Embora a pandemia do novo coronavírus tenha feito a maioria dos 77 deputados estaduais mineiros participarem virtualmente dos trabalhos legislativos, eles gastaram, em abril e maio, pelo menos R$ 907.203,01 com deslocamentos por terra. Entre os custos, estão abastecimento em postos de gasolina, locação de veículos e despesas ligadas à manutenção dos carros. Por causa da COVID-19, a Assembleia Legislativa promoveu, em 25 de março, sua primeira votação remota em toda a sua história. Desde então, as reuniões plenárias e das comissões temáticas têm diversas participações por videoconferência. Apenas com combustível e lubrificante, os deputados pediram, ao todo, reembolso de R$ 148.452,46.
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O “campeão” de gastos é Sávio Souza Cruz (MDB), líder de um dos blocos parlamentares independentes. Ele recebeu reembolso de R$ 31.845,43. De todo o valor, R$ 23.200 são referentes ao aluguel de veículos. O restante – R$ 8.645,43 – diz respeito aos custos com gasolina, tornando Sávio líder também do ranking que trata apenas de abastecimento.
Em segundo lugar, está Gustavo Santana (PL), que solicitou o reembolso de R$ 29.200,25. Deste montante, R$ 4.900,25 foram utilizados para arcar despesas geradas em postos de combustível. Em cada mês, Santana gastou ainda R$ 12.150 com o fretamento de automóveis. As notas de aluguel e abastecimento ligadas ao mandato de Professor Irineu (PSL), que ocupa o terceiro posto da lista, somam R$ 26.800,24. Juntos, os custos de locação apresentados em abril e maio foram de R$ 23.800.
Líder do outro bloco independente, Cássio Soares, que gastou R$ 17.716,68, é o 22º colocado no ranking geral. Quando a classificação é restrita às notas fiscais de abastecimento, entretanto, ele sobe para a vice-liderança, com R$ 7.874,68.
Sávio Souza Cruz disse ao EM que seu gabinete tem três carros alugados para atender às demandas na Assembleia e de escritórios parlamentares em Curvelo, na Região Central de Minas, e Oliveira, no Centro-Oeste. Segundo o deputado, mesmo quando ele não está presente nesses lugares, servidores de sua equipe usam os automóveis e, por consequência, fazem abastecimentos. “Cada (escritório) tem um carro e tem o que atende o gabinete em BH”, justificou.
Origem
O ressarcimento dos custos de deslocamentos terrestres é feito por meio das verbas indenizatórias, recurso que cada gabinete usa para financiar atividades dos mandatos. Em 2009, a Mesa Diretora da Assembleia publicou deliberação sobre as diretrizes do mecanismo. Usualmente, as verbas indenizatórias são limitadas a R$ 27 mil por gabinete. Em abril, no entanto, os deputados aprovaram um projeto de lei que reduz em 30% o teto de reembolsos.
Podem ser apresentadas notas sobre a locação de imóveis e as despesas inerentes ao empreendimento; combustível e lubrificante de veículos – além de custos de manutenção dos automóveis –; serviços de profissionais de assessoria, pesquisa e consultoria; e passagens, hospedagens e alimentação. É possível ainda reaver gastos com materiais de expediente, móveis para escritório parlamentar e com itens de informática; assinatura de publicações, periódicos e clippings; e promoção e participação em eventos.
De acordo com Sávio Souza Cruz, a pandemia fez com que os deslocamentos dele e de outros funcionários diminuíssem. O parlamentar do MDB disse que, em meses anteriores, a demanda era tão alta que ultrapassava o limite de gastos com automóveis, o que impedia de reaver todo o custo. Isso porque, além do teto geral, as verbas indenizatórias não podem ser totalmente empregadas em um único fim. Ele explicou ainda que seus contratos de locação foram firmados para todo o ano.
Por meio de sua assessoria, Professor Irineu disse que tem percorrido cidades do interior para discutir presencialmente, junto a gestões locais, maneiras de aplicar recursos provenientes de emendas parlamentares. Cássio Soares, por sua vez, justificou as despesas pela necessidade de se deslocar entre Passos, no Sul do estado, onde mora – e tem um escritório –, e a capital. “Mantenho as idas a Belo Horizonte com a mesma frequência de antes da pandemia, estando todos os dias na Assembleia, relatando projetos de lei, participando de discussões e até mesmo de reuniões presenciais na Casa”, sustentou. Segundo ele, as viagens aumentaram após ter sido designado relator da comissão especial que analisa a reforma da Previdência estadual.
O EM tentou contato com Gustavo Santana, mas não obteve retorno. A Assembleia Legislativa respondeu à reportagem e informou que “os trabalhos institucionais” foram mantidos durante os meses de abril e maio, quando a Casa já trabalhava com sessões remotas.
Maioria obteve reembolso
Confira abaixo a nota da ALMG na íntegra:
"A atuação político-parlamentar tem sido essencial para o enfrentamento da pandemia de coronavírus no âmbito do Estado de Minas Gerais. Com base nesse entendimento, a Assembleia Legislativa manteve os trabalhos institucionais durante todo esse período, contemplando a elaboração de leis, a fiscalização das ações do Executivo e a representação dos diversos segmentos da sociedade.
Mesmo nesse contexto excepcional, a atividade parlamentar não pode se limitar apenas à participação em reuniões remotas, demandando também a presença e o acompanhamento da realidade das diferentes regiões do Estado. Para isso, continuou sendo necessário nesse período o suporte institucional, por meio da verba indenizatória, aos deslocamentos de parlamentares e suas equipes aos respectivos municípios de representação, mas sempre com os devidos cuidados de segurança estabelecidos pelas autoridades sanitárias.
Ainda assim, cabe lembrar que a Casa promoveu, desde abril, uma redução geral de 30% dos gastos com a verba indenizatória, mas, em especial, de 50% em relação às despesas com combustível e lubrificantes para veículos terrestres. Com isso, foi possível uma diminuição de 40% no total de gastos com transporte (incluindo locação, combustível e manutenção de veículos) no período de abril e maio de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.