Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) divulgaram um vídeo convocando nova manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Ao Estado de Minas, Marcelo Stachin, um dos presentes na gravação, negou que a intenção dos manifestantes é a invasão do Supremo ou do Congresso. Nas imagens, o outro interlocutor, Paulo Felipe, que se apresenta como um dos criadores do grupo “Soldados do Brasil, Voluntários da Pátria”, se refere ao Supremo por meio do termo “patifaria”. Em um trecho do vídeo, ele culpa o STF pelos problemas enfrentados pelo país “nos últimos 35 anos” — tempo decorrido desde o fim da ditadura militar em solo brasileiro.
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Brasil registra 751 mortes em 24 horas e bate novo recordeDoria: SP é epicentro; cobramos verba, leitos, EPIs e respiradores do governoCom Crivella, Teich visita hospital de campanha e não responde sobre lockdownPresidente do STJ livra Bolsonaro de revelar exame de coronavírusGoverno entrega ao Supremo vídeo de reunião ministerial citada por MoroSimpatizantes de Bolsonaro têm se concentrado diariamente nos arredores da Praça dos Três Poderes, na capital federal. Segundo Marcelo Stachin, Paulo, ao falar em “dar cabo à patifaria”, não se referia às instituições democráticas, mas a atitudes individuais de integrantes do Judiciário e do Legislativo. Como exemplo, ele citou a decisão, tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, de barrar a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal.
“Em nenhum momento falamos em destruir ou pedir o fechamento do STF e do Congresso. Ninguém vai invadir. Estamos aqui pela lei e pela ordem”, comentou, dizendo ter consciência que manifestações que pedem o encerramento das atividades do Supremo e do Parlamento são consideradas crime.
Ainda de acordo com Stachin, o vídeo foi feito para convocar apoiadores do presidente. “Bolsonaro não pode ficar refém do Congresso e do STF. Não são todos os ministros e parlamentares que têm atuação contrária ao que julgamos correto, mas o presidente precisa entender que tem legitimidade. No vídeo, fizemos um chamamento às pessoas que queiram vir à Brasília”.
Nesta sexta, Paulo postou novas imagens, em que volta a atacar as instituições. “Democracia é o que atende aos interesses da sociedade. Tudo o que parte do povo é democracia. O que o Supremo está fazendo não é democracia, mas uma verdadeira ditadura do Judiciário. O que o Congresso está fazendo é a ditadura de um Legislativo que trabalha para partidos políticos”, falou.
Em sua página no Facebook, Stachin tem fotos em carros adesivados com o material do partido Aliança pelo Brasil, que Bolsonaro tenta fundar desde o ano passado. Há, também, uma imagem dele ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
STF autoriza atos
Na quinta, o ministro Celso de Mello, do Supremo, reconheceu possíveis atos contra a Suprema Corte como legítimos. A decisão foi baseada no "direito de reunião e o direito à livre manifestação do pensamento". No texto, o decano diz, ainda, que “abusos e excessos” cometidos durante o exercício da liberdade de expressão, como calúnia, difamação e injúria, são passíveis de sanção penal.A posição de Celso de Mello foi motivada por uma notícia-crime protocolada pelo líder do PT na Câmara Federal, Ênio Verri (PR). O deputado impetrou o pedido alegando que as falas de Paulo Felipe no vídeo demonstravam o caráter antidemocrático da manifestação programada para a capital federal.
A reportagem tentou entrar em contato com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para repercutir os atos. Por meio de sua assessoria, no entanto, o deputado disse que não vai se manifestar sobre o tema.
Histórico
No último domingo, Bolsonaro participou de um ato inconstitucional e antidemocrático, cujos alvos eram, justamente, o STF e o Congresso. “O povo está conosco e as Forças Armadas, do lado da lei e da ordem, democracia e liberdade, também estão conosco. E Deus acima de tudo”, falou, em tom desafiador. Em outro momento, Bolsonaro chegou a dizer que a Constituição Federal “será cumprida a qualquer preço”.O Ministério da Defesa se posicionou, por meio de nota, no dia seguinte. O chefe da pasta, Fernando Azevedo e Silva, disse que as Forças Armadas “estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”.