À medida que novembro se aproxima, a corrida eleitoral ganha velocidade com candidatos definidos: o registro de candidaturas foi encerrado neste sábado (25), e a partir deste domingo começam as propagandas eleitorais. O pleito deve reprisar a tendência de 2018, em que os partidos tradicionais perderam força – entre eles, PT e PSDB encabeçam tendência. Isso, nas grandes capitais. Já se verifica, em alguns estados, que nomes tradicionais da política mudaram para legendas menores em busca de maior aderência. Reforça essa tendência o poder eleitoral dos evangélicos, ligados, em geral, a candidatos de partidos menores.
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, Emerson Urizzi Cervi avalia que PT, PSDB e MDB dominaram a cena política nos últimos 20 anos, e agora sofrem com a crise institucional dos partidos. Para ele, quem mais perdeu foram os tucanos. “Desde 2002, perde espaço e passou a ser um partido estadual, com o governo de São Paulo”, diz.
Em São Paulo, na última pesquisa Datafolha, Celso Russomanno (Republicanos) apareceu em primeiro, seguido pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). A capital é de grande importância para os tucanos. O cientista político e CEO da Dharma Political Risk and Strategy, Creomar de Souza, afirma que ainda que perca outras capitais, se o PSDB conseguir emplacar Bruno Covas em São Paulo ganhará fôlego para lançar o governador do estado, João Doria, em 2022.
“Já o MDB é uma grande federação partidária, com uma diversidade enorme de quadros e lideranças. Isso cria ações e percepções sobre o partido e política que são muito mais dependentes de lógicas personalistas. É fracionado”, destaca.
“Já o MDB é uma grande federação partidária, com uma diversidade enorme de quadros e lideranças. Isso cria ações e percepções sobre o partido e política que são muito mais dependentes de lógicas personalistas. É fracionado”, destaca.
Emerson Cervi acredita que a tendência nas grandes cidades é que os partidos tradicionais apresentem chapas menores que os partidos pequenos. Já nos interiores, segundo ele, a estruturação é diferente. “Tenho impressão de que os partidos tradicionais vão continuar tendo força, em especial o MDB. Esses partidos do Centrão, PSD, PSC, no Nordeste tem PP, PSB, PDT, entram com muito mais força no interior do que nas capitais”, compara.
Partido com mais candidatos
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrados até ontem no sistema mostram isto: ainda que nas capitais o MDB não esteja com força, e nem sequer tenha candidatos a prefeito em muitas capitais, é a legenda com mais candidaturas no país. O PSDB está em quarto, atrás de PSD e PP, e o PT em sexto no ranking total de candidaturas (prefeito, vereador e vice-prefeito). Para Cervi, as legendas pequenas ligadas a evangélicos têm cada vez maior capacidade de eleger candidatos.Em relação ao PT, o cientista político Creomar de Souza avalia que, entre os partidos tradicionais, é o que terá a situação mais complicada, por ter sofrido mais ataques nos últimos anos. Já no caso do MDB e do PSDB, a perda de espaço deve variar de capital para capital. “O PT é a legenda que mais sofreu no passado recente, mas também tem maior cristalização. Tende a perder prefeituras, mas tende a ser competitiva”, pondera.
O professor Emerson Cervi acredita que as eleições de 2016 foram, talvez, as mais desastrosas para o PT em candidatos, votos e eleitos, e é possível que 2020 se mantenha o mesmo padrão. “Não sei se tem condições de piorar”, afirma. Para ele, no entanto, não é possível dizer que a legenda está em “em franca decadência”.
Isso porque, em 2018, o PT teve candidato no segundo turno da eleição presidencial e conseguiu eleger a maior bancada na Câmara dos Deputados. “Está se transformando cada vez mais em um partido legislativo nacional. O PT nunca foi forte em eleições municipais, apesar de já ter ganho a Prefeitura de São Paulo. Ele é forte em eleições nacionais. Em 2018, o PSDB perdeu força, o MDB perdeu força, e o PT não”, afirma.
