Na decisão que autorizou o cumprimento, por parte da Polícia Federal, de uma série de mandados de busca e apreensão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), citou um relatório, feito pela PF, que detalha um mecanismo coordenado de criação e divulgação de ataques à Corte. Segundo o documento, o blogueiro Allan do Santos, o deputado estadual paulista Gil Diniz (PSL), o parlamentar federal Filipe Barros (PSL-PR) têm papel central no esquema. Ao todo, onze contas no Twitter são citadas como parte da estratégia.
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Maia defende responsabilizar plataformas digitais no combate a fake newsSTF continua vigilante contra qualquer forma de agressão à instituição, diz FuxIndícios evidenciam atuação de empresários em esquema de fake news, diz MoraesBlogueiro, Roberto Jefferson e Luciano Hang são alvos de operação da PF que investiga fake newsCarlos Bolsonaro diz que inquérito do STF sobre fake news é 'inconstitucional'Alvo de operação, Jefferson compara STF ao nazismo: 'Tribunal do Reich'Senador do PT propõe barrar alvos do Supremo na CPI das Fake NewsSara Winter lidera manifestação em frente ao STF contra operação da PFQuem é Sara Winter, que chamou Alexandre de Moraes de 'arrombado'Os ataques ao STF, por exemplo, começaram em 7 de novembro do ano passado, por meio de uma hastag que chamava o Supremo de “vergonha nacional” e pedindo o impeachment dos ministros. A princípio, a tag que reivindicava a saída de um dos magistrados da Corte, Gilmar Mendes, não foi utilizada pelos influenciadores. Os seguidores, no entanto, começaram a abordar o tema fazendo uso da #ImpeachmentGilmarMendes.
Três dias depois, em 10 de novembro, os influenciadores começaram a utilizar, de modo coordenado, a hastag, levando o assunto à versão brasileira dos Trending Topics, que reúne as temáticas mais debatidas pelos usuários do site em determinado local. “Uma vez que uma hashtag alcança os Trending Topics, sua visualização é ampliada significativamente para fora da ‘bolha’, alcançando muitos outros usuários, que não são seguidores dos influenciadores iniciais”, pontua, na decisão, Alexandre de Moraes.
Para entender o funcionamento do esquema, os peritos do STF pesquisaram diversas hastags que atacavam a Corte, sobretudo entre 7 e 19 de novembro. Uma delas, inclusive, chamava o Tribunal de “escritório do crime”.
Alcance dos perfis
O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, por exemplo, tem 328,6 mil seguidores em seu perfil pessoal no Twitter. A páigna do Terça Livre, liderada por ele, soma 269,4 mil. Os deputados Gil Diniz e Filipe Barros são acompanhados, respectivamente, por 153,1 mil e 295,8 mil contas.Também presente no ‘diagrama das fake news’, Leandro Ruschel é seguido por 404,3 perfis. Em sua página, ele se diz “especialista em investimentos” e “apaixonado por filosofia e ciência política”. O relatório cita, ainda, os perfis apócrifos “Bolsonéas”, “Patriotas”, “TeAtualizei”, “Crítica Nacional”, “Letf Dex” e “Faka”. As duas últimas contas, inclusive, não existem mais na base de dados do Twitter.
Empresários e robôs
Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes cita indícios que evidenciam a participação de empresários no esquema de disseminação das notícias falsas. Eles seriam responsáveis por financiar os mecanismos de proliferação das fake news. O texto aponta, ainda, a utilização de robôs.Um dos empreendedores alvo da operação de busca e apreensão é Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan. O proprietário das academias de ginástica SmartFit, Edgar Corona, é outro dos empresários citados.
Gabinete do ódio é “organização criminosa”
A decisão de Moraes contém trechos de depoimentos concedidos pelos ex-bolsonaristas Alexandre Frota e Joice Hasselmann, deputados federais pelo PSL paulista. Outro a falar é Heitor Freire (PSL-CE). Todos dizem que o esquema das fake news está atrelado ao “gabinete do ódio”, chamado de “organização criminosa” pelo magistrado.Freire afirma, inclusive, que o gabinete do óbio é um núcleo composto, inclusive, por assessores especiais de Bolsonaro, e responsável por propagar, com o auxílio de páginas e perfis na web, as mensagens falsas.