Brasília – Após deixar claro que o “cartão vermelho” a que o presidente Jair Bolsonaro se referiu em vídeo postado nas redes sociais não é para ele, o ministro da Economia, Paulo Guedes, destacou, em transmissão ao vivo, durante o evento Painel Telebrasil 2020, que a retomada do país em 'V' é uma realidade e que a inflação dos alimentos e do material de construção é reflexo de maior consumo pelas classes beneficiadas pelo auxílio emergencial. “Prestem atenção nos sinais e não na barulheira”, disse. “Quando eu falava que a retomada do Brasil seria em 'V', diziam que era otimismo. Agora é realismo, porque a economia está voltando em 'V', reagiu bem às medidas e à prorrogação do auxílio emergencial”, afirmou.
“Além disso, tem R$ 37 bilhões entrando do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), mais R$ 100 bilhões em crédito. A economia vai ser empurrada fortemente neste fim de ano. Já está reagindo bem”, completou Guedes. Para o ministro, como o auxílio foi forte e houve extensão por mais quatro meses, além do crédito e do FGTS, houve enxurrada de dinheiro concentrada nos mais frágeis. “A pauta de consumo dos mais vulneráveis é alimento e tentar fazer a construção da sua casa. Está havendo um boom de construção na baixa renda e nos supermercados. Os mais pobres estão comprando, estão melhorando a condição de vida”, ressaltou.
Guedes reconheceu que há também efeito de exportações de alimentos e alta do dólar na inflação: “Mas vem uma supersafra pela frente. Abrimos as importações com tarifa zero, portanto essa alta é temporária. É um problema transitório. Inflação é quando a alta de preços é generalizada”. Várias medidas foram encaminhadas para destravar os investimentos e garantir que a retomada seja mesmo em 'V', pontuou o ministro.
“Seguem as reformas, primeiro veio o marco do saneamento, agora o do gás, depois vem setor elétrico e cabotagem, concessões de petróleo. Tem toda uma agenda de investimentos em um cenário de juros baixos”, elencou. “A construção civil vai ter um boom de cinco, 10 anos. Os prefeitos têm simplificado e acelerado os protocolos da construção civil, setor que está criando empregos no meio da crise”, completou. “A economia está voltando em 'V'. Podemos ter uma boa surpresa no fim do ano”, destacou Paulo Guedes.
Durante o evento, Paulo Guedes procurou afastar rumores sobre desentendimentos entre ele e Bolsonaro em relação ao Renda Brasil. Depois de afirmar que o "cartão vermelho" do presidente não foi para ele, Guedes disse que estava com Bolsonaro no momento da gravação do vídeo publicado nas redes sociais do presidente, em que ele "enterrou" o novo programa.
"Prestem atenção aos sinais. Toda informação tem sinal e barulho. Mas não presta atenção no barulho, presta atenção no sinal. O sinal é que as reformas estão progredindo, a economia está voltando. O presidente diz que não conhece a economia e confia no ministro da Economia. O presidente diz que eu não entendo nada de política, parece que eu não entendo mesmo. Mas eu confio na intuição política do presidente. Prestem atenção aos sinais e não na barulheira. A democracia é barulhenta mesmo, mas preferimos o barulho da democracia do que o silêncio do sistema político fechado", destacou o ministro.
No vídeo, Bolsonaro afirmou: "Até 2022, no meu governo, está proibido falar a palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa-Família e ponto final". Guedes argumentou que Bolsonaro tinha direito a essa resposta política, uma vez que "que fazem politicagem" sobre estudos do governo. Durante a palestra no evento, o ministro afirmou que as manchetes de veículos de imprensa distorceram a informação, sugerindo que Bolsonaro queria tirar dos pobres para dar para os mais pobres ao desvincular o salário mínimo de benefícios previdenciários para financiar o Renda Brasil.
DESINDEXAÇÃO DE DESPESAS
Segundo o ministro, a proposta em estudo no ministério é a desindexação de todas as despesas, no âmbito da PEC do Pacto Federativo, para devolver o controle do orçamento aos governantes. Guedes afirmou ainda que o presidente deu um sinal de que não vai "anabolizar" o Renda Brasil, sendo irresponsável na parte fiscal, em troca de aumento de popularidade. "O presidente disse: ‘Não vou furar o teto e nem tirar dos mais pobres para anabolizar o Renda Brasil’. Não há nenhuma tentativa populista de furar o teto."
O ministro confirmou o fim dos planos de criação do Renda Brasil, relembrando a orientação do presidente Bolsonaro de não retirar dinheiro dos pobres para dar aos paupérrimos. "Já que continuam dizendo que continuo querendo tirar dinheiro dos pobres para o Renda Brasil, vou deixar claro: 'Não vou fazer isso'", disse ele, citando Bolsonaro.
"E aí o presidente descredenciou a ideia do Renda Brasil. Não vai ter isso. Acabou. Estão distorcendo tudo. Estão acusando o presidente de demagogia, de tirar dinheiro do pobre para dar para o mais pobre ainda. Consolidação de programas sociais já aconteceu no passado para os mais desfavorecidos”, afirmou.