Diferentemente do que informa na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o ministro da Educação, Carlos Decotelli da Silva, não concluiu nenhum programa de pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.
Por meio de nota enviada ao Estado de Minas, a instituição informou que recebeu Decotelli em janeiro de 2016 para a realização de uma pesquisa de três meses. Segundo o comunicado, durante os estudos, ele ocupou a cadeira da profa. Dra Brigitte Wolf que, até 2017, lecionava teoria do design, com foco em metodologia, planejamento e estratégia, e agora é emérita (título conferido professores já aposentados, que atingiram alto grau de projeção no exercício de sua atividade acadêmica).
"Ele não adquiriu nenhum título em nossa universidade. A Universidade de Wuppertal não pode fazer nenhuma declaração sobre títulos obtidos no Brasil", afirma o texto.
Doutor sem doutorado
Ao anunciar o novo ocupante da pasta da Educação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atribuiu a Carlos Decotelli da Silva o título de doutor pela Universidade de Rosário (UNR), na Argentina. O reitor da instituição desmentiu a informação no Twitter na última sexta-feira (26). "Não finalizou (o programa), portanto não completou os requisitos exigidos para obter a titulação de doutor", postou o reitor Franco Bartolacci.
Nos vemos en la necesidad de aclarar que Carlos Alberto Decotelli da Silva no ha obtenido en @unroficial la titulación de Doctor que se menciona en esta comunicación. https://t.co/s4cipmc7Ur
%u2014 Franco Bartolacci (@fbartolacci) June 26, 2020
O ministro reconheceu que completou todos os créditos do curso, mas não defendeu a tese. Alegou ter retornado antes porque já não tinha mais interesse em permanecer na Argentina, onde ficou de 2007 a 2009, uma vez que sua vida estava no Brasil. O reitor da Universidade de Rosário (UNR) diz que a tese elaborada por Decotelli foi reprovada.
Na sexta (26), após a polêmica, o titular do MEC modificou seu currículo Lattes. A informação de doutorado concluído em 2009, com a tese "Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja", sob orientação de Antonio de Araujo Freitas Jr.", foi substituída pelas indicações de "créditos concluídos" e "sem defesa de tese".
Plágio
Um levantamento feito pelo site Uol aponta que a dissertação de mestrado defendida pelo ministro contém plágios. Decotelli teria copiado ao menos quatro trechos de outras monografias em seu trabalho, entitulado "Banrisul: do PROES ao IPO com governança corporativa", apresentado à FGV Rio de Janeiro. A cópia acadêmica viola a Lei 9.610/1998 do Código Penal Brasileiro, que dispõe sobre direitos autorais.
Uma nota divulgada esse sábado (27) pelo Ministério da Educação nega que o ministro tenha cometido plágios. As omissões, segundo o comunicado, seriam frutos de "falhas técnicas". Ainda de acordo com o texto, Decotelli vai revisar seu trabalho, "por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados".