Um mês depois de pedir demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro deu mais detalhes de sua relação com o presidente da República. O ex-juiz afirmou que era leal e que algumas posições contrárias às de Jair Bolsonaro acabaram causando choques na relação entre os dois.
Moro deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal e citou gravação de reunião ministerial como prova. O vídeo é analisado em inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) e causou perturbação por expor a forma como Bolsonaro e seus ministros comandam o país.
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Moro questiona compromisso de Bolsonaro em 'agenda contra corrupção' e cita 'alianças questionáveis'Moro aponta 'posição negacionista' de Bolsonaro sobre pandemia e agrega: 'Parece que falta um planejamento geral'Moro sobre ira de apoiadores de Bolsonaro com denúncia de interferência na PF: 'Verdade inconveniente'Moro classifica entrevista como 'verdades inconvenientes' e volta a questionar alianças de BolsonaroEm entrevista ao Fantástico, na Rede Globo, Moro comentou que sua posição pró-isolamento causou choques com o presidente. “Dentro do governo, dentro de várias reuniões que eu participei, isso pode ser dito melhor pelo ministro Mandetta, isso foi alertado, o risco de que houvesse essa escalada de mortes e, no entanto, parece que falta um planejamento geral por parte do Governo Federal em relação a essas questões”, disse.
O ex-ministro afirmou que era claro quanto a suas convicções ao presidente e recusou ser um ‘papagaio’ de Bolsonaro. “Minha lealdade ao próprio presidente, necessita, demanda que eu me posicione com a verdade, com o que eu penso, e não apenas concordando com a posição do presidente. Se for assim, não precisa de um ministro, precisa de um papagaio. Em nenhuma circunstância se pode concordar com essa, vamos dizer assim, que o armamento sirva, de alguma forma, para que as pessoas possam se opor de forma armada contra medidas sanitárias”, complementou.
Sobre a vontade do presidente em querer liberar armas para que a população pudesse combater posições de governadores e prefeitos, Moro se mostrou contra e foi questionado porque não confrontou Bolsonaro. “Sim, mas não há espaço ali, dentro dessas reuniões, isso pareceu muito claro, não existe um espaço ali para o contraditório”, apontou.