Enquanto a discussão sobre o novo coronavírus ficou à margem da polêmica reunião ministerial do dia 22 de abril, nesta terça-feira, 9, a doença virou o principal tema do encontro televisionado no Palácio da Alvorada. Os mais de 40 palavrões falados pelo presidente Jair Bolsonaro e auxiliares na reunião tornada pública pelo ministro Celso de Mello, do STF, deram lugar a apresentações de PowerPoint sobre ações de combate à pandemia.
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Bolsonaro: 'OMS está titubeando, parece mais um partido político'Bolsonaro diz estar disposto a elevar auxílio se parlamentares reduzirem saláriosMinistro confirma mais duas parcelas do auxílio emergencial, mas de R$ 300Governo revoga portaria que transferiu R$ 83,9 milhões do Bolsa Família para SecomBolsonaro queria 'dossiê' sobre relação de Wizard com João DoriaO ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, por sua vez, lamentou as milhares de mortes no País e buscou justificar a mudança na contagem dos casos e óbitos que gerou forte reação nos últimos dias.
No encontro, apenas alguns ministros foram selecionados para falar e tiveram um tempo pré-determinado para se manifestar. Ao vivo, eles aproveitaram para fazer um balanço de suas pastas, deixando de lado as posições de confronto que marcaram o encontro de abril.
Os ministros considerados mais polêmicos, como o da Educação, Abraham Weintraub, que chegou a falar em colocar integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) na cadeia anteriormente, ficaram longe dos discursos.
Ao concluir a reunião, Bolsonaro voltou a utilizar dados da OMS de forma distorcida ao dizer que os pacientes assintomáticos possuem chance de transmissão "próximo de zero". Ele usou a informação de forma reiterada para defender a retomada das atividades econômicas. O Brasil possui mais de 700 mil casos da COVID-19 e mais de 37 mil mortes decorrentes da doença.
"Isso não é um dado comprovado, nós sabemos, mas é um dado bastante importante porque todas as observações da OMS conduzem para isso. É algo que tem que ser debatido, porque tem reflexo imediato no futuro do nosso Brasil", disse o presidente.
A OMS, no entanto, alertou que há perigo de pessoas pré-sintomáticas transmitirem o vírus e avisou que os estudos sobre assintomáticos ainda não são muito abrangentes.
Bolsonaro também relembrou que quebrou o isolamento social ao visitar comerciantes no Distrito Federal e que foi criticado por isso. Ele admitiu que a saída representava risco, mas defendeu a iniciativa e disse que outros líderes deveriam fazer o mesmo. O presidente também participou de manifestações em mais de uma ocasião.
"Eu fui ver como esses informais estavam sobrevivendo, é de cortar o coração. Eu tinha que estar na ponta da linha até colocando em risco a minha saúde tendo em conta a minha idade, estando no grupo de risco", afirmou Bolsonaro.
Na reunião, o presidente defendeu que a posição da OMS, ainda sem comprovação, sobre os pacientes assintomáticos, vai "com certeza" mudar a orientação de governadores e prefeitos sobre o isolamento social. "Economia é vida, não adianta falar que pode viver feliz para sempre trancado dentro de casa porque isso é uma utopia", declarou.
Antes de Bolsonaro, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, falou que o grande impacto da pandemia da COVID-19 no Brasil ocorreu somente no Norte e Nordeste. As outras regiões, na visão dele, devem ter impacto maior com o inverno e a queda das temperaturas. Apesar disso, ele defende que o impacto ainda deve ser diferente porque os Estados, agora, tiveram mais tempo para se preparar.
Pazuello também se solidarizou com as famílias que tiveram vítimas fatais da doença e com profissionais da saúde. "Coloco meu profundo reconhecimento aos profissionais da saúde que estão no combate. Gostaria de usar aqui, mais ou menos a quebra de protocolo, para solicitar a todos uma salva de palmas para esse pessoal. É o mínimo que a gente pode fazer. Eles também estão sacrificando as suas vidas, estão pegando a doença e morrendo, muitos já morreram", disse Pazuello.
O ministro da Saúde também apresentou o novo sistema do governo de contagem dos casos e mortes pelo novo coronavírus. "Os dados precisam ser completos, sem nenhum tipo de dificuldade de acesso. Estamos há 20 dias trabalhando nesse desenvolvimento de como buscar os dados desde o início da pandemia. É claro que os somatórios (dos dados) estão todos disponíveis", alegou.