Um dia após jornalistas se retirarem de entrevista depois de o presidente Jair Bolsonaro estimular apoiadores a hostilizar os repórteres, um segurança da Presidência pediu, nesta quarta-feira, dia 1º, que as pessoas na portaria do Palácio do Alvorada evitassem criticar os repórteres. O pedido foi feito quando Bolsonaro se preparava para deixar a residência oficial.
No dia anterior, o presidente havia sido questionado sobre declarações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem defendido o isolamento social para evitar a propagação do coronavírus no País, na contramão do que tem dito o próprio Bolsonaro.
"Eu não sei o que ele falou. Eu parto do princípio que eu tenho que ver, não só ler o que está escrito", começou a responder Bolsonaro. Um apoiador, porém, o interrompeu e passou a hostilizar os jornalistas, com xingamentos. Instado a continuar a responder, o presidente afirmou que quem responderia seria o apoiador, que se identificou como "professor opressor".
"É ele que vai falar, não é vocês não", disse, mandando os repórteres ficarem quietos. Neste momento, os jornalistas que estavam no local, uma área cercada na entrada da residência oficial, se retiraram.
A atitude surpreendeu Bolsonaro, que questionou: "Vai embora? Vai abandonar o povo? A imprensa que não gosta do povo", disse o presidente.
Ataques constantes
Os ataques contra a imprensa por parte de Bolsonaro têm se tornado constantes nas entrevistas que concede em frente ao Palácio da Alvorada. Na segunda-feira, 30, após ser criticado por especialistas ao contrariar recomendações médicas e circular por áreas comerciais de Brasília, provocando aglomerações, o presidente disse que iria falar sem aceitar perguntas. No início do ano, chegou a mandar um repórter "calar a boca" e a ofender jornalistas que fizeram reportagens que o incomodaram.
As declarações hostis costumam ter o apoio da claque que diariamente aguarda a saída e a chegada do presidente na residência oficial. Por determinação da segurança presidencial, os jornalistas precisam ficar em uma área cercada por grades, ao lado de onde se concentram os apoiadores.
Depois de um período em que poucos apareceram por lá por causa das recomendações de se evitar aglomerações, os apoiadores voltaram a ir ao local diariamente, estimulados pelo pronunciamento do presidente do dia 24 de março em que chamou de "gripezinha" a covid-19, que já matou 201 pessoas no Brasil (até a noite desta terça-feira).