Criada na gestão do ex-juiz Sérgio Moro com a missão de integrar operações policiais contra o crime organizado, redes de pedofilia, homicidas e crimes cibernéticos, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça e Segurança Pública foi remodelada e, sob comando de André Mendonça, começou a ter como foco a investigação e produção de relatórios sigilosos a respeito de opositores políticos do presidente Jair Bolsonaro.
Conforme revelou o Blog do Rubens Valente, do portal UOL, na sexta-feira, a mais recente investida da Seopi foi a produção de um dossiê contra 579 servidores federais e estaduais da área de segurança e professores identificados como integrantes do "movimento antifascismo". Na lista de investigados, cuja existência foi confirmada pelo Estadão, constam profissionais da segurança e da docência de todas as regiões do País.
A mudança das atribuições da Seopi teve início logo após a nomeação de André Mendonça como ministro da Justiça, no dia 28 de abril deste ano. Após tomar posse, ele nomeou um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal para comandar a secretaria e, cerca de um mês depois, teria solicitado uma investigação completa de movimentos que poderiam colocar em risco a "estabilidade política do atual governo".
Um agente que integra o órgão desde a sua criação, ainda na gestão de Sérgio Moro, relata que a missão da Seopi, antes, era produzir inteligência e realizar operações, mas "o foco era outro". Segundo ele, não existia, sob o comando de Moro, qualquer orientação para produção de relatórios contra inimigos políticos.
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Bolsonaro vai ao STF para derrubar suspensão de contas de aliados no TwitterDeputado Eduardo Bolsonaro é operado em BrasíliaArtistas se revoltam por Zambelli usar sem permissão música de Wisnik e Tom ZéConforme mostrou o UOL, a Seopi não submete todos os seus relatórios a um acompanhamento judicial. Assim, vem agindo nos mesmos moldes dos outros órgãos que realizam normalmente há anos o trabalho de inteligência no governo, como o Centro de Inteligência do Exército e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O relatório foi confeccionado poucos dias depois da divulgação, no dia 5 de junho, de um manifesto intitulado "Policiais antifascismo em defesa da democracia popular", assinado por 503 servidores da área de segurança de todo o Brasil. O documento ficou pronto na primeira quinzena de junho.
Em páginas nas redes sociais, grupos de professores e policiais condenaram a informação de que grupos críticos ao governo viraram alvo de investigação sigilosa. A página Policiais Antifascismo, por exemplo, tem 19 mil seguidores no Facebook.
'Ações especializadas'
Na noite desta sexta-feira, o Ministério da Justiça informou ao Estadão que a atividade de Inteligência de Segurança Pública é realizada por meio do exercício "permanente e sistemático de ações especializadas". Segundo a assessoria do ministério, o objetivo das ações é "identificar, avaliar e acompanhar ameaças potenciais ou reais".
"O objetivo é subsidiar decisões que visem a ações de prevenção, neutralização e repressão de atos criminosos de qualquer natureza que atentem contra a ordem pública, a incolumidade das pessoas e o patrimônio", diz, em nota, o Ministério da Justiça.
Ao ser questionada sobre o dossiê contra professores e policiais, a pasta disse que não comentaria, especificamente, o caso, mas destacou que as atividades de investigação, por parte da Seopi, são uma atribuição de "rotina".
"Cabe à Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública, como atividade de rotina, obter e analisar dados para a produção de conhecimento de inteligência em segurança pública e compartilhar informações com os demais órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência."
O ministério também confirmou que a Seopi faz parte do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei nº 9.883/1999, que é responsável pelo processo de obtenção, análise e disseminação da informação necessária ao processo decisório do Poder Executivo.