Assassinado nessa quinta-feira (24), em Patrocínio, no Alto Paranaíba, o candidato a vereador Cássio Remis (PSDB) costumava denunciar possíveis ilicitudes cometidas por Jorge Marra, que era secretário municipal de Obras da cidade. Neste ano, o tucano já havia criticado Marra por, supostamente, utilizar máquinas públicas para fazer intervenções em sua fazenda particular. O principal suspeito de disparar os cinco tiros que mataram Cássio é irmão do prefeito patrocinense, Deiró Marra (Democratas), que tenta a reeleição.
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Vídeo explica novidades e regras da eleição 2020'É inadmissível', diz Zema sobre homicídio de candidato em PatrocínioPolícia pede prisão preventiva de suspeito de matar candidato a vereador em PatrocínioAcusado de matar candidato a vereador, irmão do prefeito de Patrocínio é denunciado pelo MPIrmão do prefeito de Patrocínio, acusado de matar candidato a vereador, será indiciado por três crimesTJ acata pedido da polícia e ex-secretário de Patrocínio está oficialmente foragidoCâmeras de segurança mostram Jorge Marra tomando um celular das mãos de Cássio, que vai atrás dele em busca do aparelho. Já na secretaria de Obras, para onde ambos se dirigiram, Marra, de chapéu, saca uma arma e dispara.
“Não era a primeira vez que ele (Jorge Marra) estava sendo denunciado. Quando ficou sabendo que estava sendo denunciado mais uma vez, foi pegar o celular e se impor. A vítima, que não era de ser condescendente com isso, reagiu. Não acho que (o crime) foi premeditado, armado ou contratado”, explica, ao Estado de Minas, o delegado Renato Mendonça, que está à frente das investigações.
A polícia suspeita, ainda, que o ato foi cometido no ‘calor’ do momento. As denúncias feitas por Cássio anteriormente estavam sob o guarda-chuva do Ministério Público. “Não havia uma rixa, brigas e ameaças entre os dois. Era um problema com as irregularidades, independentemente de quem estivesse por trás”, completa Mendonça.
Em Patrocínio, o crime é tratado como “caso isolado”. O promotor eleitoral do município, Aloísio Soares, diz que a cidade de pouco mais de 90 mil habitantes não está acostumada a ocorrências do tipo.
“As instituições estão engajadas em dar ao pleito eleitoral a mais absoluta tranquilidade e normalidade. Foi um incidente totalmente isolado, inclusive no aspecto criminal, em toda a história da cidade”, garante.
Suspeito está foragido
Jorge Marra ainda não foi localizado pelas forças policiais. Ele foi, de caminhonete, para Perdizes, no entorno de Patrocínio. Seu automóvel acabou encontrado em uma casa na cidade — havia uma arma dentro do veículo. Na tarde desta sexta, a Justiça expediu liminar que autoriza a prisão preventiva dele.
As autoridades creem que o disparo foi feito com um revólver calibre 38. Marra tem autorização para possuir a arma, mas não pode portá-la. Depois de Perdizes, a suspeita é que ele tenha se deslocado até as imediações de Uberlândia, no Triângulo.
Sem informações concretas sobre o paradeiro do ex-secretário — exonerado logo após o crime —, os policiais buscam encontrá-lo, mas também contam com a família para negociar a rendição.
Inicialmente, a polícia classifica o crime como homicídio duplamente qualificado por motivo fútil. Ele pode ser indiciado, também, por porte ilegal de arma caso não comprove ter autorização para andar com revólver em vias públicas.
Jorge Marra tem passagens policiais por dois crimes ambientais. As infrações, contudo, são passíveis de penas leves.
Nessa quinta, ao comentar o crime, Deiró Marra disse não ter conhecimento da arma possuída pelo irmão. Ele declarou, ainda, que o crime não atrapalha seus planos na corrida rumo à reeleição.
Policiamento será reforçado
O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) pretende reforçar a segurança nas atividades de campanha em solo patrocinense.
“Conversamos, no âmbito do gabinete, sobre reforço de policiamento ostensivo em todos os movimentos de campanha eleitoral”, garante o juiz Joemilson Donizetti Lopes, que coordena o Grupo Institucional de Segurança instituído pela Corte para cuidar do pleito deste ano.
O TRE-MG trabalha para conter, de forma preventiva, possíveis acirramentos causados pelas disputas eleitorais. A ideia é que juízes das comarcas informem incidentes do tipo ao grupo para que as forças de segurança possam agir — e, assim, evitar consequências trágicas.
“Onde houver necessidade de reforço da atuação policial ela, certamente, acontecerá — e de forma vigorosa, com rigor, para que possamos ter tranquilidade na condução do processo eleitoral”, assegura o magistrado Lopes.
O grupo foi criado pelo TRE-MG em agosto deste ano e se reúne periodicamente. Compõem a equipe integrantes das polícias Militar, Civil e Federal. O Corpo de Bombeiros, a Procuradoria-Geral de Justiça do Estado, a Procuradoria Eleitoral Regional e a Secretaria de Estado, Justiça e Segurança Pública também fazem parte da força-tarefa.
Candidatura já havia sido protocolada
Os postulantes à eleição deste ano precisam apresentar suas candidaturas à Justiça Eleitoral até o início da noite deste sábado (26). Na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constava o nome de Cássio Remis. O número dele na urna eletrônica já havia, inclusive, sido atribuído: 45777.
Se desejar, o PSDB pode substituir a candidatura. Expediente semelhante ocorreu em 2014, quando o então presidenciável Eduardo Campos (PSB) morreu em acidente aéreo. Na vaga deixada por ele, entrou Marina Silva, então vice-candidata ao Palácio do Planalto.
Eleito em 2008, Remis foi o presidente do Legislativo municipal entre 2013 e 2014. Ele ocupou cadeira na Câmara Municipal entre 2009 e 2016. Cássio também era proprietário de um escritório de advocacia no Bairro São Francisco, em Patrocínio. A página do político no Facebook tinha cerca de 19 mil seguidores.
Deiró também protocolou dados e certidões necessárias para tentar a reeleição. Além do Dem, ele terá o apoio de PP, PL, Podemos, PTB, PMB, PSC, PDT e Pros.