O presidente Jair Bolsonaro reconheceu ontem que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, se tornou um "problema" no governo e passou o dia tentando encontrar uma solução para demitir o auxiliar sem arranhar sua base de apoio. Após se reunir ontem com o ministro no Palácio do Planalto, Bolsonaro o manteve no cargo, mas integrantes da ala militar e aliados políticos insistem que seria importante o presidente substituir o titular da Educação numa tentativa de pacificar a relação com o Supremo Tribunal Federal.
O ministro tem acumulado polêmicas e, no fim de semana, voltou a criticar integrantes da Corte em ato de bolsonaristas na Esplanada dos Ministérios.
"Eu acho que ele (Weintraub) não foi muito prudente em participar da manifestação, apesar de não ter falado nada de mais ali. Mas não foi um bom recado. Por quê? Porque ele não estava representando o governo. Ele estava representando a si próprio. Como tudo o que acontece cai no meu colo, é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub", afirmou Bolsonaro em entrevista à BandNews TV quando questionado sobre a ida do auxiliar ao ato.
O argumento dos que defendem a demissão é de que o ministro é um gerador de crises desnecessárias em um momento em que o presidente, pressionado por pedidos de impeachment, inquérito e ações que pode levar à cassação do mandato, tenta diminuir a tensão na Praça dos Três Poderes.
Como o Estadão mostrou no mês passado, Weintraub já vivia seu pior momento no governo ao resistir a entregar cargos ligados à sua pasta ao Centrão. Ele chegou a bater de frente com o presidente, mas, após ter seu posto ameaçado, cedeu.
Nos bastidores, ministros do STF veem com bons olhos uma eventual saída do ministro do cargo, mas o recado é de que não seria suficiente para pacificar a relação entre os Poderes.
Por outro lado, a ala ideológica e os filhos de Bolsonaro afirmam que limá-lo do governo neste momento poderia desagradar à base que tem defendido o presidente no fogo cruzado com Legislativo e Judiciário.
Após a reunião no Planalto, o ministro disse a interlocutores que segue no cargo. Auxiliares do presidente afirmam, no entanto, que uma definição ainda depende de encontrar uma função para ele dentro do governo que agrade à base e também um substituto para a Educação. A exemplo do que fez com outros ministros demitidos, Bolsonaro pode oferecer uma posição em uma embaixada ou um cargo de assessor especial.
Manifestação
A situação do ministro já era considerada insustentável em parte do governo, mas piorou após ele se reunir no domingo com cerca de 15 manifestantes bolsonaristas. O grupo desrespeitou uma ordem do governo do Distrito Federal para não realizar atos na Esplanada dos Ministérios.
No encontro com os apoiadores do presidente, o ministro repetiu os ataques ao Supremo. "Eu já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos." A declaração remete ao que ele já havia declarado na reunião ministerial do dia 22 de abril, quando disse que colocaria na cadeia os ministros da Corte, a quem classificou como "vagabundos". Ele responde a um processo por causa dessa afirmação.
Seguidor do "guru" Olavo de Carvalho, Weintraub tem como trunfo a amizade dos filhos do presidente, considerados os principais responsáveis por dar sobrevida a ele. Ontem, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) mais uma vez saiu em defesa do ministro.
"Não sei o motivo que se escandalizam com o Min. @AbrahamWeint falando o que falou num bate-papo com apoiadores? Outro dia um ministro do STF fez pouco do sofrimento judeu e comparou Bolsonaro ao nazismo, ninguém se escandalizou assim... Liberdade de expressão não pode ter lado", escreveu no Twitter.
No Congresso, porém, ele passou a receber críticas até mesmo de aliados de Bolsonaro. O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo no Senado, afirmou que o ministro "passou de todos os limites" ao comparecer à manifestação no domingo. "Nós estamos em um momento de pacificação, não em um momento de incêndio, e é exatamente isso que o ministro tem promovido", afirmou.
Escalada
No Supremo, a avaliação é a de que há uma escalada nos ataques à Corte que saíram da esfera virtual e se materializaram em manifestações cada vez mais expressivas, como os fogos de artifício disparados nas proximidades do tribunal no fim de semana passado e as tochas carregadas na Praça dos Três Poderes em maio pelo grupo bolsonarista "300 do Brasil", liderado por Sara Giromini, presa ontem pela Polícia Federal.
Segundo um integrante da Corte, esses atos são "barulhentos", provocam ruídos na relação com o Planalto e incentivam atitudes semelhantes de grupos exaltados. Outro foco de tensão são os sinais que vêm do próprio Executivo, incluindo Weintraub e o próprio presidente. Por isso, nos bastidores, a percepção dos magistrados é a de que as relações com o Planalto estão extremamente abaladas e o governo precisará fazer "muita coisa" ainda para "zerar o jogo". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.