“E daí? Lamento, quer que faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. Assim o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reagiu, nessa terça-feira, ao ser perguntado sobre o fato de o Brasil ter ultrapassado a China em mortes causadas pelo novo coronavírus. Bolsonaro já havia dito não ter “como fazer milagre” após o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, ocorrido em setembro de 2018, pouco mais de um mês antes do primeiro turno da eleição presidencial.
O mesmo expediente foi utilizado para comentar o desempenho do país em um ranking educacional feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nas ocasiões, utilizou o nome do meio — ele se chama Jair Messias Bolsonaro — para construir as ironias.
Ainda candidato ao Palácio do Planalto, pelo PSL, Bolsonaro minimizou o incêndio que destruiu o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. “E daí? Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê? O meu nome é Messias, mas eu não tenho como fazer milagre”, pontuou, à época.
Nessa terça, o presidente argumentou que nada pode fazer em relação às baixas em decorrência da infecção. “E daí? Lamento, quer que faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre. As mortes de hoje, a princípio, foram de pessoas infectadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: infelizmente o vírus vai atingir 70% da população. É a realidade. Mortes ninguém negou que haveria”, afirmou.
Segundo o Dicionário InFormal, plataforma online que reúne palavras e expressões cujos significados não são encontrados nos dicionários comuns, o termo “E daí?”, presente na fala sobre o museu e, ainda, na declaração relacionada ao avanço da COVID-19 em território nacional, representa “indiferença”. Trata-se, portanto, de resposta a algo que, na visão do interlocutor, não tem grande importância.
Em dezembro do ano passado, Bolsonaro visitou o Tocantins. Durante um discurso, em que chegou a afirmar que os alunos da maioria das universidades do país “fazem tudo, menos estudar”, o presidente também disse que, embora tenha Messias no nome, não é milagreiro.
“Qual o futuro nosso? O que nos espera lá na frente? O Brasil não vai sair do buraco por causa de uma pessoa só. O meu nome é Messias também, mas não faço milagre”, alegou, completando comentário sobre o resultado do Brasil na Prova Internacional do Estudante (Pisa).
"Não sou coveiro"
O chefe do Executivo deu outras declarações polêmicas durante a pandemia. No último dia 20, também ao comentar os óbitos causados pela infecção, ele disse não ser “coveiro”.Ao ser indagado sobre o tema, o presidente disse, por duas vezes, não ser “coveiro”. "Ô, cara, quem fala de... Eu não sou coveiro, tá certo?", disse o chefe do Executivo, interrompendo um jornalista que tentava perguntar sobre as baixas ocasionadas pela COVID-19. Diante da segunda tentativa do profissional, Bolsonaro ratificou: "Não sou coveiro, tá?".
“Vai morrer gente”
No dia 29 de março, Bolsonaro disse, após um passeio por vias públicas de Brasília e cidades ao redor da capital federal, que era preciso enfrentar o vírus “como homem”. À ocasião, ele chegou a afirmar, ainda, que todos vão “morrer um dia”."Temos o problema do vírus, ninguém nega isso aí. Devemos tomar os devidos cuidados com os mais velhos, as pessoas do grupo de risco. Agora, o emprego é essencial. Essa é uma realidade. O vírus está aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. È a vida, todos nós vamos morrer um dia”, salientou.
No dia seguinte, ao se encontrar com apoiadores na porta do Palácio Alvorada, o presidente voltou a tratar, sem rodeios, das perdas causadas pelo coronavírus. “Vai morrer gente. Nós temos dois problemas: o vírus e o desemprego, e nós temos que tratar os dois com responsabilidade”, argumentou.