Campanha em São Paulo
Em São Paulo, o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, aponta que o PT caminha para seu pior desempenho em São Paulo desde as eleições de Luiza Erundina, no final da década de 1980. “É provável que nem chegue no segundo turno”, afirma. O candidato da legenda, Jilmar Tatto, não tem tido expressividade na capital, tampouco apoio interno. O ex-presidente Lula está tomando distância da candidatura para evitar se associar com uma derrota, como já publicado.
Ainda que Russomanno tenha saído na dianteira na última pesquisa Datafolha, com o prefeito de SP em segundo e Márcio França (PSB) dividindo espaço com Guilherme Boulos (Psol), Teixeira lembra que Russomanno repetiu cenário em 2012 e 2016, quando saiu em primeiro às vésperas da campanha e não chegou nem ao segundo turno.
“Não há novidade aí”, ressalta. Segundo o professor, a novidade é a reação do eleitorado à presença do presidente, quando 46% dos paulistanos rejeitam o trabalho do presidente Jair Bolsonaro, segundo a última pesquisa Datafolha. De acordo com ele, isso pode fazer com que Russomanno repense sua estratégia de ter o apoio de Bolsonaro.
“Não há novidade aí”, ressalta. Segundo o professor, a novidade é a reação do eleitorado à presença do presidente, quando 46% dos paulistanos rejeitam o trabalho do presidente Jair Bolsonaro, segundo a última pesquisa Datafolha. De acordo com ele, isso pode fazer com que Russomanno repense sua estratégia de ter o apoio de Bolsonaro.
Imprevisibilidadede resultados
A imprevisibilidade do pleito neste ano será garantida por dois fatores. O primeiro é o presidente Jair Bolsonaro não ter uma legenda. Isso pode beneficiar candidatos que se dizem bolsonaristas e prejudicar a oposição ao presidente, que terá mais dificuldade para se posicionar em relação a certos adversários.
Esse fator também neutraliza o que o cientista político Creomar de Souza chama de termômetro da governabilidade, que é a quantidade de prefeitos e vereadores eleitos sob o guarda-chuva do presidente. O segundo fator é a decepção de parte da população com o discurso da “nova política”, que se mostrou, na prática, inexistente.
“A eleição de Jair Bolsonaro significou a chegada de novos atores no campo de batalha política. Alguns construíram a ideia de que existia um novo jeito de fazer política, e isso tem se mostrado inviável”, aponta o especialista.
Norte e Nordeste
Em Manaus, maior capital do Norte do Brasil, há a prevalência de partidos menores em detrimento das legendas tradicionais. Porém, os candidatos com maior aderência seguem sendo os mais antigos da região. Para o professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Tiago Jacaúna, os políticos têm deixado as maiores legendas, que sofreram um forte rechaço nas eleições de 2018, mas mantém o privilégio com a população. Essa proximidade se dá por dois fatores: primeiro, pelo personalismo político tradicional no país, e depois, os outsiders que se beneficiaram do nome de Bolsonaro nas últimas eleições no estado estão, em sua maioria, envolvidos com escândalos de corrupção.
O especialista traçou um perfil dos candidatos a prefeito, apontando que o MDB é “super tradicional” na região. A legenda tem o senador Eduardo Braga, que apoia Amazonildo Mendes, do Podemos, que é quem lidera as pesquisas de intenção de voto. “É um cidadão conhecido, já foi governador e prefeito. Ele já foi filiado a vários partidos. É um nome tradicional em partido não tão tradicional”, destaca, afirmando que há muitos nomes conhecidos que não estão em legendas tradicionais.
O especialista traçou um perfil dos candidatos a prefeito, apontando que o MDB é “super tradicional” na região. A legenda tem o senador Eduardo Braga, que apoia Amazonildo Mendes, do Podemos, que é quem lidera as pesquisas de intenção de voto. “É um cidadão conhecido, já foi governador e prefeito. Ele já foi filiado a vários partidos. É um nome tradicional em partido não tão tradicional”, destaca, afirmando que há muitos nomes conhecidos que não estão em legendas tradicionais.
