Jornal Estado de Minas

ALERTA AOS ACIONISTAS

Membros do Banco Mundial articulam para travar indicação de Weintraub


Apesar de ter anunciado, nessa quinta-feira (18/6), que estava deixando o Ministério da Educação para ir para Washington ser diretor executivo do Banco Mundial, o economista Abraham Weintraub pode ter sua indicação barrada dentro e fora da instituição. 



Integrantes do banco estão se movimentando para impedir a posse de Weintraub como diretor executivo do board de representantes de 189 países que possuem ações da instituição, segundo fontes próximas ao órgão. No Brasil, uma nota enviada aos acionistas feita por um grupo liderado pelo diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero faz um alerta aos acionistas sobre da indicação, conforme informou o Blog do Sakamoto nesta sexta-feira (19/6). 

Procurado, Ricupero contou ao Blog que pediu para um amigo coletar assinaturas porque considera a indicação “um atentado ao pouquíssimo que restava da credibilidade externa do Brasil”.  Para ele, o governo destroçou o patrimônio de soft power acumulado pelo país em décadas de atuação proativa em meio ambiente, direitos humanos, povos indígenas, reforma da ordem internacional, o que restava era ainda um resquício de competência e seriedade técnicas dos representantes brasileiros em órgãos financeiros mundiais como o Banco Mundial, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “Agora, com a indicação de indivíduo desqualificado e extremista de direita, até esse resquício desaparece. A única esperança é que os outros países representados pelo diretor do Brasil no Banco Mundial (nossa “constituency”, como se diz na organização) resistam à absurda indicação. Ou que a própria direção do Banco por meio de seus mecanismos de defesa de valores de direitos humanos se oponha um veto em nome da decência”, declarou o ex-ministro que já foi representante do Brasil nas Organizações das Nações Unidas (ONU) e embaixador do país nos Estados Unidos.

Contradição

A indicação de uma pessoa com perfil ideológico e sem traquejo diplomático como Weintraub para o Banco Mundial é uma contradição dentro do organismo multilateral, sempre criticado por bolsonaristas e que demanda pessoas equilibradas para as negociações entre os pares, inclusive, com um dos maiores desafetos do ex-ministro: a China, um dos principais acionistas do banco. 



“A China é o terceiro maior acionista do Banco Mundial e ocupa uma cadeira muito importante na Diretoria-Executiva. Até mais porque agora vou estudar imune”, destacou em rede social a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), em Washington, e que já trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI). Para ela, Weintraub “não passará” pelo crivo dos acionistas do banco.

O cargo que o presidente Jair Bolsonaro pretende “premiar” o ex-ministro polêmico e cheio de desafetos, com um salário anual de R$ 1,3 milhão, era ocupado pelo atual diretor do Banco Central, Fábio Kanczuk. Ele está vago desde outubro do ano passado e o mandato expira em 31 de outubro.

A escolha do representante do Brasil para ocupar a Diretoria Executiva do Banco Mundial é tradicionalmente feita pelo Ministério da Economia, que só confirmou a indicação na noite de ontem, horas após a publicação do vídeo de Weintraub anunciando que estava deixando o Ministério da Educação para mudar-se para os Estados Unidos com a família e a cachorrinha Capitu.


Mandato-tampão

Procurado, o Banco Mundial informou em nota que recebeu uma comunicação oficial das autoridades brasileiras de Weintraub representando o Brasil e demais países do seu grupo (constituency) no Conselho da instituição, mas ele ainda precisa ter seu nome aprovado para ficar nesse período restante do mandato. “Se eleito pelo seu constituency, ele cumprirá o restante do atual mandato que termina em 31 de outubro de 2020, quando será necessária uma nova nomeação e nova eleição”, destacou o documento.

Weintraub, portanto, pode não conseguir sequer sentar na cadeira durante o mandato-tampão de Kanczuk e, muito menos, ter seu nome aprovado pelos demais países, porque eles não foram consultados antes por conta do atabalhoamento da indicação que acabou sendo avaliada como uma forma de desviar o foco da prisão do amigo de Bolsonaro, o ex-policial Fabrício Queiroz.

A cadeira representada pelo Brasil na Diretoria Executiva do Banco Mundial é integrada por Colômbia, Equador, Trinidad e Tobago, Filipinas, Suriname, Haiti, República Dominicana e Panamá. A praxe, aliás, é que o nome para a diretoria seja submetido à aprovação prévia dos demais acionistas do grupo liderado pelo Brasil, para depois ser oficialmente anunciado. Se Weintraub for barrado, será um vexame internacional para o país, pois isso não costuma acontecer.

No comunicado confirmando a indicação, o Ministério da Economia destacou que Weintraub tem “mais de 20 anos de atuação como executivo no mercado financeiro”, atuando como economista-chefe e diretor do Banco Votorantim, além de CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities no Estados Unidos e na Inglaterra. Vale lembrar que a indicação do Brasil para a diretoria executiva é para cargo de membro do Conselho do banco e não funcionário.