O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou para colegas da Corte cópia do inquérito que investiga as acusações de suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal e deixa a cargo dos colegas que adotem, "querendo", as medidas que "que julgarem pertinentes". O decano pede atenção especial para o trecho do vídeo, anexado ao processo, de reunião ministerial em que Abraham Weintraub (Educação) defende a prisão dos ministros do STF, a quem chama de "vagabundos".
No despacho, o ministro envia cópia da transcrição da reunião ministerial do dia 22 de abril apontada pelo ex-ministro Sérgio Moro como uma prova de que Bolsonaro interferiu na Polícia Federal para proteger seus familiares e amigos. O vídeo foi tornado público na última sexta-feira pelo decano, relator do inquérito, e acabou revelando intervenções polêmicas não apenas do presidente.
"Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca. Era só isso presidente", disse Weintraub.
Ao determinar a liberação da gravação, Celso de Mello apontou para a "gravíssima aleivosia" feita por Weintraub em "um discurso contumelioso e aparentemente ofensivo ao patrimônio moral" dos ministros do Supremo. No entendimento do decano, as falas caracterizam possível delito contra a honra.
O despacho, obtido pelo Estadão, foi acompanhado do seguinte recado aos ministros: "Encaminho a Vossa Excelência cópia da decisão por mim proferida no inquérito em epígrafe (com especial para o ítem 8), bem assim reprodução da degravação procedida pelo Instituto Nacional de Criminalística para que vossa excelência possa adorar, querendo, as medidas que julgar pertinentes". O ítem 8 é a fala de Weintraub.
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, afirmou ao Estadão que ficou "perplexo" com o vídeo da reunião ministerial, marcada por palavrões, ameaças e ataques a instituições. E citou Weintraub: "Tudo lamentável, ante a falta de urbanidade. Fiquei perplexo. O povo não quer 'circo'. Quer saúde, emprego e educação. Fosse o presidente (da República), teria um gesto de temperança. Instaria o Ministro da Educação a pedir o boné. Quem sabe?"
Após a repercussão da fala, Weintraub afirmou nas redes sociais que sua fala teria sido "deturpada". "Não ataquei leis, instituições ou a honra de seus ocupantes. Manifestei minha indignação, em ambiente fechado, sobre indivíduos. Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento", postou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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