A saída do ministro da Justiça, Sérgio Moro, não só indica o agravamento da crise política e uma guinada no governo como põe as cartas na mesa para a disputa eleitoral de 2022. Até hoje, o presidente Jair Bolsonaro era um jogador praticamente solitário no campo da direita e da extrema direita, mas agora terá Moro como desafiante de peso.
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Carla Zambelli mostra novos trechos de conversa com Moro em que fala de vaga no STF'Preservar PF de interferência política não é questão pessoal', diz MoroBolsonaro recebe deputado para falar 'sobre o futuro'Moro se tornou o principal algoz do presidente e alimenta agora a polarização com a esquerda. Em um tempo de pandemia de coronavírus, com Bolsonaro distribuindo cargos em troca de apoio no Congresso e prestes a se casar de papel passado com partidos do Centrão - a quem sempre chamou de "velha política" -, aliados de Moro dizem que "a Lava Jato pulou fora do governo" para não naufragar com ele.
"É o princípio do fim desse governo", resumiu o deputado Capitão Augusto (PL-SP), coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública. "Vemos com preocupação esta postura intransigente do presidente Jair Bolsonaro, que o fez perder um dos seus grandes aliados na luta pela construção de um Brasil mais justo e honesto".
A cúpula do PT, por sua vez, iniciou a campanha do "Fora Bolsonaro". Em post publicado no Twitter, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que foi condenado por Moro e ficou 580 dias preso - disse não saber como as instituições ainda não reagiram a Bolsonaro. "É preciso começar o Fora Bolsonaro porque não é possível a gente permitir que ele destrua a democracia", afirmou o petista.
Filiação
Em seu pronunciamento, Moro deu todas as pistas de que almeja uma candidatura ao dizer estar disposto a servir o Brasil a qualquer tempo. "Independentemente de onde esteja, sempre foi estar à disposição do País'', disse. O Podemos, partido do senador Álvaro Dias (PR), é um dos que querem filiar o ex-ministro.
"A saída do ministro Sérgio Moro (...), uma opção do presidente da República, representa o afastamento do governo Bolsonaro do sentimento popular e do combate à corrupção. É a derrota da ética", afirmou Dias, em nota.
No Congresso a bancada lavajatista já se move para lançar o ex-juiz como candidato ao Palácio do Planalto, em 2022.
Na prática, a ferida aberta no bolsonarismo com a demissão do titular da Justiça, até então o mais popular da equipe, é maior do que se imagina. O agora ex-ministro escancarou bastidores de conversas com Bolsonaro com detalhes que deixaram a República perplexa. Ao relatar pressões para defenestrar o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, Moro afirmou: "Falei ao presidente que seria interferência política. Ele disse que seria mesmo".
A abertura de inquérito no STF para investigar quem organizou e financiou manifestações em defesa da ditadura militar, no domingo, é apenas uma das pontas dessa história. Há uma CPI das Fake News no Congresso em andamento e outras apurações em curso, envolvendo até mesmo filhos de Bolsonaro.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, (DEM-RJ), não pretende autorizar agora um processo de impeachment contra Bolsonaro. Apesar da pressão sofrida por líderes de vários partidos, Maia disse a interlocutores com quem conversou na sexta-feira que é preciso cautela.
A avaliação é de que, embora haja uma grave deterioração do governo Bolsonaro, a pandemia do coronavírus no Brasil deve adiar qualquer decisão sobre impeachment neste momento.
Há na cúpula do Congresso e até do Supremo a percepção de que é preciso aguardar os próximos capítulos da crise. O argumento é o de que não há impeachment sem povo na rua - o que não deve ocorrer nos próximos dias, por causa da covid-19 - e sem o desmoronamento da economia. Mesmo assim, políticos observam que tudo pode mudar a qualquer instante.
No Planalto, Bolsonaro aparece agora como um presidente fraco e encurralado. Vem perdendo apoio até mesmo da ala militar do governo.
Os generais não planejam abandoná-lo, mas, em conversas reservadas, admitem que Bolsonaro pode ter trilhado caminho sem volta por ouvir mais o núcleo ideológico, conhecido como "gabinete do ódio", do que seus antigos companheiros de jornada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.