Em um dos áudios vazados, em que se ouve o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, chamar o movimento negro de escória, ele também ofende Adna Santos, mais conhecida como Mãe Baiana. Além de ser mãe de santo, ela ocupa o cargo de Coordenadora de Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa da Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial no Distrito Federal. Agora, ela pede investigação das autoridades sobre o caso.
No áudio, Sérgio afirma que algum funcionário da fundação estaria divulgando o que acontece lá para a mídia, através de Mãe Baiana. “Uma filha da puta de uma macumbeira. Uma tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo. Além de fazer macumba para mim, essa miserável está querendo agitar invasão aqui de novo.”
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Ao Correio, Mãe Baiana afirmou que iria, na manhã desta quarta-feira (3/6), à Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual, ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin).
“O problema dele é comigo”, afirmou. “Eu acho que vou na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) também, porque eu sou mulher. Não posso ficar à mercê. Onde tiver de ir, na instância federal, eu vou, porque não vou deixar isso dessa forma.”
"Escória maldita", disse Sérgio Camargo sobre o movimento negro
Todos os áudios foram gravados em uma reunião com servidores, que aconteceu em 30 de abril. Sérgio Camargo também proferiu uma série de ofensas ao movimento negro, que classificou como escória maldita.
Nos áudios, ele chama Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra, de “filho da puta que escravizava pretos". O presidente afirma ainda não apoiar o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
Representantes do movimento emitiram uma nota oficial manifestando repúdio às declarações. “Mais uma vez, Camargo revela sua total falta de capacidade para continuar à frente de uma instituição que deveria zelar pelos direitos da população negra”, destaca o texto, pedindo ainda a exoneração do presidente.
A Fundação Palmares divulgou, nesta terça-feira (2/6), uma nota oficial afirmando reprovar quaisquer formas de discriminação, racismo ou violência. “Confiamos no caminho do diálogo, respeito e tolerância como fundamentais para a solução de problemas.”
O Coletivo de mulheres de axé do Distrito Federal enviou nota de repúdio para apoiar Adna Santos. Na nota, o coletivo acusa Sergio Camargo de racismo e discriminação religiosa. "Exigimos respeito e retratação desta instituição perante as ofensas criminosas cometidas contra nosso povo", diz a nota.
Veja as notas completas:
Movimento Negro
O povo de Axé e o movimento negro do Distrito Federal e Entorno expressam de forma veemente seu repúdio às declarações do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, sobre as organizações e lideranças negras. Mais uma vez, Camargo revela sua total falta de capacidade para continuar à frente de uma instituição que deveria zelar pelos direitos da população negra. Em vez disso, ele atenta contra nossas principais referências de luta, como Zumbi dos Palmares, herói nacional, e até mesmo contra nossas Iyalorixás, pilares da religiosidade de matriz africana. Consideramos urgente que Sérgio Camargo seja imediatamente exonerado do cargo, a bem do serviço público e da comunidade negra.
Fundação Palmares
A Fundação Cultural Palmares vem a público reiterar sua reprovação a quaisquer formas de discriminação, racismo ou violência manifestas e empregadas no Brasil e no mundo. Rechaçamos, outrossim, as tentativas de utilizar esta reprovação por grupos politicamente engajados que promovem o caos social, anarquia e atos criminosos, como tem sido amplamente divulgado nas mídias.
A Fundação Palmares entende que todas as vidas importam independentemente de cor, raça ou etnia. Confiamos no caminho do diálogo, respeito e tolerância como sendo fundamentais para a solução de nossos problemas.
Coletivo de mulheres de axé do Distrito Federal
Nós, do coletivo de mulheres de axé do Distrito Federal, mostramos o nosso completo REPÚDIO às declarações do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que configuram atos de racismo e intolerância religiosa contra as comunidades tradicionais de matriz africana e contra a nossa querida Mãe Baiana (Adna dos Santos). Nossas comunidades e nossos terreiros são espaços sagrados de amor e de paz, onde cultuamos nosso sagrado em harmônia com a natureza e o respeito ao próximo, indistintamente. Exigimos respeito e retratação desta instituição perante as ofensas criminosas cometidas contra nosso povo. Somos macumbeiras com orgulho, Sr. Sérgio. Macumbeiros são músicos, tocadores de um instrumento africano. Nosso Estado é laico e nossa ancestralidade, que habita este solo brasileiro e faz parte da religiosidade de muitas e muitos, merece proteção e respeito de TODOS os representantes do Estado.