Jornal Estado de Minas

Ramagem e ex-chefe da PF no Rio depõem em processo do STF para apurar acusação de Moro contra Bolsonaro


Brasília amanhece nesta segunda-feira (11) com a expectativa nos  desdobramentos das acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro de interferência na Polícia Federal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Estão sendo esperados para depor, na capital federal, os delegados Alexandre Ramagem e Ricardo Saadi.


Ramagem teve a nomeação vetada para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, feita pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. A decisão monocrática causou mal-estar em Bolsonaro , que veio a público manifestar e participar de manifestações e ameaças contra o STF e o Congresso Nacional.

O ministro do STF justificou o o veto apontando ligações pessoais de Ramagem com o clã Bolsonaro. Ex-chefe da segurança pessoal do então candidato eleito Jair Bolsonaro para a Presidente Jair Bolsonaro, em 2018, Ramagem acumula ainda amizade com os filhos do presidente, alvos de processos investigatórios na Polícia Federal e, também, na Polícia Civil do Rio de Janeiro.  Ramagem foi fotografado passando a festa do réveillon de 2019 para 2020 com os filhos do presidente.

Troca na PF do Rio


Desde o ano passado, quando estouraram as denúncias contra o então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL/RJ), hoje senador, do Republicanos, suspeito de participar de esquema conhecido como 'rachadinha',  na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro - prática  ilegal de contratação de servidor público ficar com parte do salário do funcionário-, Bolsonaro, conforme Moro, vem manifestando a vontade  de escolher qual delegado da PF deveria chefiar a superintendência da corporação na capital fluminense, base eleitoral do clã Bolsonaro.


O desejo manifesto do presidente, de acordo com Moro, se intensificou com as investigações de quem mandou mandar a vereadora Marielli Franco (Psol/RJ). A Polícia Federal conseguiu chegar aos executores do crime, policiais militares do Rio de Janeiro, ligados à milícia naquele estado, sendo um deles moradores do condomínio onde  está  fica a casa do presidente e e de um dos seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (RJ/Republicanos).

Saadi foi exonerado do cargo na semana passada. Ramagem, depois de ser vetado por Moraes para assumir o cargo de diretor-geral, retornou ao cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Processo


Após as denúncias do ex-ministro Sérgio Moro ao se demitir do cargo, em 24 de abril passado, a Pocuradoria-geral da República ofereceu denúncia ao Supremo Tribunal Federal. A cargo da relatoria do processo, o ministro Celso de Mello mandou colher os depoimentos de Moro - feito na semana passada, e de outros 10 pessoas, entre elas o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, que acabou sendo substituído por Rolando Alexandre, indicado por Ramagem e nomeado por Bolsonaro, que tem, portanto, a prerrogativa constitucional.

Estão arrolados no processo para depoimento três ministros, Luiz Eduardo Ramos (secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional)

A deputada Carla Zambelli (PSL/RJ) também foi citada pelo STF. O depoimento está marcado para esta terça-feira (12). Moro divulgou  conversa trocada com ela, por aplicativo de mensagem, no qual Carla estaria tentando demovê-lo de deixar o cargo de ministro por não concordar com as trocas na PF impostas pelo presidente da República.

Em troca, Zambelli acenava para Moro com a hipótese de ele ganhar como recompensa uma cadeira no STF. "Prezada, não estou à venda", respondeu Moro, nesse trecho divulgado pelo próprio ex-ministro.