O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro concordou com a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, apenas a partir de novembro. Seria quando o presidente poderia indicá-lo para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). "Não é por aí. É desmoralizante para um presidente ouvir isso", disse. O presidente falou em pronunciamento nesta sexta-feira (24), repercurtindo o pedido de demissão de Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Veja o pronunciamento completo do presidente Jair Bolsonaro:
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Durante o pronunciamento, o presidente afirmou que Valeixo havia demonstrado vontade de deixar o cargo desde janeiro e que estava cansado. Segundo Bolsonaro, nessa quinta-feira (23), ele informou a Moro sobre a exoneração de Valeixo, "ao que tudo indicava, a pedido". Então, de acordo com o presidente, o ex-ministro disse que queria indicar o substituto.
O presidente falou na confiança da relação com Moro. "Eu sempre abri meu coração pra ele. Duvido que ele sempre abriu pra mim. Confiança tem quer ser uma via de mão dupla", ponderou. Em outro momento da fala, Bolsonaro disse que não aceitaria ter a sua autoridade confrontada por nenhum ministro.
Em resposta à acusação de Moro de que pedia informações da Polícia Federal, Bolsonaro afirmou que pedia relatórios a fim de tomar melhores decisões, e não detalhes de processos. "Quase que implorando informações." O presidente afirmou que não há possibilidade de interferir na corporação, já que a sua estrutura garante autonomia.
O presidente se queixou de que não tinha contato com Maurício Valeixo. "Conversei poucas vezes com ele. A maioria das vezes estava com Sergio Moro do lado", disse. Bolsonaro afirmou que queria um diretor-geral com quem pudesse "interagir".
Acusações de interferência na PF
Na manhã desta sexta-feira, em coletiva de imprensa para anunciar a sua demissão, Sérgio Moro acusou o presidente Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, o que seria o principal motivo da saída do governo. Segundo o ex-ministro, o desejo de Bolsonaro ao insistir em exonerar Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da corporação era ter alguém com quem pudesse ter contato no comando da PF e colher informações.
“O presidente me disse mais de uma vez que ele queria ter uma pessoa de contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência, seja o diretor, seja o superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal”, afirmou Moro.
O ex-juiz defendeu que “as investigações precisam ser preservadas”. Ele disse que durante os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, alvos da Operação Lava-Jato, não houve esse tipo de interferência.
Moro apontou que o problema não era a exoneração de Valeixo, mas que não havia motivo técnico para isso. De acordo com o ex-ministro, o presidente se mostrou preocupado com investigações que estão em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), sem citar quais.
*Estagiário sob supervisão da editora-asistente Vera Schmitz