No dia em que foi retirado o sigilo do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou isentar seus ministros de culpa pelas declarações contidas na gravação. Nesta sexta, durante um pronunciamento em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro atribuiu responsabilidade ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, pelas falas proferidas pelos membros do governo presentes no encontro gravado.
“O vídeo, para nós, estava classificado como secreto. Quem suspendeu o sigilo do vídeo foi o senhor Celso de Mello. Então, a responsabilidade de tudo naquele vídeo que não tem a ver com o inquérito é do senhor ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello. Nenhum ministro meu tem responsabilidade do que foi falado ali. Foi uma reunião reservada de ministros. Não foi uma reunião aberta, e essa sempre foi a nossa prática”, alegou o presidente.
No dia 16 de abril, data da queda do ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, Bolsonaro destilou uma chuva de ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Na ocasião, Maia se recusou a rebater as agressões, e disse que Bolsonaro estava utilizando um “velho truque da política de tentar trocar o tema da pauta”, num um dia em que havia luz sobre uma notícia negativa para o governo.
Coincidentemente, na data em que Celso de Mello determinou a liberação da gravação da reunião ministerial, Bolsonaro também usou os microfones para insultar a veículos de imprensa, adversários políticos e, também, afrontar outros poderes da República.
Em sua declaração desta sexta, o presidente deu a entender que descumprirá uma eventual decisão judicial que determine a entrega de seu telefone celular.
“Me desculpe, senhor ministro Celso de Mello. Retire seu pedido. O meu telefone não será entregue. Parece que o senhor Celso de Mello quer que fique cozinhando agora lá a entrega do meu telefone. Ninguém vai pegar meu telefone”, desafiou.
Bolsonaro ainda questionou uma suposta “pressa” de Celso de Mello na condução do inquérito que investiga possíveis crimes praticados pelo presidente e sugeriu a Mello “sentar em cima” do processo.
“Por que essa pressa? O senhor não precisa dessa pressa. Senta em cima disso aí. Os partidos entraram? Paciência. Só o fato de mandar ao Procurador Geral da República, para constranger o PGR. Alguns falam que ele é meu advogado. É o tempo todo querendo me jogar contra outras autoridades. Ele é o procurador geral da república e tem total independência”, disse Bolsonaro.
Antes disso, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que “jamais entregaria o celular” e que só o faria “se fosse um “rato”.
Entrega de celular
Mais cedo, Celso de Mello encaminhou à Procuradoria Geral da República (PGR) três notitia criminis (denúncias da prática de crimes) apresentadas ao STF por partidos políticos e parlamentares. Entre os pedidos realizados pelos políticos, foi requerida a apreensão do celular do presidente e de outros envolvidos no inquérito.
À noite, o gabinete do ministro Celso de Mello emitiu uma nota esclarecendo que não determinou a apreensão do celular de Bolsonaro.
“A propósito de manifestações criticando, precipitadamente, uma suposta decisão judicial emanada do Supremo Tribunal Federal, que teria ordenado, em sede de produção antecipada de prova, diligência policial de busca e apreensão dos celulares do Presidente da República, de Carlos Bolsonaro, de Maurício Valeixo, de Sérgio Moro e da Deputada Federal Carla Zambelli, com a finalidade de apurar alegadas práticas criminosas atribuídas ao Senhor Jair Bolsonaro, cabe esclarecer que o Relator do Inquérito 4.831/DF, Ministro CELSO DE MELLO, não determinou referida medida cautelar, pois limitou-se a meramente encaminhar ao Senhor Procurador-Geral da República, que é o órgão da acusação, a ‘notitia criminis’, com esse pleito de apreensão (Pet 8.813/DF), formulada por 03 (três) agremiações partidárias (PDT, PSB e PV)”, diz a nota.