O presidente Jair Bolsonaro anunciou, nesta quinta-feira (6/2), a quinta mudança em seu ministério em pouco mais de um ano de governo. O chefe do Executivo nomeou ministro do Desenvolvimento Regional o atual secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, ex-deputado federal pelo (PSDB).
Ele substitui Gustavo Canuto, que será realocado para presidir a Dataprev, a empresa de processamento de dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A missão dele será resolver um dos maiores problemas do governo atualmente: a fila de 1,3 milhão de pessoas que aguardam o processamento de pedidos de aposentadoria. Bruno Bianco, adjunto de Marinho, assumirá interinamente a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.
Lacônico, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, informou que Canuto foi escolhido para a Dataprev por ser o quadro mais preparado para enfrentar o desafio. “Ele é engenheiro da computação pela Unicamp, trabalhou por seis anos na IBM e é efetivo do Ministério da Economia há mais de nove anos. Foi selecionado por ser um dos melhores quadros para resolver o problema do INSS”, enfatizou. Depois, virou as costas e foi embora. Não se despediu, como de praxe, nem perguntou aos jornalistas se havia perguntas.
A nova postura coincide com a fala do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten — alvo de inquérito da Polícia Federal sobre indícios de corrupção, peculato (apropriação de recursos públicos) e advocacia administrativa, quando o gestor usa cargo público para defender interesses privados. Wajngarten disse que a publicação da matéria que deu início às investigações da PF explodiu as pontes com grupos de comunicação.
Apesar das acusações, o secretário de Comunicação está na lista dos preservados por Bolsonaro, assim como o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que tem sido garantido no cargo, apesar do descontentamento social com seu desempenho, principalmente depois do erros do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um grupo de deputados chegou a apresentar um pedido de impeachment de Weintraub no Supremo Tribunal Federal (STF), mas Bolsonaro tem afirmado que vai mantê-lo na pasta.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado no ano passado pela Polícia Federal em inquérito sobre o uso de candidaturas laranjas no PSL, em Minas Gerais, também permanece no comando da pasta.
As razões do presidente para substituir seus ministros não parecem passar pelo crivo policial ou da qualidade das políticas públicas. Estão mais relacionadas à quebra de confiança.
Trocados
Até então homem de confiança de Bolsonaro, coordenador da campanha eleitoral de 2018, Gustavo Bebianno foi o primeiro a ser trocado e começou a ficar frágil no cargo de secretário-geral da Presidência depois da publicação de uma reportagem revelando que ele repassou R$ 400 mil para a campanha de uma candidata a deputada federal de Pernambuco que teve apenas 274 votos. Mas ele acabou demitido do cargo, que ocupou por apenas 48 dias, depois de bater de frente com um dos filhos do presidente — foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro. Bebianno deu lugar ao general da reserva Floriano Peixoto.
O colombiano Ricardo Vélez Rodriguez foi o primeiro ministro da Educação da gestão Bolsonaro. Ficou no posto até abril e foi substituído por Weintraub depois de protagonizar uma verdadeira batalha entre grupos ligados a militares, técnicos e olavistas (seguidores do “guru” Olavo de Carvalho), que acabou com um saldo de 14 exonerações ou remanejamentos.
Traíras
Nesta quinta-feira (6/2) à tarde, Bolsonaro transmitiu pelas redes sociais, e comentou, o pronunciamento feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o encerramento do processo de impeachment do qual o americano se livrou. Ao manifestar diversas vezes sua solidariedade ao mandatário dos EUA e justificar a necessidade de acompanhar Trump para a “qualidade das relações bilaterais”, Bolsonaro comparou os desafios do colega com os seus.
“Também teve um traíra lá. Então, não é privilégio nosso ter traíra na política. Lá também pintou um traíra republicano. Nunca mais serão esquecidos”, afirmou. “Assim como os traíras aqui, que se elegeram, depois deram as costas para mim e bandearam para um outro lado.”
Bolsonaro disse que se fosse alvo de um processo de impeachment, os “traíras” ficariam contra ele. “Mas o interesse de uma parte do PSL falou mais alto, falou mais alto para poder ficar com o partido, com o fundão bilionário”, afirmou, em referência à divisão em seu antigo partido, o PSL, que culminou na sua desfiliação e no processo de abertura da legenda que pretende criar, o Aliança pelo Brasil.
