Durante seu pronunciamento semanal pelo Facebook, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), voltou a priorizar a questão econômica em detrimento das medidas de combate ao coronavírus.
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O argumento desenvolvido por Bolsonaro é incoerente, pois mistura expectativa de vida com impacto do coronavírus. De fato, cidadãos do Zimbábue (país com renda per capita de 2.147 dólares) vivem menos do que brasileiros. No país africano, a expectativa de vida é de 60,8 anos contra 75,4 do Brasil (onde a renda bruta por habitante de 8.920 dólares), segundo dados do Banco Mundial.
Entretanto, o índice de letalidade provocada pelo vírus não é diretamente proporcional aos econômicos. No Zimbábue, há apenas quatro casos de morte por coronavírus confirmados.
Por outro lado, os seis primeiros países do globo com maior número de óbitos pela COVID-19 são do chamado “Primeiro mundo”: Estados Unidos, Itália, Espanha, França, Reino Unido e Alemanha.
Os Estados Unidos, país que lidera o funesto ranking de mortes, com mais de 50 mil óbitos, têm uma renda per capita de 62.794 dólares, quase oito vezes maior que a do Brasil.
A quantidade de óbitos em outros países desenvolvidos não serve de sustentação ao argumento de Bolsonaro. Na Itália, país com renda per capita de 34.483 dólares, a doença matou 25.549 pessoas.
Os números são semelhantes na Espanha (30.370 dólares per capita/22.157 mortes), França (41.463/21.856 mortes), Reino Unido (42.943 dólares/18.738 mortes) e Alemanha (47.603 dólares/5.503 mortes).