A nomeação de Milton Ribeiro para o comando da Educação –– cuja data da posse ainda não está decidida — trouxe alívio para o Congresso, por dar um rumo a um dos mais importantes ministérios do governo. Mas causou, também, preocupação, por se tratar de um religioso.
O receio é que, nos moldes da guerra ideológica promovida por Abraham Weintraub, o novo ministro venha a ferir a laicidade das escolas públicas, que têm estudantes de diversos credos. Pouco conhecido no meio, a expectativa é que o novo ministro seja chamado para falar na Comissão de Educação da Câmara.
O receio é que, nos moldes da guerra ideológica promovida por Abraham Weintraub, o novo ministro venha a ferir a laicidade das escolas públicas, que têm estudantes de diversos credos. Pouco conhecido no meio, a expectativa é que o novo ministro seja chamado para falar na Comissão de Educação da Câmara.
Relatora da Comissão Externa de acompanhamento do MEC, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) olha com ceticismo para Milton Ribeiro. “O que mais me preocupa e angustia é que, diante de desafios tão grandes como os que temos na educação, especialmente nesse contexto da pandemia, que está aprofundando a desigualdade educacional, a escolha do novo ministro, ao que tudo indica, tenha sido feita com base em sua religião”, afirmou.
“O que eu espero é que ele tenha a dimensão dos desafios que terá que enfrentar, que tome decisões com base em evidências, que saiba dialogar com quem pensa diferente. E que, pela primeira vez, tenhamos o MEC coordenando esforços com as redes municipais e estaduais nesse momento de retomada as aulas”, afirmou.
Vice-presidente do colegiado, Alice Portugal (PCdoB-BA) demonstrou ceticismo. “É de esperar que a Câmara chame o ministro para que se apresente. Evidentemente que vamos procurá-lo para que se pronuncie sobre quais são seus objetivos. Temos que ouvi-lo para que diga quais são os planos em relação à educação”, alertou, acrescentando esperar que o novo ministro não viole a laicidade do ensino público.
O presidente da comissão especial da PEC do Fundeb, o deputado Bacelar (Podemos-BA), concorda. “Fico feliz pelo pastor ser doutor em Educação, um pré-requisito. Mas não é tudo. Precisa ter diálogo, principalmente com o Congresso e com a comunidade educacional, e não levar práticas calvinistas para o ministério”, destacou.
Membro da Comissão do Senado, Styvenson Valentim (Podemos-RN), se mostra mais otimista. “O tempo dirá se é bom ou ruim. Preocupação maior causava a lacuna aberta e não encontrar uma pessoa com inteligência de conhecer os problemas da educação, ainda mais nesse ponto de pandemia”, opinou.
Polêmicas
Ribeiro afirmou, em 2018, que a linha existencialista de pensamento é ensinada nas universidades e incentiva uma “prática totalmente sem limites do sexo”. Um vídeo mostra Ribeiro falando à comunidade evangélica sobre o assunto durante culto. “Para contribuir ainda mais em termos negativos para uma prática totalmente sem limites do sexo veio a questão filosófica do existencialismo, em que o momento é que importa. Não importa se é A, B, se é homem ou se é mulher, se é esse, se é aquele, se é velho, se é novo. Não interessa. O que interessa é aquele momento”, declarou na gravação. Ribeiro acrescenta que “é isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade.”
Outras declarações antigas do pastor já vieram à tona desde a sua nomeação, sexta-feira passada. Ribeiro já defendeu educar crianças “com dor” e, em vídeo, fala aos fiéis que “deve haver rigor e severidade” na educação de crianças. O vídeo foi apagado.