice-presidente nacional da legenda, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), usou as redes sociais para dizer que “ou com Lula ou com Haddad, Flávio Dino estará na nossa chapa nas próximas eleições presidenciais”. No entanto, isso não está concretizado. “A lembrança, obviamente, é honrosa. Mas não traduz acerto ou tratativa real para o Dino ocupar uma chapa ou outra, até porque o seu nome também é cogitado para ser cabeça de chapa. O debate iniciado sobre ele ser vice do Huck, do Haddad ou do Lula é próprio desse momento”, diz o deputado Márcio Jerry (PC do B-MA).
 
De acordo com o parlamentar, há uma vontade do partido, mesmo que ainda não dita publicamente, de ajudar na composição de uma frente no Brasil em defesa da democracia para enfrentar o “conservadorismo”, capaz de criar um ambiente político forte para vencer as eleições de 2022. “O Dino tem sido um dos porta-vozes dessa tese. Mas não podemos colocar o carro na frente dos bois. O debate em torno do nome é a última etapa do processo”, destaca Jerry.

Em busca de mais protagonismo, há partidos que não descartam lançar candidatura própria. O DEM, por exemplo, quer fortalecer o nome da legenda nas eleições municipais deste ano e tentar controlar prefeituras de cidades grandes e capitais e, a partir daí, pensar em 2022 “com independência e autonomia, para não sermos meros coadjuvantes, mas sim, protagonistas”, garante o deputado Efraim Filho (DEM-PB). “O partido tem experimentado a sua melhor fase  nos últimos anos. A pretensão é aumentar o número de capitais em 2020. Para nós, isso é visto como um degrau para as eleições presidenciais”, detalha.