Jornal Estado de Minas

GOVERNO

Novas baixas no Centrão enfraquecem mais ainda a base de Bolsonaro


Brasília A proximidade da eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados continua enfraquecendo o bloco de partidos conservadores que formam o Centrão, que tinha mais de 200 parlamentares e até agora era a principal aposta do governo para montar base forte no Congresso.



Com isso, o Palácio do Planalto também se fragiliza no Congresso e o presidente Jair Bolsonaro terá que negociar com cada partido. Depois da saída de DEM e MDB, nos bastidores da Câmara já se fala também que PTB e Pros também vão seguir o mesmo caminho, a fim de formar outro bloco, mas sem a influência de Arthur Lira (PP-AL), o que deixaria o Centrão enfraquecido, com 136 deputados. Enquanto isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desconversa e diz que a debandada nada tem a ver com a sucessão no Legislativo.

O racha no Centrão tem reflexos diretos na articulação do governo no Congresso. O principal deles é que não adianta o presidente Jair Bolsonaro querer negociar com os líderes do PP, Arthur Lira, e do PL, Wellington Roberto, e acreditar que formará uma base forte. Com a saída de partidos grandes, Bolsonaro terá de negociar as votações partido por partido. O DEM, por exemplo – que comanda a Câmara, com Maia, e o Senado, com Davi Alcolumbre –, quer manter seu protagonismo nas negociações. Tanto é que, logo depois da derrota do governo na votação do Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação (Fundeb), Maia foi ao Ministério da Economia conversar com Paulo Guedes, a fim de reforçar a necessidade de diálogo entre os poderes. Mostrou que ainda está no jogo, embora tenha apenas mais seis meses como presidente da Câmara.

A saída do bloco indica também que o DEM não responde ao comando de Arthur Lira. Se o governo quiser dialogar, terá de ser com os representantes do partido. O mesmo vale para o MDB, que tem o deputado Baleia Rossi como líder, presidente do partido e pré-candidato a presidente da Câmara em oposição a Arthur Lira.




NEGATIVA

Rodrigo Maia divulgou nota ontem afirmando que a desintegração do bloco é natural e nada tem a ver com a sucessão na Câmara. “A formação e o desfazimento dos blocos no início de cada sessão legislativa é (sic) prática reiterada na Câmara dos Deputados”, disse. O presidente da Casa afirmou que o bloco foi formado para a Comissão Mista de Orçamento (CMO), quando todo começo de ano partidos buscam se alinhar para conseguir melhor representatividade na comissão.

“Os blocos formados com esse propósito duram, em geral, até a publicação da composição da CMO e sua instalação. Como, em razão da pandemia, as comissões ainda não se reuniram, a existência do bloco acabou se prolongando”, ressaltou. O bloco era formado por PL, PP, PSD, MDB, DEM, PTB, Solidariedade, Pros e Avante, e foi criado no ano passado para a formação da CMO.

Apesar do que afirma o presidente, a saída dos partidos deixou mais evidente a divisão que já se observava no bloco liderado por Arthur Lira. O Palácio do Planalto se aproximou do grupo à medida que pedidos de impeachment chegavam na Casa e logo em seguida passou a buscar apoio para formar uma base para conseguir aprovar projetos. A saída dos dois partidos significa 63 parlamentares a menos nesse processo de negociação – ainda que o DEM e o MDB já atuavam de forma mais independente de Lira. 





Além de Maia, os líderes dos partidos, Efraim Filho e Baleia Rossi, também negam relação da saída das legendas com a sucessão na Câmara. Sabe-se, no entanto, que houve influência na decisão, como se fala entre os parlamentares. Dentro do PP, há Lira e Aguinaldo Ribeiro (PB) de olho na cadeira de Maia, que quer fazer sucessor em fevereiro do próximo ano. Enquanto alguns buscam ser o nome do Executivo para a presidência, outros atuam pelo apoio de Maia.

DEM e MDB buscam autonomia

Brasília – Nos bastidores do Congresso, a justificativa para a saída de partidos importantes do Centrão seria ficar livre do comando do deputado Arthur Lira, líder do PP, por causa de sua aproximação com o Palácio do Planalto, que está concedendo cargos em ministérios para montar base consistente no Congresso. O objetivo do DEM e do MDB, portanto, seria ter autonomia nas votações, sem interferência do governo, visando também a sucessão de Rodrigo Maia na presidência da Câmara.

O ápice dessa divergência ocorreu na semana passada, com a votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que criou o Fundo de Desenvolvimento e Manutenção da Educação Básica (Fundeb). Arthur Lira agiu como articulador do governo e tentou retirar o texto da pauta, para o Planalto ganhar mais um tempo para emplacar suas propostas. Mas Maia queria votar a matéria e ela foi mantida em pauta. 





O líder do DEM, Efraim Filho, admitiu que a votação contribuiu com a decisão tomada. "Ali teve um episódio, que foi um requerimento de retirada de pauta por parte do bloco. O fato de a gente ter a relatora do Fundeb, a professora Dorinha (TO), gerou um ruído interno dentro da bancada, mas foi superado, tanto que logo depois foi retirado. Mas, para evitar repetição de episódios como esse, o curso natural das coisas era já ter feito a saída do bloco, e acho que esse episódio acaba simbolizando a saída, mas sem nenhum tipo de estresse", disse. Em sua página no Twitter, o líder do MDB, Baleia Rossi (SP), escreveu apenas que a presença do partido “no bloco majoritário da Câmara se devia às cadeiras nas comissões”.

Efraim Filho voltou a negar relação com a mudança no comando da Câmara, mas já há muita articulação na Casa nesse sentido. “A influência disso na decisão (de sair do bloco) é zero. O Democratas só vai tratar disso após as eleições municipais”, enfatizou o líder do DEM. Sabe-se que Arthur Lira está de olho na vaga de Maia, que quer fazer um sucessor. Dentro do PP, há, ainda, Aguinaldo Ribeiro (PB), além de outros nomes do Centrão, como o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP). Existe disputa para ver quem será o nome do presidente da Casa e quem será o do Executivo.

O vice-líder do governo, Coronel Armando (PSL-SC), por sua vez, apontou uma relação da saída dos partidos com o processo sucessório. “Isso revela a liderança do Maia no DEM e do Baleia Rossi no MDB, partidos fortes que podem estar querendo compor o novo presidente”, frisou. Se o Palácio do Planalto se aproximou dos partidos do Centrão à medida que os pedidos de impeachment chegavam à Câmara e preocupavam o governo, ao perder o DEM e o MDB, o bloco já não seria suficiente para barrar uma solicitação.  Ele diz que os pedidos, no momento, não têm sustentação. “Dizer que não preocupa seria inconsequente, mas não existe um motivo que não seja acusação política para desgastar o governo”, afirmou.