O governador Romeu Zema (Novo) reclamou, nesta quarta-feira, que falta coordenação nacional para o combate ao coronavírus. De acordo com Zema, se o governo federal tivesse assumido essa frente, alguns estados estariam em situação melhor.
“Com toda a certeza, uma coordenação nacional teria ajudado, e muito, o Brasil a lidar melhor com essa situação. Essa falta de um protocolo único para todos os estados e municípios acabou fazendo com que alguns mais bem estruturados tivessem condição de implantar melhores políticas práticas, e outros não”, disse em entrevista ao UOL.
Zema defendeu a criação de uma coordenação entre as secretarias de saúde, como existe entre as pastas estaduais de Fazenda. Desta forma, na visão do governador de Minas, ficaria mais fácil para criar e colocar em prática protocolos para o combate à COVID-19.
“Vejo que um momento extraordinário como esse exigiria uma coordenação extraordinária, que se criasse, como tem na Fazenda, a reunião dos secretários de Fazenda, fazer uma reunião dos secretários de Saúde por região, que seja, para fazer um esforço conjunto. O esforço ficou, de certa maneira, pulverizado e sujeito a diferentes interpretações, práticas e procedimentos, e isso acabou prejudicando”, disse.
Outro fator que prejudicou nas ações contra o coronavírus no Brasil, de acordo com Zema, foi as trocas sucessivas no comando do Ministério da Saúde. No começo da pandemia, Luiz Henrique Mandetta era quem chefiava a pasta, mas acabou demitido por causa de divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No mesmo dia, Nelson Teich assumiu a vaga de Mandetta, mas pediu para deixar o cargo em menos de um mês. Atualmente, a Saúde é liderada pelo ministro-interino general Eduardo Pazuello.
“Num momento de crise, você deve manter a equipe que já está à frente dos processos que já conhece. Na minha opinião, é o momento menos adequado para se fazer troca, a não ser que fosse alguém despreparado, o que no meu entender não era o caso do ministro Mandetta. Ele conduziu bem, tem uma boa aprovação popular, vejo que a troca veio num momento inoportuno. Na hora em que a tempestade está ocorrendo, é a hora da tripulação do navio ter apoio e não ser substituída, porque até os outros se familiarizar, leva um tempo e esse tempo é muito precioso durante a crise”, analisou Zema.
‘Falta habilidade’
Para o governador de Minas, o governo Bolsonaro peca em não se abrir a um maior diálogo. Com isso, segundo Zema, somente as opiniões do governo federal sobre um determinado problema são levadas em conta, perdendo a oportunidade de encontrar outras soluções.
“Vejo um governo bem intencionado, mas que muitas vezes falta habilidade, falta algumas práticas de gestão que são fundamentais em qualquer processo, como uma maior abertura ao diálogo, como não se colocar na posição de que aquilo que eu acredito é melhor. Isso é fundamental para uma boa gestão. Como gestor, uma das coisas que eu mais tive de fazer na minha vida foi ver e enxergar que alguém tinha uma solução melhor do que a minha. Isso acaba sendo bom para o processo e não é nenhum demérito a minha pessoa que outra pessoa tenha uma ideia melhor. Eu vejo que alguns momentos o governo federal deveria estar mais aberto a esse diálogo, que alguns momentos falta um pouco dessa habilidade”, concluiu.