Após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, declarar que o Exército se associou a um “genocídio” durante a pandemia do novo coronavírus, diversas lideranças políticas e sociais mostraram apoio ao magistrado. O sociólogo Jessé Souza defendeu o ministro e afirmou que o exército "está sendo comprado pelo presidente miliciano".
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Mandetta critica Bolsonaro por militarização da Saúde: 'É como colocar nas mãos de jogadores de futebol' Roberto Jefferson diz que Gilmar não tem 'grandeza moral' para criticar militares; confira outras críticas ao ministro do STF Gilmar diz que Bolsonaro cria 'ônus' para Forças Armadas com a pandemiaMinistério da Defesa afirma que Gilmar Mendes cometeu crime militarBolsonaro sai em defesa de Pazuello: 'Quis o destino que ele assumisse a interinidade da Saúde'O advogado, filósofo, professor e autor dos livros "Racismo estrutural " e "Sartre: direito e política", Silvio Luiz de Almeida, afirmou que a fala do ministro “soou como um aconselhamento jurídico". Ele ainda disse que acredita ser inevitável um debate sobre a responsabilidade por “crimes contra a humanidade cometidos durante a pandemia”.
Em entrevista coletiva, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, sugeriu que o ministro Gilmar Mendes, do STF, foi mal interpretado ao dizer que o exército está se associando a um genocídio.“Acho que ele quis dizer uma coisa e estão atacando por outra coisa.”
De acordo com ele, Gilmar demonstrou preocupação com o desgaste da imagem das Forças Armadas ao ter um general como ministro da Saúde em meio à pandemia daCOVID-19.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), afirmou que os militares, que agora comandam a pasta, são especialistas em "balística" em vez de "logística". "Eu só vejo é acúmulo de óbitos nessa política que está sendo feita",afirmou.
Mandetta criticou a interferência do presidente Jair Bolsonaro em ações da Saúde. "Nós víamos sistematicamente a anticiência se propagar", disse. Ele afirmou ainda que a Saúde perdeu a credibilidade após o governo federal tentar alterar a forma de divulgação de dados sobre a doença."
O líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon, questionou a politização da pasta diante de tantas mortes pela pandemia. "Mais de 72 mil vítimas do coronavírus, e Bolsonaro segue na sua incansável politização de uma questão de saúde. Tudo isso para tentar esconder a incompetência dele diante de toda essa tragédia. Bolsonaro não tem nenhuma solução pra tirar o Brasil da crise!", postou.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também se colocou ao lado do ministro Gilmar Mendes. “O ministro Gilmar apontou um problema grave que temos, que é a alta ocupação de cargos do serviço público civil por militares. Isso é constitucionalmente perigoso. Do ponto de vista jurídico, não há razão para essas reações corporativistas. Os militares não aceitam críticas e se acham intocáveis. No momento que eles exercem funções políticas, serão criticados”, afirmou o governador em entrevista à CNN Brasil.
"Bolsonaro será responsabilizado pelas vidas perdidas. Nada tem de patriota aqueles que lavaram as mãos diante de 73 mil mortes. Bolsonaro é mais coveiro do que presidente", tuitou o senador Humberto Costa (PT).
O deputado federal Ivan Valente (PSOL) também falou sobre o assunto. “A gestão de Pazuello na Saúde é tão lamentável quanto a sua noção de geografia do Brasil. A nomeação do general foi por critérios exclusivamente não técnicos. Tornou-se despachante de ordens descabidas, como o incentivo à cloroquina. O Brasil paga a irresponsabilidade com vidas”, escreveu.
Entenda
Durante uma transmissão on-line, o ministro Gilmar Mendes afimou que “o Exército se associa a um genocídio”. Ele se referiu ao fato de militares participarem da gestão e da formulação de políticas públicas voltadas ao combate à COVID-19 no governo federal. O ministro interino da pasta, Eduardo Pazuello, é general da ativa.
Em nota, o ministro do Supremo afirmou que não atingiu a honra do Exército e manteve as críticas à "substituição de técnicos por militares nos postos-chave do Ministério da Saúde". Em reação, o Ministério da Defesa afirmou que entraria com uma representação contra Gilmar na Procuradoria-Geral da República (PGR).
Com o objetivo de tentar amenizar a indisposição criada com as afirmações de Gilmar Mendes, o presidente do STF, Dias Toffoli, ligou para o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e para o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz