As antes frequentes entrevistas coletivas de Jair Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República, pararam de acontecer há aproximadamente um mês.
Coincidência ou não, o presidente parou de falar com jornalistas e apoiadores desde 18 de julho, dia em que seu amigo Fabrício Queiroz foi preso pela Polícia Civil. Naquele dia, Bolsonaro passou direto pela imprensa e por seus simpatizantes que o aguardavam em frente ao palácio.
Leia Mais
STJ revoga detenção domiciliar, e Queiroz e mulher voltarão à prisãoEm 1ª live após revelação de depósitos de Queiroz a Michelle, Bolsonaro ignora assuntoExtratos comprovam: Queiroz depositou 21 cheques na conta de Michelle BolsonaroMinistro Gilmar Mendes, do STF, barra volta de Queiroz à prisãoQueiroz deixa condomínio e volta para prisão em regime fechadoPopularidade de Bolsonaro é a maior desde o início do mandato, diz pesquisaNesta quinta-feira, durante sua live semanal, o presidente justificou o silêncio, atribuindo culpa à imprensa.
“Eu gosto de falar, mas vi que estava fazendo errado parando no cercadinho 10 minutos, 20, às vezes ficava uma hora. Os caras pegavam cinco segundos ou algumas palavras minhas e, no dia seguinte, era pancadaria. O cara pode criticar. Eu falo uma coisa que é absurda o repórter perguntar, ‘presidente, é isso mesmo que o senhor falou, o senhor confirma?’. Ele não faz essa pergunta. Ele vai lá, anota caladinho e pau em você. Então, resolvi não mais falar”, disse o presidente.
Bolsonaro adotou a estratégia de atender demandas da imprensa apenas provenientes de veículos e jornalistas que simpatizem com seu governo. Em suas lives, inclusive, ele responde ao vivo a questionamentos de membros da bancada do programa Os Pingos nos Is, da Rádio Jovem Pan.
Entretanto, na transmissão desta semana, o presidente disse ao jornalista Augusto Nunes, da Jovem Pan, que não responderá a todo tipo de questionamento.
“Agora, posso responder alguma coisa de você, Augusto Nunes, e de sua equipe, sem problemas. Agora, se tiver alguma pergunta que der dúvida na resposta, vou me reservar o direito de ficar calado, para evitar problemas”, afirmou Bolsonaro.
Nessa quarta-feira, Bolsonaro reuniu os presidentes da Câmara e do Senado, ministros e parlamentares em frente ao Palácio da Alvorada, para falar sobre o teto de gastos do Governo.
Entretanto, o presidente e as demais autoridades presentes fizeram apenas pronunciamentos, sem permitir que os jornalistas pudessem fazer perguntas.
Relação com a imprensa
Não é novidade que o presidente Jair Bolsonaro vive às turras com a imprensa, sobretudo com veículos que são mais incisivos nas críticas ao governo. Em várias oportunidades, no Alvorada ou por meio de suas redes sociais, Bolsonaro atacou abertamente jornalistas e empresas de comunicação.
Seus alvos preferidos são a TV Globo e o jornal Folha de S.Paulo. Nesta quinta, o presidente deu a entender que irá processar a Globopor causa do editorial do Jornal Nacional último sábado, data em que o Brasil atingiu a marca de 100 mil mortes causadas pela COVID-19.
Desde o início de seu mandato, Bolsonaro acusou a imprensa de ‘patifaria’, ‘canalhice’, disse a um repórter que ele tinha uma ‘cara de homossexual terrível’ (o que, no entendimento do presidente, parece ser uma ofensa), entre outros arroubos de agressividade.
“Porra, rapaz, pergunta para sua mãe o comprovante que ela deu para o seu pai”, “ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, “a bosta da Folha de S.Paulo”, “essa imprensa lixo chamada Globo”, e “cala a boca, não perguntei nada” foram algumas das falas de Bolsonaro direcionadas à imprensa.
No início de março, ao ser questionado sobre o PIB (Produto Interno Bruto), que teve alta de apenas 1,1% em 2019, Bolsonaro usou o humorista Márvio Lúcio "Carioca" para se esquivar.
No início de março, ao ser questionado sobre o PIB (Produto Interno Bruto), que teve alta de apenas 1,1% em 2019, Bolsonaro usou o humorista Márvio Lúcio "Carioca" para se esquivar.
Em 31 de março deste ano, ele impediu um jornalista de fazer uma pergunta e incitou um de seus apoiadores a hostiliza-lo. “É ele que vai falar, não é vocês (jornalistas), não”, afirmou. Após os repórteres, impedidos de perguntar, abandonarem o local, o presidente ainda os culpou: “Vão abandonar o povo? Nunca vi isso, a imprensa que não gosta do povo”, disse.
A crescente insegurança causada pela presença de militantes bolsonaristas – cada vez mais agressivos – na porta do Alvorada fizeram com que o Grupo Globo e a Folha anunciassem, em 25 de maio, a suspensão do plantão em frente ao palácio.
Caso Queiroz
O ex-assessor e ex-motorista de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, foi preso pela primeira vez em julho, em Atibaia, interior de São Paulo.Ele é investigado por operar um suposto esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do estado. No esquema, segundo a investigação, funcionários de Flávio, então deputado estadual, devolviam parte do salário, e o dinheiro era lavado por meio de uma loja de chocolate e através do investimento em imóveis.
Em 9 de julho, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, decidiu que Queiroz e sua mulher Márcia Aguiar (que estava foragida desde 18 de junho) poderiam ficar em prisão domiciliar, ou seja, em sua própria residência.
Nesta quinta, o ministro Felix Fischer, do STJ, revogou o benefício de ambos, e determinou que eles retornem à prisão.