Jornal Estado de Minas

Cada vez mais enfraquecido no governo, Lorenzoni vira incógnita


Brasília – A situação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no governo é uma incógnita, depois do amplo esvaziamento da sua pasta. Ele afirmou ontem que não pensa em deixar o governo. “Vou ver se ele (Bolsonaro) me recebe hoje ou amanhã, e com tranquilidade a gente vai conversar e resolver todas essas questões”, disse. Mas, em repouso, após passar por procedimento de vasectomia, Jair Bolsonaro manteve reuniões com aliados no Palácio da Alvorada na manhã de ontem, sem a presença de Lorenzoni. Ele recebeu os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). Ao deixar o local, Heleno respondeu que a condição de saúde do presidente “está ótima”.



O ministro antecipou o retorno das férias ao Brasil devido à crise que resultou na demissão de Vicente Santini, ex-secretário-executivo de Onyx, e ao esvaziamento da Casa Civil. No Planalto, as informações são de que o presidente não pretende receber o ministro. A justificativa seria que ele precisa manter o repouso.

“Nós tivemos um episódio bem localizado, que já está resolvido. Agora é sentar, ouvir do presidente o que ele deseja da gente e dar sequência”, disse Onyx. O ministro seguiu do aeroporto de Brasília para a sua casa. Depois, foi ao Palácio do Planalto, onde já teve conversa com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que não detalhou a conversa que teve com Onyx. “Nós somos companheiros de equipe.” Segundo o ministro do GSI, Bolsonaro está com a saúde “ótima”, mas não foi ao Palácio do Planalto. “Daqui      pra frente, vida normal”, afirmou.

A desautorização de decisões tomadas pela Casa Civil e a transferência do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia impõem ao titular da pasta, Onyx Lorenzoni, uma desidratação inédita no governo, sobretudo porque o ministro é um aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro. Mas as medidas tomadas na quinta-feira pelo chefe do Planalto repercutiram rapidamente na Esplanada dos Ministérios. A leitura feita por parlamentares e no próprio Executivo é de que isso abre a possibilidade de discussão de uma reforma ministerial.



O cabo de guerra nos bastidores está montado, mas Lorenzoni não será destituído do cargo. É esperada uma readequação na Presidência da República, na qual a Casa Civil deve receber algumas estruturas já existentes e uma secretaria para articular a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Já houve desgaste demais com coisas moralmente ruins, mas insuficientes para derrubar o Onyx”, analisa um interlocutor governista, embora reconheça o estremecimento na relação. “Abalada ela já está. Fica inconveniente, mas não é hora para falar em demissão”, disse.

A reestruturação no Planalto, entretanto, abre espaço para a discussão de mudanças nos primeiros escalões. É aí que estão os entraves. Enquanto Bolsonaro culpa a classe pol
ítica por almejar postos de destaque no governo, congressistas argumentam que, na verdade, é ele quem inicia algumas das ideias de ajustes na Esplanada, como o desmembramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública em dois.

“Foi o presidente quem aventou a ideia, sinalizando ceder o eventual recriado Ministério da Segurança Pública para o Fraga”, aponta um parlamentar, numa referência ao ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF). O ex-deputado é um dos principais conselheiros de Bolsonaro, para quem o presidente chega a ligar até de madrugada.



Deputados e senadores não negam o interesse em, eventualmente, assumir um ministério. É prestígio e caminho para mostrar serviço e elevar capital político nas bases eleitorais. Mas eles garantem que as conversas por mudanças na Esplanada não partem unicamente do Congresso. O próprio governo, antevendo votações importantes no Parlamento neste ano, não descarta ceder espaços a aliados mais fiéis.

No Ministério da Educação, por exemplo, há uma ala que trabalha com a possibilidade de o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), vice-líder do governo no Senado, assumir o comando da pasta em uma eventual exoneração do titular, Abraham Weintraub, que, na quinta-feira, foi criticado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM-RJ. Já o Ministério da Saúde, que detém o maior orçamento da Esplanada, de R$ 136,25 bilhões — segundo o Portal da Transparência —, é outro cobiçado numa eventual reforma ministerial. Alguns partidos tentam emplacar o nome do deputado Ricardo Barros (PP-PR) no lugar de Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Divisão

Nos bastidores, o Executivo acena com a possibilidade de dividir o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e transformar a Secretaria Especial da Cultura em ministério, retirando-a da pasta do Turismo. Uma reestruturação do Ministério da Cidadania também não está descartada. Nessa formatação, o titular, Osmar Terra (MDB), permaneceria como ministro do Desenvolvimento Social, liberando a Secretaria Especial de Esportes.



Tudo ainda está sendo analisado e dialogado. O próprio Bolsonaro reconheceu, na terça-feira, que existem disputas por espaços no governo. Admitiu que, até hoje, tentam dividir o MDB. “Isso é comum. (...) O pessoal quer a luta pelo poder, o tempo todo tem alguém beliscando um ministério”, declarou. Não afirmou, contudo, que fará, de fato, uma reforma ministerial. Mas, também, não garantiu a permanência de todos os ministros nas atuais estruturas. Disse que o único garantido no posto é o vice-presidente Hamilton Mourão, justamente porque foi eleito.