Cinco mudanças
Veja as alterações na Esplanada em um ano de governo
- Desenvolvimento Regional (Gustavo Canuto foi trocado por Rogério Marinho)
- Educação (Saiu Ricardo Vélez Rodríguez e entrou Abraham Weintraub)
- Secretaria de Governo (Luiz Eduardo Ramos substituiu Carlos Alberto dos Santos Cruz)
- Secretaria-Geral (Gustavo Bebianno deu lugar a Floriano Peixoto; Floriano Peixoto foi substituído por Jorge Oliveira)
Lewandowski julgará
Os parlamentares pedem a destituição de Abraham Weintraub por ter cometido crime de responsabilidade ao violar uma série de princípios constitucionais que regem a administração pública. Eles também o acusam de quebra de decoro. O pedido será analisado pelo ministro Ricardo Lewandowski, mas ainda não há uma data definida para a decisão.
Bolsonaro volta à carga contra governadores
O presidente Jair Bolsonaro voltou a alfinetar governadores ao falar sobre o preço dos combustíveis. O chefe do Executivo afirmou, nesta quinta-feira (6/2), na saída do Palácio da Alvorada, que é “melhor não baixar” os valores nas refinarias, uma vez que a redução não é repassada aos consumidores. “Parece que hoje (nesta quinta-feira — 6/2) diminuiu de novo o preço do combustível. Se diminuiu, com todo o respeito, não pode diminuir mais, porque não chega para o consumidor. Se não chega ao consumidor, a gente está dando varada na água”, criticou. “Eu estou mostrando que a responsabilidade do preço do combustível é minha e dos governadores também. Não fiquem só jogando em cima de mim.”
Bolsonaro disse que cada vez que “peita” um problema desse, encontra “um montão de inimigo que tem amizade com a imprensa, com poderes, e os caras trabalham contra o tempo todo”. “A gasolina baixou na refinaria hoje (nesta quinta-feira — 6/2). Quanto vai baixar na bomba para o consumidor? Zero. Então, eu estou fazendo aqui um papel de otário. Se bem que eu não interfiro na Petrobras.”
Na quarta-feira, Bolsonaro lançou um “desafio” para os governadores: prometeu zerar os tributos federais sobre os combustíveis se eles abrissem mão de cobrar o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do produto. No domingo, o presidente afirmou, por meio das redes sociais, que enviará ao Congresso uma proposta para mudança no sistema de tributação estadual sobre combustíveis. Ele defende que o ICMS do produto, recolhido pelos estados, tenha um valor fixo por litro.
Na segunda-feira, governadores de 23 unidades da Federação divulgaram uma carta rebatendo o presidente. No documento, afirmam que os entes são autônomos para decidir a alíquota do ICMS, responsável pela “principal receita dos estados para a manutenção de serviços essenciais à população”. O grupo também cobrou do governo um “debate responsável” e “nos fóruns apropriados, debater e construir soluções”.
Bateu, levou
O comandante do Planalto rebateu declaração do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que classificou como “populista” o “desafio” do presidente. “Dois governadores que estão me criticando: isso não é populismo, é vergonha na cara. Ou você acha que o povo está numa boa? Está todo mundo feliz da vida com o preço do gás, da gasolina, do transporte?”, questionou.
O outro governador citado por Bolsonaro foi Wilson Witzel, do Rio de Janeiro. O chefe do Executivo federal disse que os dois o atacam de olho nas eleições. “O Doria e o Witzel, pelo que eu sei, são candidatos a 2022, é direito deles. Agora, me colocar como um obstáculo... Eu tenho de ser massacrado para atingir seus objetivos?”
Ele aproveitou para dar uma estocada em Witzel, mencionando o problema da água no Rio de Janeiro. “Me elegeram como alvo: ‘Olha, tem que derrotar esse cara, porque se ele vier candidato, vai ele e o PT para o segundo turno e daí estamos fora’. Eu não estou preocupado com isso. Vou fazer o meu trabalho. Agora, eles, não”, disparou. “Em vez de mostrar o serviço deles... pergunta para o Witzel como é que está a água do Rio de Janeiro. Alguém quer tomar um copo de água do Rio de Janeiro, aí? Agora, botaram detergente na água, olha que coisa linda. Agora, problema dele, eu não vou dar pancada nele. Ele que tem que resolver.”
“Imbrochável”
O presidente Jair Bolsonaro disse que não está focado no pleito de 2022. “Não estou preocupado com reeleição. Podem continuar escrevendo. Não vou brochar para atender vocês (jornalistas) pensando em reeleição. Eu sou imbrochável”, destacou.