O ministro Luiz Henrique Mandetta já fala como ex-membro do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Nesta quarta-feira (15), ele disse que está cansado de “medir palavras” e das incoerências do presidente.
“São 60 dias nessa batalha. Isso cansa! Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa (Bolsonaro) entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante”, disse o ainda ministro à revista Veja.
Quanto ao trabalho que será desempenhado pelo seu sucessor, Mandetta disse que pode ajudar no que lhe couber, mas que a opinião pública e o vírus vão se impor. “O vírus se impõe. A população se impõe. O vírus não negocia com ninguém. Não negociou com o (Donald) Trump, não vai negociar com nenhum governo”, sustentou.
Quanto ao seu futuro, ex-deputado negou retornar ao Poder Legislativo e disse que as eleições de 2022 ainda estão longe. “Eu nunca planejei nada. A vida foi me apresentando oportunidades. Algumas eu aproveitei, outras não. A eleição é só em 2022! Até lá tem muita coisa para acontecer. Agora tenho de trabalhar, ganhar o pão. Tenho meus filhos na faculdade ainda, tenho um netinho”, afirmou.
Mandetta também garantiu que não se arrependeu de ter entrado no governo e disse que não sabe quem será seu substituto. “Nós vamos ajudar quem entrar, se quiser nossa ajuda. A gente tem compromisso com o país”.
Histórico e cotados
Luiz Henrique Mandetta vive em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro há semanas. O presidente chegou a afirmar que não tinha receio de usar a “caneta” contra membros do governo que viraram “estrelas”.
A dispensa quase foi oficializada em 6 de abril, quando o presidente ameaçou demitir o ministro, mas desistiu da ideia. Militares do governo, como o general Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Governo), foram peças-chave para a reavaliação.
Um dos cotados para assumir o lugar de Mandetta é o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo. Ele tem se alinhado ao discurso do governo e geralmente é quem mais fala na ausência do ministro. Ele chegou, por exemplo, a dizer que praticava corridas em meio à quarentena.
Considerado favorito, o primeiro da lista é o oncologista Nelson Teich, que atuou na campanha eleitoral do presidente e tem apoio da classe médica.
Em 2018, a aproximação entre Teich e o então candidato ao Planalto ocorreu por meio do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Na transição do governo, Teich foi cotado para comandar a Saúde, mas perdeu a vaga para Mandetta.
Outro nome considerado é o deputado federal Osmar Terra, negacionista da gravidade da pandemia de COVID-19 e que tem realizado encontros reiterados com o presidente.
Terra é visto com receio pelo Legislativo e Judiciário, já que tem negado a eficácia de medidas adotadas em todo o mundo contra a doença, como o isolamento social e aplicação de quarentena nas regiões mais afetadas.
Com Estadão Conteúdo