O substituto será o oncologista Nelson Teich, que se reuniu com Bolsonaro na manhã desta quinta, em Brasília. No encontro, o médico apresentou propostas de enfrentamento à COVID-19 no país.
Pelo Twitter, Mandetta anunciou a demissão. "Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar. Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país", publicou.
Ciente a iminência da demissão, Mandetta adotou um discurso de despedida desde essa quarta-feira. Em entrevista coletiva, o então ministro da saúde disse “não ser insubstituível” e que as ações propostas pela pasta no combate ao avanço da COVID-19 no país são baseadas em ciência.
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Mandetta descarta continuação e critica contrassensos de Bolsonaro: ''São 60 dias nessa batalha. Isso cansa''Bolsonaro compartilha vídeo que critica Mandetta e Doria e ataca isolamentoBH tem panelaços durante pronunciamento de Bolsonaro; veja Mandetta poupa críticas a Bolsonaro e se despede: 'Estamos só no começo dessa batalha'São Paulo tem 853 mortes pelo novo coronavírus, 75 nas últimas 24 horasConheça o novo ministro da SaúdeNelson Teich assumirá Ministério da Saúde no lugar de MandettaMais tarde, Mandetta subiu o tom, desabafou e fez claras críticas à postura do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia. “São 60 dias nessa batalha. Isso cansa! Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa (Bolsonaro) entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante”, disse, em entrevista à revista Veja.
Enquanto esteve no cargo, Mandetta seguiu recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e orientou um confinamento mais abrangente, que incluísse a maioria da população, com o objetivo de evitar mortes e sobrecarga no sistema de saúde. Já Bolsonaro, com o propósito de reduzir danos econômicos, defende o chamado “isolamento vertical”, em que apenas aqueles que estão em grupos de risco (idosos e pessoas com doenças crônicas) devem ficar em casa.
Tensões
Porém, dias depois, Bolsonaro desrespeitou publicamente recomendações do Ministério da Saúde e causou aglomerações em três dias consecutivos - duas vezes em Brasília e uma na cidade goiana de Águas Lindas. A atitude do presidente foi mal recebida por Mandetta e outros integrantes da pasta.
A tensão voltou a crescer quando o ministro concedeu uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no último domingo. Mandetta lamentou as divergências no combate à pandemia e disse que a o brasileiro não sabe quem deve escutar: o Ministério da Saúde ou o presidente. As declarações irritaram o governo e aumentaram a pressão pela demissão, agora com o aval da própria “ala militar”.
"O presidente olha pelo lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, entende a cultura e educação, mas chama pelo lado de equilíbrio e proteção à vida. Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentação possa ser comum e termos uma ala única, uma fala unificada. Porque isso leva pro brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se ele escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem é que ele escuta”, disse Mandetta, na ocasião.
Trajetória
Médico ortopedista, Luiz Henrique Mandetta, de 55 anos, foi deputado federal em duas legislaturas pelo DEM do Mato Grosso do Sul, entre 2011 e 2018. Indicado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), foi convidado por Bolsonaro, em novembro de 2018, para assumir o Ministério da Saúde.
Antiabortista e crítico ferrenho do programa Mais Médicos, criado pelo governo Dilma Rousseff (PT) em 2013, Mandetta era bem avaliado por Bolsonaro até o início da crise do coronavírus no Brasil. As discordâncias e tensões públicas, porém, colocaram fim à passagem do médico pela pasta.