Centro-Oeste
Em Goiânia, a expectativa é que o PSDB continue sem espaço, como já é historicamente. O domínio na prefeitura é tradicionalmente do MDB. Atualmente, o chefe do Executivo é Iris Rezende, político com ampla história na capital, que já foi governador e senador. Ele resolveu, neste ano, não disputar reeleição e anunciou sua aposentadoria na vida política aos 86 anos.
O doutor em ciências políticas e especialista em comportamento eleitoral Robert Bonifácio acredita que os tucanos perderão tanto prefeituras quanto em número de vereadores. “Sobre o MDB, acho que continuará sendo um partido relevante no estado como um todo e, em Goiânia, tem um candidato com chances de vitória, Maguito Vilela.”
Como Iris demorou a decidir sobre reeleição, muitos candidatos a vereador se filiaram ao MDB, em busca de apoio. E após anúncio, o atual prefeito também não pretende apoiar ninguém. “Ainda assim, Maguito se vende como o candidato da situação, mas sem apoio declarado. Um partido que deve crescer é o de Caiado, o DEM. Apesar de ser grande nacionalmente, em Goiás, nunca foi bem estruturado. O Caiado sempre foi DEM, sempre foi eleito, mas nunca conseguiu construir um partido forte. Agora, como governador, deve conseguir esse incremento”, avalia.
O doutor em ciências políticas e especialista em comportamento eleitoral Robert Bonifácio acredita que os tucanos perderão tanto prefeituras quanto em número de vereadores. “Sobre o MDB, acho que continuará sendo um partido relevante no estado como um todo e, em Goiânia, tem um candidato com chances de vitória, Maguito Vilela.”
Como Iris demorou a decidir sobre reeleição, muitos candidatos a vereador se filiaram ao MDB, em busca de apoio. E após anúncio, o atual prefeito também não pretende apoiar ninguém. “Ainda assim, Maguito se vende como o candidato da situação, mas sem apoio declarado. Um partido que deve crescer é o de Caiado, o DEM. Apesar de ser grande nacionalmente, em Goiás, nunca foi bem estruturado. O Caiado sempre foi DEM, sempre foi eleito, mas nunca conseguiu construir um partido forte. Agora, como governador, deve conseguir esse incremento”, avalia.
Sul
Um dos segredos das pequenas legendas para ganhar espaço nas eleições municipais no Brasil é a forte adesão de eleitores a candidatos provenientes do meio evangélico. E essa configuração se repete em Curitiba (PR), cidade mais populosa do Sul do Brasil, conforme o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná, Emerson Urizzi Cervi. Ele explica que com o fim das coligações, os partidos têm um número maior de candidatos a apresentar. E em Curitiba, apenas dois ou três partidos, “que são partidos de de igreja evangelica de direita”, conseguiram passar de 50 candidato a vereador.
“Os partidos tradicionais não estão conseguindo. MDB, PSDB e PT vão apresentar chapas bem menores que partidos pequenos. Isso em decorrência do fim das coligações”, explica. “Só que todo mundo sabia disso. Alguns trabalharam para ter um grande número de candidatos a vereador. Parece que os partidos pequenos ligados a igrejas evangélicas conseguiram melhores resultados do que os partidos tradicionais. Isso tem um pouco a ver, também, com o momento que nós estamos vivendo. Eu tenho impressão de que, pelo menos nas grandes cidades, isso vai se repetir”, pondera.
“Os partidos tradicionais não estão conseguindo. MDB, PSDB e PT vão apresentar chapas bem menores que partidos pequenos. Isso em decorrência do fim das coligações”, explica. “Só que todo mundo sabia disso. Alguns trabalharam para ter um grande número de candidatos a vereador. Parece que os partidos pequenos ligados a igrejas evangélicas conseguiram melhores resultados do que os partidos tradicionais. Isso tem um pouco a ver, também, com o momento que nós estamos vivendo. Eu tenho impressão de que, pelo menos nas grandes cidades, isso vai se repetir”, pondera.