Belo Horizonte terá, nesta sucessão de 2020 da prefeitura municipal, o maior número de candidatos de sua história, ultrapassando o recorde dos 11 nomes que concorreram em 2016. O cenário político-partidário de extrema fragmentação – e a prescrição do fim das coligações proporcionais para enxugá-lo, prevista na Emenda Constitucional 97, responde pelo efeito perverso. Partidos políticos apostam nas candidaturas majoritárias para dar visibilidade às chapas proporcionais que brigam por uma cadeira na Câmara Municipal, pela primeira vez concorrendo ao estilo “solo”.
Assim se preparam as legendas para enfrentar o grande desafio de 2022, quando a cláusula de desempenho – prevê número mínimo de votos para um deputado federal, estadual ou distrital se elegerem – em vigor desde 2018, apertará progressivamente mais o cerco. Ela exigirá o mínimo de 2% de votos válidos para a Câmara dos Deputados e 11 deputados eleitos como condição para que os partidos tenham acesso aos recursos do fundo partidário.
No comando da capital brasileira com o menor índice de contaminação e um dos mais baixos números de mortes pela COVID-19, Alexandre Kalil (PSD) tem, pelo momento, além de seu próprio partido, que se firma como uma nova força política no estado, o apoio do MDB, do PP, do PDT de Ciro Gomes e da Rede, de seu vice Paulo Lamac, com quem está reconciliado.
Adversários
Para enfrentar o prefeito, favorito da disputa, forma-se um exército de candidaturas sob o radar de segmentos da elite do empresariado da cidade, inconformada com as recomendações de epidemiologistas de restrições ao comércio e circulação de pessoas para conter a disseminação da doença respiratória. Um incômodo que já se desenhava, com a regulamentação do novo Plano Diretor de Belo Horizonte, em vigor desde 5 de fevereiro, que adota modernos instrumentos de política urbana para limitar o adensamento de certas regiões da cidade.
Da centro-direita à extrema-direita, são pré-candidatos anunciados, nesta ordem, Luisa Barreto (PSDB),– que se desincompatibilizou da secretaria adjunta de Planejamento e Gestão do governo Zema; o deputado estadual professor Wendel Mesquita (Solidariedade); o deputado estadual João Vítor Xavier (Cidadania); o engenheiro civil especializado em tecnologia Rodrigo Paiva (Novo) – que, sem se eleger, estreou na política eleitoral em 2018, com 1,342 milhão de votos para o Senado; e o deputado estadual em primeiro mandato Bruno Engler (PSL), com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nesse espectro, ainda há mais pretendentes. No Avante, os deputados federais mineiros André Janones, o veterano em eleições, Luís Tibé e Fernando Borja discutem a candidatura majoritária da legenda. O rol ainda tende a engrossar com outras definições de legendas de porte médio, como o PTB.
O verbo é consolidar “Meu nome é consenso em meu partido e no grupo político que represento”, afirma João Vítor Xavier, que tem o apoio do senador Rodrigo Pacheco (DEM), este à frente de um dos núcleos que se prepara para concorrer às eleições ao governo de Minas em 2022. Além de Pacheco, João Vítor já conta com a adesão do PL, dos deputados estadual e federal – pai e filho, Leo e Lincoln Portela. “O Dem terá prioridade para indicar o vice, mas os espíritos estão desarmados, não há obrigação. Nossa ideia é de consolidar nosso grupo político”, afirma João Vítor, que, mesmo sem admitir, dirige o seu discurso aos setores mais conservadores de Belo Horizonte.
Com o slogan da inovação, Rodrigo Paiva terá o apoio do governador Romeu Zema (Novo), outro que tem encontro marcado com 2022, quando concorrerá à reeleição. “Queremos inovar, fazer diferente, discutir Belo Horizonte, que precisa crescer, ser uma cidade amiga do empreendedor”, avisa Rodrigo Paiva.
Do centro à esquerda, um outro conjunto de candidaturas também se organiza para a disputa, numa tentativa de emparedar a hegemonia do PT desse campo, representada pela candidatura de Nilmário Miranda, ex-deputado estadual e federal em mandatos consecutivos, com forte atuação na defesa dos direitos humanos. Ele foi definido ontem pré-candidato do partido à PBH.
O deputado federal Júlio Delgado (PSB), que em março transferiu o seu domicílio eleitoral de Juiz de Fora para Belo Horizonte, avisa que será candidato: “Vamos recontar a trajetória forte e simbólica do PSB na capital, o que deixou de ser feito em 2016 e, em 2018, foi deturpado. Dr. Célio de Castro é lembrado até hoje por seu legado pela vida”, afirma o parlamentar. Pelo Psol, está confirmada a candidatura da deputada federal Áurea Carolina, que recebeu o apoio da professora Duda Salabert (PDT). Na tentativa de formação de uma frente democrática e progressista na capital mineira, Duda Salabert desistiu de sua pré-candidatura pelo PDT – legenda que tende a apoiar Kalil. A professora concorrerá a uma cadeira na Câmara Municipal.
No campo da esquerda, há outras candidaturas. O PCdoB lançará o ex-deputado federal Wadson Ribeiro e a ex-deputada federal Jô Moraes concorrerá à Câmara Municipal. Também se preparam outras legendas de pequeno porte, como o recém-criado Unidade Popular (UP) – 33º partido brasileiro, registrado em dezembro de 2019 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além dele, há o PSTU e o PCO, que têm apresentado candidaturas ideológicas nas duas últimas décadas. Somados todos, da direita à esquerda, já são 14. Mas, claro, à medida que a discussão político-eleitoral passar a disputar a cena com a COVID-19, esse número poderá aumentar.
Em ascensão
Número de candidatos nas eleições para a PBH no Brasil redemocratizado
- 1988 -3
- 1992 - 8
- 1996 - 7
- 2000 - 5
- 2004 - 5
- 2008 - 9
- 2012 - 7
- 2016 - 11
Fonte: TSE