A ausência do ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em depoimentos convocados pelo Ministério Público (MP-RJ) teria contado com o consentimento do presidente Jair Bolsonaro, segundo um livro-reportagem que será lançado na próxima semana.
Na obra, a jornalista Thaís Oyama afirma que Bolsonaro e o advogado Frederick Wasseff atuaram para postergar o depoimento de Queiroz e levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), contrariando orientação dos advogados.
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Bolsonaro admite estar indeciso sobre subsídio a contas de luz das igrejasBolsonaro fica irritado com menção a QueirozBolsonaro sobre Democracia em vertigem: 'para quem gosta do que o urubu come, é um bom filme'Estados Unidos sinalizam que vão apoiar entrada do Brasil na OCDEDe acordo com a autora, a estratégia inicial da defesa de Fabrício Queiroz seria o comparecimento na data em que o depoimento foi marcado. Ainda segundo a publicação, Queiroz diria que não poderia prestar esclarecimentos até que seus advogados tivessem acesso à investigação, e assumiria total responsabilidade pelas transferências financeiras - um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia identificado transações incompatíveis com sua renda, e depósitos feitos por outros funcionários do gabinete de Flávio na Alerj, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo.
O plano da defesa, no entanto, teria sido abortado por ordem de Bolsonaro, após ele ser convencido de que deveria levar o caso ao STF. "O presidente eleito fora convencido por um advogado amigo que a melhor estratégia para abafar a história era tirar Queiroz e o Ministério Público Estadual do cenário e, por meio do foro privilegiado de Flávio, jogar o caso para o STF - onde poderiam resolvê-lo 'de outra maneira'", escreve Thaís.
Ela atribui a estratégia a Frederick Wassef, atual advogado de Flávio e do presidente. Procurado, o advogado não retornou as ligações.
Um detalhe que teria surpreendido a cúpula ao redor do então presidente eleito, segundo a autora, foi um depósito de Fabrício Queiroz à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, identificado pelo Coaf. A informação sobre a transferência consta em reportagem publicada pelo Estado em dezembro de 2018. O presidente já havia sido informado sobre a existência do relatório, de acordo com o livro, mas não sobre o repasse.
Sérgio Moro
Com base em um pedido da defesa de Flávio, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, decidiu suspender ano passado todas as investigações que utilizavam relatórios do Coaf - decisão depois revertida no fim de 2019.
O livro afirma que uma articulação pela derrubada da liminar quase custou o cargo do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Segundo a autora, Moro procurou Toffoli para argumentar contra a suspensão, que prejudicava centenas de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
Bolsonaro teria ficado furioso, diz a autora, e dissuadido da demissão pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.
"O general Heleno, que já tinha gastado seu arsenal de argumentos em defesa do ministro, ao notar a determinação do presidente, descarregou a última bala: 'Se demitir o Moro, o seu governo acaba', disse", escreve Thaís Oyama em Tormenta. Procurado, o Palácio do Planalto disse que não comentaria as afirmações no livro oficialmente. A defesa de Fabrício Queiroz não foi localizada pela reportagem. O espaço está aberto para manifestações.