Brasília – O projeto de reforma administrativa enviado hoje ao Congresso Nacional será dividido em pelo menos três etapas para tentar derrubar as resistências dos parlamentares sobre a extinção de benefícios dos servidores. Na primeira fase, foi encaminhada uma proposta de emenda à Constituição (PEC) com as linhas gerais da reforma.
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Para servidores e parlamentares, o Executivo, desde o início, pretendia entregar a proposta da reforma perto do fim do ano, para discutir o assunto no Congresso apenas após as eleições ou em 2021. Assim, seria reduzida a pressão dos lobbies das carreiras do serviço público, e a aprovação ficaria mais fácil. E, com a pandemia, a população passou a cobrar que o funcionalismo dê sua cota de sacrifício. “A princípio, havia a intenção de testar o mercado com o vazamento de dados. Depois, como o texto tinha incorreções que podiam levar à judicialização, surgiu a ideia de ir postergando até encontrar o momento certo”, diz uma fonte palaciana. Um especialista em contas públicas admite que, se houve mesmo uma intenção, “foi perfeita”. “Do ponto de vista técnico, não faz sentido. O ideal seria dar uma sinalização correta aos investidores. Mas do ponto de vista político, não dá para negar que foi um golpe de mestre”, afirma.
Futuro servidor sem estabilidade
Vicente Nunes
O presidente Jair Bolsonaro manteve a garantia de que os atuais servidores não perderão a estabilidade se o projeto da reforma administrativa for aprovado por deputados e senadores. De qualquer forma, as regras para estabilidade ficarão mais flexíveis e seguirão três níveis. No caso das carreiras de Estado, como auditores fiscais, diplomatas, funcionários do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de militares, continuará tudo como é hoje.
Os demais servidores, sobretudo os que fazem parte do carreirão, que representam quase 80% da mão de obra empregada pelo governo federal, continuarão com contratos por tempo indeterminado, mas poderão ser demitidos por alguns requisitos, entre eles, dificuldades de caixa do Tesouro Nacional. Nesses casos, porém, antes de partir para a demissão, haverá a possibilidade de remanejamento de pessoal para áreas carentes de funcionários – já há um processo piloto nesse sentido sendo executado pelo Ministério a Economia. Tudo vai depender das circunstâncias.
Outro grupo, de servidores contratados por prazo determinado, poderá ter os vínculos rompidos a qualquer momento, se houver entendimento de que as demandas pontuais já não requerem tanta gente. O Ministério da Economia acredita que esse será o principal caminho para a contratação de servidores, pois evitará passivos que podem durar até 60 anos, com a aposentadoria.
Tudo, no entanto, será avaliado pelo Congresso e nenhuma dessas medidas integrará, assim como o agrupamento de carreiras, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que será entregue ao Congresso. A maior parte dos projetos para regulamentar pontos específicos da reforma administrativa, como salários menores para futuros servidores, será enviada após a aprovação da PEC pelo Legislativo. Segundo um técnico da equipe econômica, os textos que não dependem de mudança na Constituição podem ser apresentados durante a tramitação da proposta de emenda.
Mudança passa pelo Legislativo também
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu início às discussões sobre a reforma administrativa exclusiva para servidores do Poder Legislativo. Ele se reuniu ontem com líderes partidários para apresentar uma proposta inicial, encomendada pela Câmara junto a uma consultoria. Ele também discutiu o assunto com o deputado Professor Israel Batista (PV-DF), coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público. “A proposta do governo só pode atingir os servidores do Executivo. Mas já está sendo discutida uma proposta de reforma para o Legislativo, encomendada a uma consultoria a pedido do presidente Rodrigo Maia. Então, cada poder tem que fazer a sua própria reforma”, disse o deputado.