Jornal Estado de Minas

SECRETARIA DE CULTURA

Regina Duarte cobra carta branca


Brasília – O evento de posse da secretária especial de Cultura, Regina Duarte, foi marcado por um mal-estar entre ela e o presidente da República, Jair Bolsonaro. Enquanto a nova secretária disse em discurso que aceitou o cargo sob a promessa de ter "carta branca" – expressão que significa ter a possibilidade de atuar da forma livre, escolhendo sua equipe de forma autônoma –, o presidente lembrou que manterá seu poder de veto a alguns nomes.



"O convite que me trouxe até aqui falava em porteira fechada, carta branca. Não vou esquecer não, presidente. Foi inclusive com esses argumentos que eu me estimulei e trouxe para trabalhar comigo uma equipe apaixonada, experiente, louca para botar a mão na massa", disse Regina. No seu discurso, Bolsonaro ponderou: "Regina, todos os meus ministros também receberam seus ministérios sob porteira fechada. É um linguajar político. Ou seja, ele tem liberdade para escolher seu time. Obviamente, em alguns momentos eu exerço poder de veto em alguns nomes. Já o fiz em todos os ministérios. Até para proteger a autoridade, que, por vezes, desconhece algo que chega ao nosso conhecimento. Isso não é perseguir ninguém, é colocar o ministério, as secretarias na direção que foi tomada pelo chefe do Executivo", disse.

Ainda no evento, Bolsonaro disse que Regina "merece mais" do que a secretaria, mas que a atriz vai passar por um "momento probatório", em uma sinalização de que poderia eventualmente recriar o Ministério da Cultura. "Já falei, prezada Regina Duarte, você merece mais do que isso. Você vai passar por um momento probatório e tenho certeza que a senhora passará. Você não está vendo um brucutu na sua frente, está vendo um amigo. E a grande ponte para chegar até ele está ao seu lado", afirmou o presidente a Regina, que estava sentada ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

No dia da posse, Regina Duarte sofreu críticas de apoiadores do governo nas redes sociais por possíveis alterações na Secretaria da Cultura. A #ForaRegina alcançou o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter brasileiro na manhã de ontem. Os críticos da atriz a acusam de ser um "cavalo de Troia" por, entre outras coisas, tirar nomes ligados ao ideólogo Olavo de Carvalho. Um dos demitidos foi Dante Mantovani, que ocupava a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e é aluno do escritor Olavo de Carvalho.



Em seu discurso de posse, Regina afirmou, emocionada, que a intenção será a de pacificar o diálogo entre o governo federal e a classe artística. "Meu propósito aqui é pacificação
 e diálogo permanente com o setor cultural, com estados e municípios, com o Parlamento e com os órgãos de controle", afirmou a nova secretária.

Algumas ausências no evento de posse já demonstram rusgas na relação de Regina dentro da Secretaria, que é subordinada ao Ministério do Turismo, e as dificuldades para formar sua equipe. O jornalista Sérgio Camargo, escolhido para comandar a Fundação Palmares, antecipou anteontem que não participaria da posse porque Regina exigiu sua exoneração. Apesar disso, ele afirmou que "segue firme no cargo".

"Minha exoneração foi exigida pela secretária Regina Duarte e vetada pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e pelo presidente Jair Bolsonaro. Sigo firme no cargo", disse Camargo. "Ela quer abrir diálogo com o movimento negro. Digo que é ingenuidade, para ser gentil", afirmou o jornalista. Camargo foi indicado pelo ex-secretário Roberto Alvim, demitido em 17 de janeiro após parafrasear o nazista Joseph Goebbels em discurso. Apesar da resistência de Regina, ele segue no cargo porque caiu nas graças do presidente Jair Bolsonaro após forte repercussão de declarações como "o Brasil tem um racismo nutella".

O presidente da Fundação Palmares chegou a ser impedido pela Justiça de assumir o cargo, mas a decisão foi revertida após recurso do governo. O jornalista ainda aguarda a sua nomeação, mas esteve ontem no Palácio do Planalto e tirou fotos com Bolsonaro.