Sérgio Moro não é mais ministro da Justiça e Segurança Pública. Ele anunciou a saída durante pronunciamento na manhã desta sexta-feira, na sede da pasta, em Brasília, em função da interferência política, segundo o ex-juiz. O substituto ainda não foi anunciado.
A saída ocorre depois de algumas desavenças com presidente Jair Bolsonaro, sendo a última referente à demissão do diretor-geral da Polícia Federal, delegado Maurício Leite Valeixo, publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União (DOU),
Ele admitiu que a demissão de Valeixo o motivou a deixar o governo. "Falei para o presidente que aceitava trocar o comando da PF, mas com motivo, em caso de erro", disse ele, que vê "interferência política" na decisão presidencial, o que iria contra o que foi acordado anteriormente.
O ex-juiz era um dos pilares do Governo Bolsonaro. O outro é o ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem se mostrado desconfortável no cargo e não esteve presente no anúncio do programa de medidas propostas pelo governo federal para enfrentar a pandemia do coronavírus, chamado Pró-Brasil, na quinta-feira.
Acusação grave
"O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. A interferência política pode levar a relações impróprias entre o diretor da PF e o presidente da República. Não posso concordar", disse Moro, ao comentar as pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF. "O presidente me quer fora do cargo."
De acordo com Moro, a partir do segundo semestre do ano passado, "passou a haver uma insistência do presidente com a troca do comando da Polícia Federal". "O presidente passou a insistir também na troca do diretor-geral. Eu disse: 'Não tenho nenhum problema em trocar o diretor-geral, mas eu preciso de uma causa'. (…) Estaria claro que haveria interferência política na PF'. O problema é: por que trocar? Por que alguém entra? As investigações têm de ser preservadas", disse.
Ao falar do governo Dilma Rousseff, o ministro observou que "é certo que o governo da época tinha muitos defeitos, mas foi fundamental a autonomia da PF". "Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante os trabalhos. O governo da época tinha inúmeros defeitos, crimes de corrupção, mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que fosse realizado o trabalho. Isso permitiu que os resultados fossem alcançados."
Derrotas
Desde que abandonou 22 anos de magistratura para entrar no governo, Sergio Moro tem acumulado uma série de derrotas. O pacote anticrime formulado por ele, por exemplo, foi desidratado pelo Congresso. Recentemente, Bolsonaro também tentou esvaziar o Ministério da Justiça, retirando de Moro a parte reservada ao combate à criminalidade, justamente uma das áreas que apresentava melhor resultado até aqui. O plano do presidente era entregar a área que cuida da Polícia Federal para o ex-deputado Alberto Fraga (DEM), amigo de Bolsonaro.
STF
Segundo Moro, ao aceitar o convite para comandar a Justiça, nunca houve a condição para que ele depois assumisse uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). "O compromisso (ao assumir ministério) era aprofundar o combate à corrupção", afirmou.
"Busquei ao máximo evitar que isso (a minha saída) acontecesse, mas foi inevitável", disse Moro. "Não foi por minha opção."
Sucessão
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), já articula para emplacar o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, no lugar de Moro. Crítico do ex-juiz, Ibaneis disse que Torres, que é amigo de Bolsonaro, seria um ministro "100 vezes melhor" que Moro.