O ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em emplacar a ideia de recriar a CPMF “com nova roupagem”, sobre transações eletrônicas, para ser uma compensação para a desoneração da folha. Contudo, de acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, a proposta, em vez de ajudar na retomada da economia, pode afugentar o investimento do país.
Para eles, a proposta do Executivo federal ainda não está clara, pois não foi colocada à mesa para ser estudada, apesar de Guedes estar prometendo entregá-la há um ano.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, considera a CPMF, seja com qual formato for, prejudicial para a retomada da economia, que, pelas estimativas dele, deverá encolher 6,4% em 2020, ante os 4,7% projetados pelo governo.
“É uma escolha muito ruim. Deveriam, sim, diminuir os gastos tributários. Infelizmente, o governo opta por uma solução mais fácil, mas pior”, lamenta.
Para Vale, a proposta de reforma tributária que já está sendo discutida pela Câmara, a PEC 45, é a mais adequada para o momento: “As compras eletrônicas já pagam imposto. O governo sabe que bens e serviços são muito sobretaxados no Brasil, mas quer outro imposto em cima, em vez de sinalizar o sistema pela PEC 45, que é o que precisamos”.
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O documento do Ipea destaca que, a “despeito das intenções positivas da lei de desoneração, pode-se dizer que, pelas avaliações ex post já realizadas, o que inclui o presente estudo, não há evidências robustas de efeitos reais positivos da desoneração. Sobre a geração de empregos, este resultado está se consolidando”.
“Não faz nenhum sentido econômico postergar a desoneração da folha. Esse é um dos problemas no Brasil: coisas temporárias não acabam nunca. Isso tem que acabar, e a desoneração, também, pois é cara e não preserva empregos”, destaca o economista e especialista em contas públicas Gabriel Leal de Barros.
Para ele, em relação à nova CPMF, o diabo mora nos detalhes: “Se for um tributo digital, similar ao que a União Europeia acaba de anunciar, não é, necessariamente, ruim. A questão são os detalhes, mas, em tese, isso é algo muitíssimo debatido lá fora pelos países da Zona do Euro”.
Na avaliação de Vale, da MB, a desoneração da folha é necessária, mas poderia ser feita de forma escalonada, tirando um ponto percentual por ano: “Já temos a regra do teto para controlar do outro lado o que vamos perder de receita do outro”.
Distorção
O especialista em contas públicas José Roberto Afonso, que já escreveu vários artigos demonstrando que a desoneração da folha não surtiu os efeitos desejados na economia, afirma que a CPMF tem uma distorção que atrapalha o investimento no país.
“É unânime que se precisa aumentar muito, e urgentemente, os investimentos para o país sair da crise. Ou o governo se endivida ainda mais e investe, ou ele estimula o setor privado a investir. (A CPMF) Agravará ainda mais a depressão, pois aumento de impostos desestimula o investimento. A CPMF tem essa distorção”, explica.
O melhor, para ele, é que a reforma promova uma justiça tributária. “A CPMF, como era cobrada antes no Brasil, atinge igualmente quem sonega e quem não sonega”, acrescenta o economista, um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal.