Você já havia ouvido falar em “cristofobia” até o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) utilizar o termo em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU)? Por meio do que chamou de “apelo”, o chefe do Executivo federal pediu que as nações se unam para lutar contra o preconceito às religiões cristãs.
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Para Mourão, discurso de Bolsonaro na ONU está dentro da visão do governoMídia internacional repercute discurso de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONUBolsonaro se confunde e diz que brasileiros receberam mil dólares de auxílioNa ONU, Bolsonaro diz que incêndios são usados em campanha internacionalBolsonaro faz afago em Trump e reitera alinhamento com o presidente dos EUAEm discurso na ONU, Bolsonaro condena 'cristofobia'Especialistas comentam trechos polêmicos do discurso de Bolsonaro na ONUDiscurso de Bolsonaro na ONU deixa militares em extaseVeja comentários a favor de Bolsonaro na Assembleia da ONUVeja comentários contra Bolsonaro na Assembleia da ONUBolsonaro na ONU: nuvem de palavras compara discursos de 2019 e 2020Mestre em Estudos Culturais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), a jornalista Rafaela Marques se dedica a entender questões sobre religião, cultura e Direitos Humanos. Ao Estado de Minas, ela explicou que, ao utilizar a expressão “cristofobia”, Bolsonaro faz menção, sobretudo, aos evangélicos.
“Há, sem dúvida alguma, um preconceito direcionado aos evangélicos no Brasil. Mas esse preconceito não é, de maneira alguma, algo que venha tolhendo a participação política dos evangélicos, a participação na vida pública brasileira, a implementação e a expansão de valores e bens culturais próprios dos evangélicos”, diz.
Segundo Rafaela, a noção de “cristofobia”, embora já apareça há alguns anos, apareceu pela primeira vez em um discurso presidencial. “É um discurso que tem relação com a ideia de marxismo cultural e de que há um preconceito do campo intelectual brasileiro com os evangélicos, e que esse preconceito está relacionado a uma ideia de país genuíno, atrelado às religiões de matrizes africanas”, pontua.
O tal “marxismo cultural”, citado por Rafaela, é uma teoria da conspiração disseminada por figuras de extrema-direita. Adeptos da corrente dizem lutar contra supostas tentativas de dominação da esquerda através de hábitos e ritos cotidianos.
Histórico
Segundo os dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os cristãos representam 86,8% da população brasileira. De acordo com o censo de dez anos atrás, mais de 43 milhões habitantes do país se definiam como evangélicos.Para Rafaela, os seguidores de correntes evangélicas e pentecostais não costumam sofrer represálias somente pelo caminho espiritual que escolheram seguir. “Sem dúvida alguma, não há uma tentativa de reduzir ou minar as atividades de exercício político e convivência social do segmento evangélico. Pelo contrário: historicamente, o estado brasileiro se comportou dessa maneira com religiões de matrizes africanas”, recorda.
Vale lembrar, por exemplo, que a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Bolsonaro, Damares Alves, é pastora. Marcelo Bretas, juiz fluminense conhecido pelas prisões do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do empresário Eike Batista, também é evangélico.
Ainda conforme a especialista, as ideias encampadas por Bolsonaro refletem simpatia do governo ao que defende Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), citando pesquisa da entidade estadunidense Pew Research Center, de 2017, dos cerca de 7 bilhões de pessoas no mundo, aproximadamente 2,18 bilhões de pessoas dizem professar a fé cristã.
Colaborou Philipe Santos, do Correio Braziliense