O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril deste ano, divulgado somente nessa sexta-feira após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra um questionamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ao então ministro da Saúde, Nelson Teich. O governante chegou a interromper o chefe da pasta em meio a uma exposição para alertar o modo de tratamento da morte de um policial por COVID-19 e contestar a causa do falecimento.
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Antes de reunião, Bolsonaro disse a Moro que mudaria comando da PFCentrais sindicais repudiam nota de Heleno: 'golpe contra a democracia'Bolsonaro fala com apoiadores, mas também escuta vaias, panelaço e xingamentosApós divulgação de vídeo e mensagens, Bolsonaro publica trecho de lei de abuso“A saúde, ela é fundamental, porque enquanto a gente não mostrar para a sociedade que a gente tem o controle da doença, da saída dela, qualquer tentativa econômica vai ser ruim, porque o medo vai impedir que você trate a economia como uma prioridade. Então, controlar a doença hoje é fundamental”, disse.
Depois, Teich começou a enumerar as frentes de seu trabalho. De repente, Bolsonaro chama Braga Netto e o informa sobre a morte de um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O coronavírus foi dado como o fator principal do falecimento. O presidente disse que outros motivos poderiam ter levado o policial à morte.
“Por favor, o que mais? Ele era obeso, era isso, era… bem, tinha (reproduzindo conversa com o diretor-geral da PRF) … como é que é? Comorbidades. Mas ali na nota dele só saiu COVID-19. Então, vamos alertar a quem de direito, ao respectivo ministério, pode botar COVID- 19, mas bota também tinha fibrose nu… montão de coisa, eu não entendo desse negócio não. Tinha um montão de coisa lá, para exatamente não levar o medo à população”, disse o presidente.
Bolsonaro seguiu com os questionamentos. Ele chegou a pedir para que os colegas tomassem “cuidado” na hora de relatar alguma morte por causa do coronavírus.
“Porque a gente olha, morreu um sargento do exército, por exemplo. A princípio é um cara que tá bem de saúde, né? Um policial federal, né? Seja lá o que for, e isso daí não pode acontecer. Então, a gente pede esse cuidado com o colegas, tá? A quem de direito, ao respectivo ministério, que tem alguém encarregado disso, né? Para tomar esse devido cuidado para não levar mais medo ainda pra população”, finalizou Bolsonaro.
Em seguida, Teich não respondeu ao presidente de forma direta. O então ministro da Saúde, que deixou o cargo em 15 de maio, seguiu com a explicação a Braga Netto. Atualmente, o Ministério da Saúde é comandado de forma interina por Eduardo Pazuello.
A reunião ministerial foi divulgada pois Sergio Moro, então ministro da Justiça e da Segurança Pública, alegou que o material serviria como prova para mostrar que Bolsonaro tentou interferir no comando da Polícia Federal (PF). Moro renunciou à chefia da pasta dois dias depois e disse que o presidente tentara trocar o diretor-geral da corporação.